Antropologia

Desmame dos neandertais era igual ao do homem moderno

Com a combinação de análises geoquímicas e histológicas de dentes de leite da espécie, os pesquisadores conseguiram determinar o ritmo de crescimento e o tempo de início do desmame de três pequenos Homos neanderthalenses diferentes, que viveram entre 70 mil e 45 mil anos atrás

Correio Braziliense
postado em 03/11/2020 06:00
 (crédito: ERC project SUCCESS, University of Bologna, Italy/Divulgação)
(crédito: ERC project SUCCESS, University of Bologna, Italy/Divulgação)

Extintos há cerca de 50 mil anos, os neandertais não se comportavam de maneira muito diferente do seu primo próximo, o homem moderno, ao criar seus filhos, descobriu uma equipe europeia de cientistas. Com a combinação de análises geoquímicas e histológicas de dentes de leite da espécie, os pesquisadores conseguiram determinar o ritmo de crescimento e o tempo de início do desmame de três pequenos Homos neanderthalenses diferentes, que viveram entre 70 mil e 45 mil anos atrás, em uma pequena área do nordeste da Itália. O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).

Os dentes crescem e registram informações na forma de linhas de crescimento — semelhantes aos anéis de árvores — que podem ser lidas por meio de técnicas histológicas. Combinando essas informações com dados químicos obtidos com um espectrômetro de massa a laser — em particular, as concentrações de estrôncio — os cientistas mostraram que esses neandertais introduziram alimentos sólidos na dieta de seus filhos por volta dos 5 a 6 meses de idade.

Alessia Nava, da Universidade de Kent, no Reino Unido, lembra que o início do desmame está relacionado à fisiologia, e não a fatores culturais. “Nos humanos modernos, de fato, a primeira introdução de alimentos sólidos ocorre por volta de 6 meses de idade, quando a criança necessita de um suprimento alimentar mais energético, e é compartilhado por diferentes culturas e sociedades. Agora, sabemos que também os neandertais começaram a desmamar seus filhos quando os humanos modernos o fazem”, afirma. “Em particular, em comparação com outros primatas, é altamente concebível que a alta demanda de energia do cérebro humano em crescimento desencadeie a introdução precoce de alimentos sólidos na dieta infantil”, complementa Federico Lugli, da Universidade de Bolonha e coautor do trabalho.

Semelhança


Os neandertais são nossos primos mais próximos na árvore evolutiva humana. No entanto, seu ritmo de crescimento e as restrições metabólicas no início da vida ainda são altamente debatidos na literatura científica. “Os resultados desse trabalho implicam demandas de energia semelhantes durante a primeira infância, e um ritmo próximo de crescimento entre o Homo sapiens e os neandertais. Juntos, esses fatores possivelmente sugerem que os recém-nascidos neandertais tinham peso semelhante ao dos humanos modernos, apontando para uma provável história gestacional semelhante”, diz Stefano Benazzi, também da Universidade de Bolonha.

Os três dentes de leite analisados no estudo foram encontrados em uma área limitada do nordeste da Itália, entre as atuais províncias de Vicenza e Verona: nas Broion, Fumane e De Nadale. Além da dieta e crescimento inicial, os cientistas coletaram dados sobre a mobilidade regional desses neandertais usando análises de isótopos de estrôncio.

“Eles eram menos móveis do que sugerido anteriormente por outros acadêmicos”, diz Wolfgang Müller, da Universidade Goethe, em Frankfurt, acrescentando: “A assinatura do isótopo de estrôncio registrada em seus dentes indica, de fato, que eles passaram a maior parte do tempo perto de suas casas: isso reflete um modelo mental muito moderno e um provável uso cuidadoso dos recursos locais.”

“Apesar do resfriamento geral durante o período de estudo, o nordeste da Itália quase sempre foi um lugar rico em alimentos, variabilidade ecológica e cavernas, em última análise, explicando a sobrevivência dos neandertais nessa região até cerca de 45 mil anos atrás”, destaca Marco Peresani, da Universidade de Ferrara, responsável pelas descobertas de escavações arqueológicas em De Nadale e Fumane. Segundo os autores, a pesquisa adiciona uma nova peça às intrigantes imagens do Neandertal, uma espécie humana tão próxima do homem moderno, mas ainda tão enigmática.

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