Descoberta

Vênus: 'Possibilidade mais provável é atividade microbiana', diz astrônomo

A descoberta de fosfina na atmosfera de Vênus, acendeu a possibilidade de vida no planeta

Um estudo divulgado, nesta segunda-feira (14/9), na revista Nature Astronomy, revelou a descoberta de fosfina, que consiste em hidrogênio e fósforo, na atmosfera de Vênus. A substância é um tipo de gás considerado uma molécula rara, presente em assinaturas biológicas que podem indicar a presença de vida. De acordo com o doutor e pós-doutor em astronomia, professor do Centro Universitário FEI, Cassio Barbosa, o mais provável é que a descoberta indique atividade microbiana. 

O que foi descoberto em Vênus?
Uma bioassinatura, um subproduto ou produto da atividade biológica de bactérias que não precisam de oxigênio. Existem dois mecanismos conhecidos para a produção de fosfina. Ou remetem às bactérias ou a atividades geológicas, como vulcanismo e raios. Era mais fácil acreditar que a fosfina encontrada na atmosfera de Vênus seria um produto dessas atividades. Mas, para ter a quantidade encontrada — 20 partes por bilhão —, teria de ter um mecanismo ativo, em que esse material é recolocado na atmosfera. As moléculas são destruídas por várias razões, como calor, chuva de ácido sulfúrico… Nenhum raio, tempestade ou vulcão conseguiria repor a fosfina nessa proporção encontrada. Então, a possibilidade mais provável é a atividade microbiana nas nuvens.

O que significa uma suposta existência de vida na atmosfera de Vênus?
Em um passado muito antigo, Vênus era mais agradável. A vida se desenvolveu, e, assim como acontece na Terra, as ventanias, o intemperismo jogaram essas bactérias na atmosfera e elas ficaram lá. Quando muda o clima do planeta, a vida na superfície morre toda, mas essa colônia sobrevive nas nuvens. Então, o mais importante é que nessas condições horrorosas exista vida. A atmosfera não é um lugar propício para a vida, nunca se imaginou que poderia haver um tipo de vida que sobrevive apenas na atmosfera mais resiliente e persistente. Isso aumenta a chance de se encontrar vida em outros lugares, como Marte e Europa (a lua de Júpiter).

Existe algum instrumento que consiga detectar diretamente essas moléculas?
Hoje, não. Essa descoberta deve impulsionar o financiamento de pesquisas de instrumentos com esse objetivo. É outra coisa importante na descoberta: a importância de se financiar pesquisas que levam a descobertas como essa, que, ainda que não tenha uma aplicação prática, responde a uma pergunta feita há muito tempo. Essa é uma forte candidata a um Nobel. (PO)