Corona vírus

Imunidade de infectados dura, ao menos, seis meses

Constatação feita por cientistas britânicos tem como base o acompanhamento de 12.180 profissionais de saúde durante 30 semanas. O resultado sinaliza que são fortes as chances de desenvolvimento de proteções duradouras contra o Sars-CoV-2

Correio Braziliense
postado em 20/11/2020 22:01
 (crédito: Pierre Teyssot/AFP)
(crédito: Pierre Teyssot/AFP)

A reinfecção pelo novo coronavírus segue intrigando especialistas, já que poucos casos foram registrados até o momento. Para entender melhor esse fenômeno, pesquisadores britânicos acompanharam infectados pelo Sars-CoV-2 com maior probabilidade de manter o contato com o micro-organismo: profissionais da área médicas. Com base nas observações, a equipe concluiu que pode demorar ao menos seis meses para que uma pessoa contraia novamente o causador da covid-19.

A investigação foi conduzida por cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que contaram com a colaboração dos dois hospitais universitários da instituição de ensino. Os cientistas testaram regularmente 12.180 profissionais de saúde dos centros médicos durante um período de 30 semanas, entre os meses de abril e novembro. Do grupo, 1.246 pessoas (cerca de 10%) obtiveram resultado positivo para a infecção pelo coronavírus, com registro de produção de anticorpos de defesa.

Durante o período em que foram acompanhados, três (0,2% dos infectados) testaram positivo para um segundo contágio, que não evolui para quadros graves. “Não detectamos nenhuma infecção sintomática nos participantes que tiveram um segundo resultado positivo no final das análises, algo muito animador”, ressalta, em comunicado, David Eyre, professor do Departamento de Saúde Pública da universidade e um dos autores do estudo. O trabalho foi divulgados ontem, mas ainda precisa ser revisado por especialistas.

Para a equipe, os resultados confirmam a observação feita por muitos profissionais de saúde de que, embora 56,6 milhões de pessoas já tenham sido infectadas pelo coronavírus em todo mundo, os casos de reinfecção seguem sendo relativamente baixos. São “notícias muito boas”, avalia David Eyre. “Podemos ficar seguros de que, pelo menos a curto prazo, a maioria das pessoas que apresentam a covid-19 não voltará a contraí-la.”

Vacina

Os pesquisadores de Oxford ainda não reuniram dados suficientes para fazer um julgamento sobre o que acontece após o sexto mês. Felizes com os resultados — eles destacam que o trabalho é resultado do acompanhamento de um grupo grande de voluntários —, os investigadores lembram que ainda não é possível quantificar o risco de uma pessoa sofrer com uma segunda infecção pelo novo coronavírus.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) celebrou a descoberta, afirmando que amplia a compreensão sobre a imunidade contra o Sars-CoV-2. “Elogiamos os pesquisadores por fazerem esses estudos”, declarou Michael Ryan, um dos pesquisadores líderes da organização internacional. Ryan considerou que essa descoberta gera “esperanças de que haja períodos maiores de proteção” quando houver uma vacina.

Os dados de Oxford estão em concordância com uma pesquisa divulgada na semana passada também por cientistas britânicos. Pesquisadores do grupo Uk Coronavirus Immunology Consortium analisaram dados de 2 mil pessoas que tiveram covid-19 na Inglaterra e observaram que a produção de células T, que combatem a complicação, se manteve por até seis meses, sendo 50% maior em pessoas que apresentaram um quadro sintomático. Porém, uma outra pesquisa feita no Instituto Ipsos Mori, também inglês, mostra que a imunidade adquirida pela infecção pelo Sars-CoV-2 diminui “rapidamente”, principalmente em pacientes assintomáticos, durando apenas alguns meses.

"Podemos ficar seguros de que, pelo menos a curto prazo, a maioria das pessoas que apresentam a covid-19 não voltará a contraí-la”
David Eyre, pesquisador da Universidade de Oxford

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Ameaça igual à pandemia


O aumento de micróbios que não sucumbem aos remédios disponíveis é tão ameaçador à saúde pública quanto uma pandemia, alertou ontem a Organização Mundial da Saúde (OMS). A agência, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), lançou um grupo de alto nível “encarregado de combater a crise que se acelera de resistência os medicamentos”.

Esse grupo reunirá chefes de Estado, ministros e líderes de empresas e organizações da sociedade civil, em um esforço para combater um problema que é considerado, pela ONU, um dos 13 principais desafios globais de saúde da próxima década.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, disse que a resistência aos antimicrobianos “é uma das maiores ameaças para a saúde do nosso tempo”. “Poderia destruir um século de progressos médicos e nos deixa indefesos diante de infecções que hoje podem ser tratadas facilmente”, justificou.

A agência estima que 700 mil mortes são registradas, todos os anos, devido à perda de eficácia de drogas para tratar doenças como tuberculose e malária. Se medidas de controles não forem tomadas, especialistas acreditam que esse número pode subir para 10 milhões. Os antimicrobianos são armas essenciais para combater doenças em humanos, mas também em animais e plantas. As drogas incluem antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiparasitários.

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