OUTUBRO ROSA

Mulheres vencem o câncer de mama e alertam para a importância do diagnóstico precoce

No mês de combate ao câncer de mama, pacientes relembram o tratamento e alertam para os riscos da doença, que pode ser fatal e silenciosa

Bruna Yamaguti*
postado em 13/10/2020 17:20
Linda (esq.), Maria (centro) e Bianca (dir.) venceram o câncer de mama -  (crédito: Reprodução)
Linda (esq.), Maria (centro) e Bianca (dir.) venceram o câncer de mama - (crédito: Reprodução)

“No geral, a minha vida é assim, cheia de emoções”, é o que conta, com bom humor, a servidora pública aposentada Linda Mendes, 59 anos, diagnosticada com câncer de mama em 2016. Sem sintomas, a detecção da doença só foi possível graças aos exames de rotina, que acusaram microcalcificações profundas, impossíveis de serem sentidas com o toque. O Outubro Rosa, mês de combate ao câncer de mama, vem não apenas para alertar, mas para conscientizar sobre a importância da prevenção, e chamar a atenção para mulheres guerreiras, que já venceram ou vencem diariamente essa luta, com muita força e resiliência.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, a estimativa é de que o Brasil terá mais de 66,2 mil novos casos de câncer de mama em 2020. Segundo o órgão, houve ainda uma queda de 84% no número de mamografias feitas no país durante a pandemia do novo coronavírus, em comparação ao mesmo período do ano passado. Os dados são preocupantes, uma vez que o diagnóstico precoce é fundamental para o bom controle da doença, a que mais acomete as mulheres do Brasil.

A partir de uma mamografia feita em 2015, foi possível identificar alterações nas mamas de Linda, que precisou realizar uma adenomastectomia, mesma cirurgia feita pela atriz Angelina Jolie. “A minha sorte é que eu sou uma pessoa que costuma prezar pela saúde e cuidar muito da prevenção. Tudo o que eu posso fazer para evitar um problema maior, eu faço”, explica a paciente. “Fiz a cirurgia dois meses após o diagnóstico e o mamilo não pôde ser aproveitado, por precaução, mas existem várias técnicas de reconstrução. A minha técnica, no entanto, foi a de não reconstruir. Tatuei uma flor de lótus nas mamas, porque essa flor só nasce em locais difíceis. Então onde havia um câncer em mim, nasceu a flor de lótus”, conta.

Depois de criar a filha, que hoje tem 32 anos, trabalhar por longos anos e vivenciar tantas experiências, boas e ruins, Linda se orgulha de dizer que agora vive apenas para si. Os cabelos grisalhos deram lugar a belas madeixas azuis, que expressam bem a alegria e a boa energia emanadas por ela. “Ter um câncer não foi um problema, porque o meu foco é a solução. Tudo que você alimenta cresce, então se você foca na solução, ela vai aumentar e te deixar mais apto para resolver qualquer situação”, relata a ex-servidora, que completa: “A gente tem que entender que precisamos viver o agora. O passado já foi, o futuro é ansiedade. Temos que viver o presente, aproveitar a vida, aproveitar para ser feliz hoje”.

Também sem sintoma algum, a dona de casa Maria Neres, 54, descobriu o câncer por meio dos exames que realizava uma vez por ano, sob o acompanhamento do ginecologista. “O tratamento foi muito difícil, muito doloroso. Passei quase um ano fazendo quimioterapia, com todos os efeitos colaterais ruins”, lembra Neres, que alerta para a importância da prevenção: “Os exames são muito importantes. Eu os fazia de ano em ano e o nódulo apareceu em questão de oito meses. A minha vida mudou muito em todos os sentidos, mas eu tirei muitas lições positivas de tudo, de como pensar, de como agir, de ser mais cautelosa. Lições de vida que vou levar pra sempre. A gente precisa ser forte para enfrentar, pois o tratamento também depende muito de nós”.

Sintomas de alerta
Sintomas de alerta (foto: CB/D.A Press)

Intuição

Ao contrário de Linda e Maria, que eram assintomáticas, a servidora pública Bianca Pagotto, 37 anos, identificou um nódulo em uma das mamas e logo percebeu que havia algo errado. Com apenas 27 anos, recebeu o diagnóstico. “Não tinha histórico familiar de câncer e estava tranquila, mas minha intuição chamava a atenção para algo. Em 2011, fui submetida a uma mastectomia, depois passei por 6 ciclos de quimioterapia, seguidos de 28 sessões de radioterapia. Nesse intervalo, também ocorreu um tratamento para preservar a fertilidade”, detalha Bianca, que precisou realizar ainda uma cirurgia na outra mama.

Apesar dos sucessivos momentos de sufoco, a moça não se deixou abalar e jamais perdeu o espírito animado e aventureiro. Nascida em uma cidade no interior de Goiás, ela já viajou o Brasil e o mundo, mas acabou se estabelecendo em Brasília, onde casou-se e teve um filho, hoje com sete meses. “Eu aprendi a ouvir mais minha voz interior, a pisar no freio. Busco me importar menos com coisas que não valem a pena. Me espiritualizei e tornei-me mais aberta para os diferentes modos de enxergar e resolver as situações que a vida nos apresenta”, afirma.

De frente com elas

O que Linda, Maria Neres e Bianca têm em comum, além de serem vencedoras na luta contra o câncer de mama, é que todas fizeram parte do projeto ‘De Frente Com Elas’, uma iniciativa da médica mastologista Josélia Carvalhaes. Todas as terças-feiras dos meses de agosto e setembro, uma paciente era convidada a contar a sua história em lives postadas no Instagram da médica (@joselia.carvalhaes), que tinha como principal intuito alertar as mulheres para a importância de conhecer o próprio corpo e reconhecer qualquer tipo de alteração suspeita.

A profissional acrescenta que o quadro também tem o objetivo de empoderar as mulheres e destacar suas individualidades: “A ideia é mostrar essa energia, essa força e o quanto essas mulheres são guerreiras. Elas passaram por tudo isso e hoje estão lindas e maravilhosas”, explica. “As pacientes amaram contar as suas histórias. O Outubro Rosa para mim é sempre bem intenso, todo ano faço alguma coisa em prol das pacientes, no que diz respeito à detecção precoce e à prevenção”, comenta a médica.

Médica Josélia Carvalhaes
Médica Josélia Carvalhaes (foto: Reprodução)

Josélia diz ainda que as chances de o tratamento evoluir de forma positiva aumentam caso o diagnóstico seja feito com antecedência: “Quando as pacientes fazem os exames de rotina, é possível identificar lesões representativas de uma patologia maligna e conseguimos intervir para que ela não se desenvolva e não se espalhe para outros órgãos”.

“Todas as mulheres não só merecem, mas têm o direito de se sentirem cada vez mais mulheres empoderadas e, sobretudo, mulheres saudáveis”, completa a profissional.

*Estagiária sob supervisão de Fernando Jordão

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