Pandemia

Conjunção de fatores protege crianças do coronavírus

» Paloma Oliveto
postado em 02/12/2020 22:17 / atualizado em 02/12/2020 22:21
 (crédito: Leonardo Munoz/AFP - 23/9/20)
(crédito: Leonardo Munoz/AFP - 23/9/20)

Com quase 10 meses de pandemia da covid-19, declarada oficialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em fevereiro, ainda não há consenso sobre como a doença afeta as crianças. Diferentemente do que acontece com outros vírus respiratórios, o Sars-CoV-2 parece ser muito menos agressivo nos pacientes pediátricos, com poucos casos de agravamento do quadro e de óbitos.

Agora, pesquisadores da Universidade de Melbourne, na Austrália, e da Universidade de Friburgo, na Alemanha, fizeram uma ampla revisão dos estudos sobre o tema, publicada na revista Archives of Disease in Childhood. Eles apontam as diferenças no sistema imunológico, na microbiota e no sistema circulatório que podem explicar o porquê de crianças parecerem mais protegidas contra a covid-19 do que os adultos.

“A maioria das crianças com covid-19 não apresenta sintomas ou tem apenas sintomas leves, mais comumente febre, tosse, dor de garganta e alterações no olfato ou paladar”, diz Nigel Curtis, pesquisador do Instituto de Pesquisa Pediátrica Murdoch, na Austrália, e coautor do artigo. “Mesmo aquelas com os fatores de risco usuais para infecções graves, como imunossupressão, não parecem em alto risco para covid-19 grave”, destaca.

Em primeiro lugar, diz Curtis, os fatores de risco para a forma mais severa da doença incluem condições como diabetes e obesidade, que não são comuns em crianças. Além disso, nos pacientes mais afetados, há formação de coágulos, que podem causar derrames e ataques cardíacos, sendo que danos preexistentes nos vasos sanguíneos favorecem essas intercorrências. Nos pequenos, as células endoteliais que revestem órgãos e vasos linfáticos naturalmente estão mais bem preservadas do que nos adultos, o que explicaria a não ocorrência de problemas circulatórios graves nos pacientes pediátricos.

Vantagem imunológica

“Crianças infectadas com Sars-CoV-2 frequentemente apresentam coinfecções com outros vírus. Infecções virais recorrentes podem levar a uma imunidade melhorada, tornando-as mais eficazes na eliminação do vírus”, explica Petra Zimmermann, da Universidade de Friburgo, destacando o papel do sistema imunológico. Além disso, a imunização mais recente com vacinas vivas, como a tríplice (contra sarampo, caxumba e rubéola) pode impulsionar a atuação das defesas naturais, ajudando na proteção contra o vírus.

Zimmermann também diz que diferentes níveis de microbiota na garganta, no nariz, nos pulmões e no estômago influenciam a suscetibilidade à covid-19, e crianças costumam ter uma flora bacteriana mais rica do que adultos. “A microbiota desempenha um papel importante na regulação da imunidade, inflamação e na defesa contra doenças”, diz. “As crianças são mais propensas a terem vírus e bactérias, especialmente no nariz.”

Por fim, o nível de vitamina D, pró-hormônio com propriedades anti-inflamatórias, também é geralmente mais alto em crianças. “Em muitos países, a vitamina D é rotineiramente suplementada em bebês menores de um 1 ano, e, em alguns, até mesmo com a idade de 3 anos”, completa Zimmermann.


"Infecções virais recorrentes podem levar a uma imunidade melhorada,
tornando-as (as crianças) mais eficazes na eliminação do vírus”

Petra Zimmermann, pesquisadora da Universidade de Friburgo

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