Os engenhosos habitantes das "terras ruins"

Correio Braziliense
postado em 04/01/2021 21:34
 (crédito: University of South Florida/Divulgação)
(crédito: University of South Florida/Divulgação)

Por mais de 10 mil anos, as pessoas que viveram na paisagem árida do oeste do que hoje é o Novo México, nos Estados Unidos, eram conhecidas por suas sociedades complexas, arquitetura única e sistemas econômicos e políticos primitivos. Mas, sobreviver no que os exploradores espanhóis mais tarde chamariam de El Malpais, ou as “terras ruins”, exigia engenhosidade, agora explicada, pela primeira vez, por uma equipe internacional de geociências liderada pela Universidade do Sul da Flórida.

Explorando um depósito de lava coberto de gelo do Monumento Nacional de El Malpais, o professor de geociências Bogdan Onac e sua equipe descobriram que esses povos ancestrais sobreviveram a secas devastadoras, arriscando-se nas profundezas das cavernas para derreter o gelo e usá-lo como recurso hídrico. Habitantes da região entre 150 e 950 da era comum, os coletores de água deixaram para trás material carbonizado na caverna, indicando que faziam pequenas fogueiras para derreter o gelo para coletar água potável ou, talvez, para rituais religiosos.

Acredita-se que as secas influenciaram as estratégias de assentamento e subsistência, a intensificação agrícola, as tendências demográficas e a migração das complexas sociedades ancestrais puebloan, que, outrora, habitavam o sudoeste americano. Os pesquisadores afirmam que a descoberta de depósitos de gelo apresenta “evidências inequívocas” de cinco eventos de seca que impactaram essa sociedade durante aqueles séculos.

Mudanças climáticas

“Essa descoberta lança luz sobre uma das muitas interações humano-ambientais no sudoeste, em um momento em que as mudanças climáticas forçaram as pessoas a encontrarem recursos hídricos em lugares inesperados”, diz Onac, observando que as condições geológicas que apoiaram a descoberta estão, agora, ameaçadas por mudanças climáticas modernas. “O derretimento do gelo da caverna nas atuais condições climáticas está revelando e ameaçando uma fonte frágil de evidências paleoambientais e arqueológicas.”

O estudo caracterizou cinco períodos de seca ao longo de um período de 800 anos, durante os quais os ancestrais puebloans acessaram a caverna, cuja entrada fica a mais de 2,2 mil metros acima do nível do mar e foi pesquisada em um comprimento de 171m, e cerca de 14m de profundidade. A caverna contém um bloco de gelo que parece ser um resquício de um depósito gelado muito maior.

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