SAÚDE

Estudos mostram formas eficazes de deixar a covid-19 longe das salas de aula

Estudo demonstra que procedimentos simples, como deixar as janelas abertas e equipar carteiras escolares com placas de vidro, podem reduzir o risco de transmissão do Sars-CoV-2. Outra pesquisa indica que, quanto mais tempo no ambiente, maior a concentração de aerossóis

Paloma Oliveto
postado em 21/10/2020 06:00
 (crédito:  AFP / POOL / Thomas COEX)
(crédito: AFP / POOL / Thomas COEX)

Com as escolas do mundo todo voltando a receber crianças e jovens ao mesmo tempo em que o número de infecções por covid-19 continua em alta, pesquisadores estudam formas de minimizar os riscos dentro das salas de aula. Dois estudos recentes — um deles publicado ontem — fizeram simulações para apontar formas eficazes de evitar, ao máximo, a circulação e a transmissão do Sars-CoV-2. Ambos têm como foco os aerossóis — nesse caso, a nuvem de micropartículas contendo o vírus, formada durante a expiração, a fala, tosse ou o espirro. Desde o início da pandemia, estabeleceu-se que essa é uma das principais formas de propagação do micro-organismo.

Para tentar mitigar a transmissão do Sars-CoV-2 nas salas de aula, um grupo da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, valeu-se da física de partículas e avaliou o transporte de aerossóis e gotas em diferentes configurações do ambiente. Em um artigo publicado na revista Physics of Fluids, da Associação Internacional de Física, os cientistas relatam que uma medida simples pode reduzir a circulação do vírus: abrir as janelas.

“Em ambientes internos, algumas das partículas geradas saem do sistema por meio de ventilação, algumas se depositam nas superfícies da sala e podem se depositar ou reentrar no ar e outras podem ser inaladas diretamente”, diz um dos autores, o engenheiro nuclear Khaled Talaat. “O principal interesse para as medidas de mitigação é maximizar a fração de partículas que saem do sistema e minimizar a deposição de aerossol nas pessoas, para reduzir a transmissão de doenças”, acrescenta.

No estudo, o grupo de pesquisadores utilizou modelos computacionais de fluidos-partículas para estudar o transporte de aerossol em uma sala de aula ventilada por ar condicionado e frequentada por nove estudantes, além de um professor. O ambiente tinha 18 metros quadrados e 3m de pé direito. “Nós investigamos os efeitos do tamanho da partícula, da posição do estudante, de barreiras de vidro e da existência de janelas sobre o destino das partículas de aerossol exaladas”, afirma o pesquisador. Os cientistas concentraram-se nas partículas de 1 mícron, tamanho das exaladas quando se fala.

Segundo Talaat, quase 70% das partículas desse tamanho saem do ambiente quando as janelas estão abertas. “O filtro do ar condicionado remove até 50% das partículas liberadas durante a expiração e a fala, mas o resto se deposita nas superfícies do cômodo e pode reentrar no ar”, explica.
As partículas, afirma o cientista, são transmitidas em quantidades significativas (até 1% expiradas são absorvidas por outras pessoas) entre os alunos, mesmo a 2,4m de distância de separação. Isso acontece devido ao fluxo de ar. “A posição do aluno na sala afeta a probabilidade de transmissão e o recebimento de partículas entre as pessoas”, assinala.

O cientista conta que ele e os colegas ficaram surpresos ao descobrir que telas de vidro colocadas em frente às carteiras “reduziram significativamente” a transmissão de partículas de 1 mícron de um aluno para outro. “As telas não impedem a circulação das partículas diretamente, mas afetam o campo de fluxo de ar local próximo à fonte, o que muda as trajetórias das partículas”, diz. “Sua eficácia depende da posição da fonte em relação aos difusores de ar condicionado”, destaca.

Segurança

Para a reabertura de escolas, o grupo recomenda manter as janelas abertas quando possível e instalar as telas de vidro na frente das carteiras. “Os alunos com maior risco de complicações, caso tenham covid-19, podem ficar sentados onde serão expostos a menos partículas, o que dependerá do layout do ar condicionado da sala. Em nosso modelo, os cantos traseiros são os locais mais seguros”, afirma Talaat.

