A sonda chinesa Chang’e-5 pousou em solo lunar ontem, onde deverá recolher amostras de poeira e rochas e trazê-las à Terra. Aqui, será possível analisar o material coletado e entender melhor as origens do satélite e a atividade vulcânica que ocorre em sua superfície. Se tiver sucesso na empreitada, a China se tornará o terceiro país a extrair material do local, depois dos Estados Unidos, na década de 1960, e da ex-União Soviética, em 1970. O bilionário programa espacial chinês não para por aí. Os planos são de alcançar Europa, Rússia e EUA na corrida espacial e enviar astronautas à Lua até 2030.
O anúncio do pouso bem-sucedido foi feito pela agência de notícias Xinhua. De acordo com o periódico, a sonda Chang’e-5 “alunizou no lado visível da Lua com sucesso”. A espaçonave, que foi batizada em homenagem a uma antiga deusa chinesa da Lua, decolou, no dia 24, da base espacial de Wenchang, localizada na ilha tropical de Hainan. Chang’e-5, que pesa cerca de oito toneladas, foi enviada ao espaço por meio do foguete Longa Marcha-5.
A expectativa da equipe é de que a sonda consiga coletar dois quilos de material da superfície lunar em uma área inexplorada conhecida como oceanus procellarum. A vasta planície de lava também é chamada de mar das tormentas. A nave deverá recolher o material em um dia lunar, o equivalente a cerca de 14 dias na Terra.
“Os cientistas chineses e os de outros países terão a oportunidade de obter, para pesquisa, amostras lunares transportadas pelo Chang’e 5. Mas, para a China, os objetivos, em termos de engenharia, são, talvez, mais importantes”, declarou Pei Zhaoyu, um dos coordenadores do projeto de exploração lunar chinesa, à Agência France-Presse (AFP) de notícias.
Operação inédita
Chang’e 5 não é a primeira tentativa de trazer para a Terra rochas lunares. Os Estados Unidos também coletaram amostras da Lua durante a missão tripulada Apolo 17, em 1972, que foram recolhidas pelos astronautas. Em 1976, a missão russa Luna 24, também enviou uma sonda para recolher o material e obteve êxito.
Naelton Mendes de Araújo, astrônomo e professor da Fundação Planetário do Rio de Janeiro, explica que a missão chinesa tem uma característica diferente das anteriores. “Buscar amostras lunares é uma tarefa que não nos surpreende tanto porque já foi feita no passado, mas, agora, temos uma nova forma de recolher esse material. O objetivo dos chineses é fazer com que essa sonda possa escavar para retirar o solo mais profundo da Lua, e isso ainda não foi feito”, explicou. “As missões anteriores retiraram apenas a terra que estava solta na superfície, o procedimento de agora é um pouco mais complicado.”
Retorno complexo
O retorno à Terra também deve ser mais trabalhoso. As amostras recolhidas serão colocadas, primeiro, em um compartimento que alcançará a órbita da Lua e, só depois, serão transferidas para uma cápsula que as levará para a Terra. “Isso não foi feito antes e é, efetivamente, bastante difícil”, afirmou Jonathan McDowell, astrônomo do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, nos Estados Unidos, à agência AFP.
No caso da missão soviética, por exemplo, a sonda fez um retorno direto. Jonathan McDowell acredita que, se a metologia chinesa funcionar, será um avanço para futuras missões espaciais. “Em caso de sucesso, o sistema robotizado de retorno de amostras se transformará no mais flexível e eficaz”, avaliou. A expectativa é de que a operação de volta aconteça em meados de dezembro.
Segundo Naelton Araújo, a volta para a Terra é um desafio ainda maior que o pouso na Lua. “É um processo que envolve estágios de descida e subida, além de entrar e sair de uma órbita, algo trabalhoso”, justificou. “Nós também não sabemos ao certo como essa nave realizará essa volta. Isso porque a China não tem como costume revelar todos os detalhes dos seus projetos. Por isso, não conseguimos entender os processos desenvolvidos por eles para realizar essa tarefa. É muito difícil especular quanto a essa volta, só podemos esperar para ver como será.”
O especialista brasileiro acredita que a China deverá ser a protagonista de outros feitos astronômicos. “É bem provável que eles queiram enviar uma nova aeronave com tripulantes para a Lua em pouco tempo. Acredito que, até 2030, vão alcançar esse objetivo, que foi a meta estabelecida por eles para chegar a esse feito”, opinou.
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Também no escuro
É a segunda vez que a China consegue colocar, com sucesso, uma sonda na superfície lunar. No início de 2019, a sonda Chang’e-4 pousou no lado escuro da Lua, aquele que não pode ser visto da Terra. O dispositivo conseguiu detectar vestígios de dois minerais, chamados olivina e pirozena. Com baixo teor de cálcio, eles podem ter como origem as “entranhas” do satélite. As descobertas foram apresentadas na revista britânica Nature. Chang’e-4 também realizou alguns experimentos biológicos na superfície lunar, como a germinação de sementes de algodão.