CIÊNCIA

Argumentar que máscaras e distanciamento protegem familiares é mais eficiente que punição

Convencer as pessoas de que o respeito às regras de distanciamento e de uso de máscaras ajuda a proteger os seus familiares surte mais efeito do que apelar para que elas sigam as normas para não serem punidas, mostra pesquisa americana

Correio Braziliense
postado em 19/12/2020 06:00
 (crédito: AFP / ERNESTO BENAVIDES)
(crédito: AFP / ERNESTO BENAVIDES)

Usar o argumento de que o distanciamento social e o uso de máscara são fortes atitudes de proteção das famílias pode ser a melhor estratégia de convencimento de quem ainda não adotou essas práticas, mostram cientistas estadunidenses.

O grupo chegou à conclusão após realizar um estudo comportamental com mais de mil pessoas e divulgou os resultados da análise na revista especializada Patient Education and Counseling.

No artigo, os cientistas relatam que mensagens focadas em envergonhar ou pressionar as pessoas a usarem máscaras ou evitarem multidões têm falhado, já que os índices dos casos da doença têm subido rapidamente em praticamente todo o mundo. Por isso, eles resolveram investigar se outra estratégia poderia render melhores resultados entrevistando 1.074 norte-americanos sobre suas atitudes em relação ao novo coronavírus.

Ao serem perguntadas sobre o que pensavam sobre o uso de máscaras e de distanciamento para proteger toda a comunidade, as pessoas, de uma forma geral, reagiram negativamente. Alegaram que haveria violação de direitos e liberdades individuais. Já quando a pergunta abordava a proteção de familiares como justificativa para o uso de proteções, as respostas foram mais positivas.

“Quando as pessoas avaliam os comportamentos de proteção de forma mais geral, ou seja, como uma norma a ser seguida por todos, pensamentos negativos, como a percepção de um controle externo, substituem os positivos”, explica, em comunicado, Kenneth Resnicow, professor do Departamento de Comportamento de Saúde e Educação em Saúde na Escola de Saúde Pública da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e autor principal do estudo.

Ao contrário, “quando as pessoas se consideram agentes protetores para os mais próximos, elas abordam essa proposta de maneira diferente. Os indivíduos são menos propensos a permitir que suas crenças pessoais e políticas as desencorajem de praticar a proteção nesse contexto”, explica Resnicow.

Mais vulneráveis

Para a equipe, o resultado indica que as estratégias de incentivo ao uso de medidas protetivas precisam mudar. “Nossos dados mostram que simplesmente repetir que as pessoas devem seguir as diretrizes de saúde pública provavelmente não será eficaz. Enfatizar o ato de proteger os mais próximos pode fazer com que as pessoas não relutem em seguir as práticas protetivas, pode fazer com que elas se sintam independentes e fortes, em vez de complacentes ou obedientes”, afirma Resnicow.

O fato de os mais vulneráveis serem idosos e/ou pessoas com comorbidades, o que já desperta o cuidado de familiares, também torna a metodologia proposta pela equipe estadunidense estratégica. “Indivíduos com problemas crônicos de saúde têm 12 vezes mais probabilidade de morrer com o novo coronavírus. Para aqueles que cuidam de alguém com câncer ou outras doenças, proteger seu ente querido é fundamental”, justifica o autor do estudo.

Resnicow ressalta ainda que pensar em formas de mobilização mais eficazes é ainda mais importante agora, com a chegada das campanhas de vacinação contra a covid-19. “A perspectiva de perder alguém é ainda mais terrível sabendo que podemos estar chegando na reta final dessa pandemia. Com as vacinas no horizonte, é mais importante do que nunca seguir as medidas de distanciamento social para ajudar a acabar com a covid-19 o mais cedo. Ter essa preocupação com quem convivemos pode ser um grande auxiliar nessa tarefa”, afirma.

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Maior contato com a natureza

O que é necessário para que algumas pessoas passem a valorizar mais a natureza? Segundo cientistas estadunidenses, a pandemia da covid-19 parece estar favorecendo essa mudança de postura. Os pesquisadores entrevistaram 400 frequentadores de 25 parques e áreas naturais do país e descobriram que 26% daqueles que visitaram os locais nos primeiros meses da pandemia raramente ou nunca haviam visitado espaços parecidos no ano anterior.

“Como muitas pessoas, notamos um grande aumento no número de visitantes às florestas e aos parques urbanos nos primeiros dias da pandemia (…) Queríamos entender como as pessoas estão usando a natureza local para lidar com os desafios físicos e mentais da pandemia de covid-19”, relata, em comunicado, Brendan Fisher, pesquisador da Universidade de Vermont e autor do estudo, publicado na revista especializada Plos One.

Os cientistas também observaram que quase 70% dos usuários do parque aumentaram as visitas à natureza local durante o isolamento social e que 81% dos entrevistados disseram que essas experiências foram “muito importantes” para eles, mais do que antes do período de isolamento.

Segundo os relatos, 66% das pessoas recorreram a essas áreas para encontrar paz e tranquilidade. Para os cientistas, esses resultados mostram a importância de manter esses espaços verdes preservados. “Especialistas em doenças infecciosas preveem que novos vírus surgirão com frequência. As áreas naturais e seus orçamentos devem ser salvaguardados e, se possível, aprimorados para manter e melhorar o bem-estar humano, especialmente em tempos de crise”, justificam.

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