O plástico é um dos materiais mais presentes em nosso cotidiano. O produto maleável é usado pela indústria para fabricar diversos utensílios com os mais variados objetivos. Em um novo estudo sobre o material, publicado pela revista científica Nature food, oito pesquisadores de Dublin, na Irlanda, alertam sobre o consumo diário de micropartículas de plástico por bebês durante a ingestão de leite e fórmulas preparadas em mamadeiras feitas a partir do material.
Os pesquisadores da Trinity College Dublin e da University College Dublin demonstraram, a partir de teste químicos e físicos, que “a exposição infantil a microplásticos é maior do que o anteriormente reconhecida, devido à prevalência de produtos à base de polipropileno (PP) usados na preparação de fórmulas”. Segundo a publicação, o objetivo do estudo é “destacar a necessidade urgente de avaliar se a exposição a microplásticos nesses níveis representa um risco para a saúde infantil”. Os próprios pesquisadores observam que o estudo não determinou quaisquer implicações na saúde dos bebês, e que eles não querem alarmar os pais.
De acordo com a pesquisa, o polipropileno é considerado um plástico seguro e adequado para muitas aplicações, sendo o mais utilizado, em todo o mundo, em recipientes destinados à preparação de alimentos e armazenamento. As mamadeiras utilizadas pelas crianças são produzidas com esse material. “Para avaliar a prevalência de mamadeiras feitas com polipropileno, extraímos dados de vendas de sites líderes locais (os dados de cada site da Amazon foram extraídos usando a plataforma Jungle Scout, enquanto os dados de sites não-Amazon foram coletados diretamente das páginas) de 48 regiões, cobrindo 77,6% da população global.”
Para realizar os testes, os frascos foram esterilizados seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). “As mamadeiras são rotineiramente expostas a água em alta temperatura e agitadas durante os procedimentos de preparação da fórmula. A força de atrito mecânico pode quebrar o polipropileno em micropartículas que se misturam ao conteúdo líquido e são ingeridas pelo bebê”, aponta o estudo. O resultado dos testes concluiu que entre 1,3 milhão e 16,2 milhões de partículas microplásticas, por litro, foram liberadas pelos frascos durante o processo de esterilização dos frascos.
O efeito dos microplásticos na saúde humana é atualmente pouco compreendido. Para o novo estudo, pesquisadores compraram 10 mamadeiras que foram testadas durante 21 dias, estimando as taxas locais de não amamentação, o volumes de ingestão de leite e a exposição global de bebês de até um ano.
Na média, ficou estimado que as crianças “na África e na Ásia têm o menor potencial de exposição a microplásticos de mamadeiras, com taxas de 527 mil e 893 mil partículas por dia, respectivamente". "Crianças na América do Sul apresentam níveis médios de exposição (1.010.000 partículas por dia), enquanto Oceania, América do Norte e Europa apresentam os níveis mais elevados, correspondendo a 2.100.000, 2.280.000 e 2.610.000 partículas por dia, respectivamente. Esse nível médio corresponde a cerca de 2.600 vezes o consumo adulto total de microplásticos ingeridos na água, alimentos e ar (até 600 partículas por dia para adultos)”, indica a pesquisa.
Durante o estudo também foi levado em conta que crianças amamentadas durante mais tempo têm níveis menores de contaminação por microplásticos. No entanto, caso a mãe use kits de bomba para tirar o leite e o coloque em mamadeiras ainda podem existir riscos potenciais.
“O fato de que todos os produtos de polipropileno testados em nosso estudo (mamadeiras, chaleiras, lancheiras e copos de macarrão) liberaram níveis semelhantes de microplásticos aponta para uma necessidade urgente de soluções tecnológicas. Deve haver agora um foco imediato para avaliar o risco potencial de microplásticos e nano plásticos para a saúde humana e para desenvolver tecnologias de fabricação de plástico que geram produtos que não são facilmente degradados pela água ou pelo meio ambiente,” destacam os pesquisadores.
Cuidados necessários para o uso das mamadeiras
Durante a pesquisa, foi descoberto que o uso do microondas pode aumentar substancialmente os níveis de microplásticos no líquido dentro do recipiente, devido à geração de micro-bolsas localizadas de água superaquecida. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda fortemente não usar o microondas para evitar aquecimento desigual da mamadeira.”
“A OMS e a Agência de Padrões Alimentares do Reino Unido recomendam que a temperatura da água para a preparação da fórmula não seja inferior a 70°C para reduzir os riscos de exposição a bactérias na fórmula em pó, que têm sido associadas a doenças graves e até mortes em bebês”, afirmam os cientistas. Os pesquisadores recomendam, então, que as fórmulas para consumo dos bebês sejam preparadas em materiais não plásticos e que, após resfriarem a temperatura ambiente, o líquido seja transferido para a mamadeira.
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