Corona vírus

Vacina pode ser adaptada à nova cepa, afirma Pfizer

Laboratório alemão avalia que o imunizante atual também protege contra a mutação que deixou o Sars-CoV-2 mais infectante. Caso a fórmula não funcione, os ajustes na fórmula poderão ser feitos em seis semanas

Paloma Oliveto
postado em 23/12/2020 06:00
 (crédito:  AFP / POOL / CARLOS OSORIO)
(crédito: AFP / POOL / CARLOS OSORIO)

Primeiro laboratório a ter uma vacina para a covid-19 aprovada internacionalmente, o alemão BioNTech, parceiro da norte-americana Pfizer no desenvolvimento do imunizante, tranquilizou a população mundial afirmando que, caso a nova mutação do Sars-CoV-2 identificada neste mês seja resistente à substância, é possível adaptá-la em seis semanas. “A beleza da tecnologia do RNA mensageiro é que podemos começar a conceber uma vacina que imita fielmente a nova mutação”, disse Ugur Sahin, cofundador da BioNTech, em uma entrevista coletiva, no dia seguinte à aprovação do imunizante na União Europeia.

O executivo insistiu, porém, que a probabilidade de a vacina atual ser totalmente eficaz contra a nova cepa é muito grande. “Cientificamente, é muito provável que a resposta imunológica provocada pela vacina possa servir para essa variante do vírus”, afirmou. De acordo com ele, a vacina desenvolvida em parceria com a Pfizer “contém mais de 1 mil aminoácidos e apenas nove deles sofreram mutação, o que significa que 99% da proteína é sempre a mesma”. Sahin acrescentou que, em duas semanas, serão publicadas as conclusões dos primeiros estudos realizados com a nova variante do vírus.

Identificada primeiramente no sudeste da Inglaterra, a nova cepa é até 70% mais infectante que as demais, segundo o Ministério da Saúde do Reino Unido. Porém, não há evidências científicas de que ela agrave o quadro da doença nem que seja mais letal. “Quando se trata da eficácia das vacinas, os diretores médicos e científicos do Reino Unido afirmam que as mudanças na proteína spike da nova variante provavelmente não reduzirão o efeito protetor das vacinas”, diz o farmacoepidemiologista Saad Shakir, diretor da Unidade de Pesquisas de Medicamentos, no Reino Unido, que participou de uma coletiva virtual com jornalistas, organizada pela organização não governamental Science Social Media.

Porém, Saad Shakir diz que é preciso esperar os resultados dos estudos para confirmação. “Uma vez que a vacina tem como alvo a proteína spike, a forma como a variante responde a ela e a proteção que oferecerá ainda precisam ser examinadas em detalhes, e os cientistas estão trabalhando sem parar para responder a essas perguntas”, justifica.

Sem suspensão

De acordo com Shakir, cientistas da unidade de pesquisa em Porton Down, no Reino Unido, estão cultivando a variante do vírus e examinarão a interação entre as vacinas já aprovadas no mercado e o vírus. Já os ensaios clínicos ou estudos epidemiológicos para examinar a questão em vacinados levarão muito mais tempo. O especialista insiste, porém, que ninguém deixe de se vacinar. “Todos devem se proteger com as vacinas se tiverem a sorte de consegui-las, a menos que sejam aconselhados a não fazê-lo por um profissional de saúde.”

“No momento, não há indícios de que essa nova cepa seja imune a tratamentos e vacinas. No entanto, a mutação é um lembrete do poder do vírus para se adaptar, e isso não pode ser descartado no futuro. Agir com urgência para reduzir a transmissão é fundamental”, diz Jeremy Farrar, diretor do Instituto Wellcome Trust, que elogiou, na coletiva, as medidas do governo britânico para evitar uma explosão de contágios. As restrições de circulação estão mais rígidas e o comércio não essencial será fechado em Londres e no sudeste da Inglaterra. “Ainda existem muitas incógnitas sobre o vírus da covid-19, e ele continua sendo uma grave ameaça para todos nós. Não há nenhuma parte do Reino Unido e nenhum país que não devam se preocupar.”

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Só uso de máscaras não é suficiente

 (crédito: Fabrice Coffrini/AFP)
crédito: Fabrice Coffrini/AFP

O simples uso de máscara pode não ser suficiente para prevenir a disseminação da covid-19 sem distanciamento social, alerta um estudo publicado na revista Physics of Fluids. Os pesquisadores testaram como cinco tipos diferentes de materiais usados na fabricação do aparato afetaram a disseminação de gotículas que carregam o coronavírus quando tossimos ou espirramos.

Cada material testado reduziu drasticamente o número de gotículas espalhadas. A distâncias de menos de 6 pés (1,8m), porém, gotículas suficientes para causar doenças ainda passaram por vários tipos de máscara. Uma máscara definitivamente ajuda, mas se as pessoas ficarem muito próximas, ainda há o risco de espalharem ou contraírem o vírus”, disse Krishna Kota, professora-associada da New Mexico State University e uma das autoras do artigo. “Não são apenas as máscaras que ajudam. São as máscaras e o distanciamento.”

Na universidade, os pesquisadores fabricaram uma máquina que usa um gerador de ar para simular tosses e espirros humanos. O gerador foi usado para soprar minúsculas partículas líquidas, como as gotículas transportadas pelo ar de espirros e tosses, através de folhas de laser em um tubo quadrado hermético com uma câmera.

Eles bloquearam o fluxo das gotas no tubo com cinco tipos diferentes de materiais para a máscara: uma de tecido regular, uma com duas camadas de tecido, uma máscara de tecido úmida e com duas camadas, uma cirúrgica e uma N-95, de uso médico. Cada uma das peças capturou a grande maioria das gotículas, desde a de tecido comum, que permitiu a passagem de cerca de 3,6% das gotículas, até a N-95, que estatisticamente interrompeu o fluxo de 100% das gotículas.

Mas a distâncias inferiores a 1,8 m, mesmo essas pequenas porcentagens de gotículas podem ser suficientes para deixar alguém doente, especialmente se uma pessoa com covid-19 espirra ou tosse várias vezes. Um único espirro pode transportar até 200 milhões de minúsculas partículas de vírus, dependendo da doença do portador.


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