O grupo destaca a importância da higienização das mãos — mesmo sem o contato com os pertences de outros alunos — pois partículas podem ser transmitidas de um aluno para a carteira ou a roupa de outro estudante, por exemplo, mesmo quando se mantém separados por uma distância de 2,4m.
O trabalho também destaca a importância de sistemas eficazes de filtração e esterilização em aparelhos de ar condicionado. “Dada a importância do ar condicionado, há potencial para otimização dos sistemas HVAC nas salas de aula ao máximo”, enfatiza o cientista. Esse é um sistema de filtragem industrial que remove micropartículas do ambiente.

Há uma semana, uma equipe da Universidade de Clarkson, em Nova York, divulgou no site The Independent o resultado de um pequeno experimento realizado em uma sala de aula da instituição. O engenheiro aeronáutico Suresh Dhaniyala injetou micropartículas inofensivas no ambiente, que estava completamente vazio, e passou a monitorar a circulação delas pela sala, ventilada por ar condicionado. Passados 15 minutos, as partículas atingiram o fundo da sala, a cerca de 6,1m do ponto de origem. Porém, a concentração foi 10 vezes menor do que a registrada nas primeiras fileiras, onde elas foram liberadas.

Os pesquisadores continuaram observando o fluxo das partículas. Eles notaram que, mesmo com o mecanismo de ventilação funcionando perfeitamente, com o passar do tempo, a concentração de aerossóis no ar tornou-se maior (mesmo no fundo da sala). “Portanto, em uma aula de uma hora de duração, por exemplo, em breve toda a sala poderá ter esses minúsculos aerossóis circulando em quantidades perigosas”, conclui Dhaniyala.

 

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Cientistas defendem esclarecimentos sobre vacina

Enquanto boa parte do mundo espera, ansiosamente, a vacina para covid-19, muitas pessoas ainda desconfiam de um futuro imunizante, atesta um artigo publicado na revista Nature. Os cientistas pedem que governos atuem para esclarecer a população, pois esse sentimento pode pôr em risco o sucesso de uma ampla cobertura vacinal.

“Na maioria dos 19 países estudados, os atuais níveis de aceitação de uma vacina contra a covid-19 são insuficientes para responder às demandas de imunidade coletiva”, advertem os autores da pesquisa realizada em junho e divulgada ontem. Pelo menos 72% das 13,4 mil pessoas entrevistadas disseram que se imunizariam, se “uma vacina disponível contra a covid-19 comprovasse sua eficácia e segurança”. Já 14% responderam que negariam-se, e outros 14% mostraram-se indecisos.

A taxa de aceitação está crescendo com força, com Brasil, China e África do Sul registrando 80%; França 58,8%, Polônia 56,3%, e Rússia 54,8%, de acordo com o artigo “Descobrimos que o problema da indecisão em relação à vacina está fortemente relacionado a uma falta de confiança no governo”, comentou um dos coordenadores do estudo, Jeffrey V. Lazarus, pesquisador do Instituto de Saúde Global de Barcelona.

Para liderar campanhas de prevenção eficazes, os pedem para que se dê “uma explicação cuidadosa sobre o nível de eficácia de uma vacina, o tempo necessário para proteção (com doses múltiplas, se necessário) e a importância da cobertura de toda população para obter imunidade coletiva”.

Infecção voluntária

No Reino Unido, pesquisadores planejam infectar voluntários com o coronavírus para avançar na busca de uma vacina e de possíveis tratamentos contra a doença. Já usado para outras doenças, esse método ainda não foi empregado na resposta à covid-19.

O primeiro passo do projeto, liderado pelo Imperial College de Londres, é analisar a viabilidade de expor voluntários saudáveis, de 18 a 30 anos, sem fatores de risco ao Sars-CoV2. A fase inicial tem como objetivo determinar qual a quantidade de vírus provoca sintomas em uma pessoa. Depois, os cientistas pretendem estudar como funcionam as vacinas no organismo, para deter ou prevenir a covid-19. Também farão uma observação dos tratamentos potenciais e estudarão a resposta do sistema imunológico.

“A nossa prioridade é a segurança dos voluntários”, afirmou Chris Chiu, que coordena a pesquisa no Departamento de Doenças Infecciosas do Imperial College de Londres. O especialista destacou que, há 10 anos, sua equipe realiza estudos do tipo sobre vírus respiratórios.

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