Calor pode melhorar efeito da quimioterapia

Tratamento combina a terapia medicamentosa tradicional com nanopartículas que aumentam a temperatura celular. Em testes com amostras de câncer de cérebro, mama e próstata, o resultado é, em média, 34% mais eficaz do que o da abordagem usual

Correio Braziliense
postado em 05/01/2021 21:02
 (crédito: Ricardo Moraes/AFP - 13/10/11 )
(crédito: Ricardo Moraes/AFP - 13/10/11 )

Aquecer as células cancerosas e, ao mesmo tempo, direcioná-las com quimioterapia é uma forma altamente eficaz de matá-las, de acordo com pesquisa liderada por pesquisadores da Universidade College London, na Inglaterra. O estudo, publicado no Journal of Materials Chemistry B, afirma que, enquanto se administra o medicamento, transportar um quimioterápico em minúsculas partículas magnéticas capazes de levar calor ao tumor traz um resultado 34% mais eficaz do que pelos métodos tradicionais.

“Nosso estudo mostra o enorme potencial de combinar quimioterapia com tratamento térmico por meio de nanopartículas magnéticas. Embora essa combinação esteja aprovada para o tratamento de glioblastomas (câncer no cérebro) de crescimento rápido, nossos resultados sugerem que ela tem potencial para ser usada como uma ampla terapia anticâncer”, diz o autor principal do estudo, Nguyen T. K. Thanh. “Essa terapia também tem potencial para reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia, garantindo que ela seja mais direcionada às células cancerosas do que ao tecido saudável. Isso precisa ser explorado em outros testes pré-clínicos.”

No estudo, os pesquisadores combinaram as nanopartículas magnéticas com uma droga de quimioterapia comumente usada, a doxorrubicina, e compararam os efeitos desse composto, em vários cenários, em células de câncer de mama humano, células de glioblastoma e de câncer de próstata. No cenário de maior sucesso, eles descobriram que, juntos, o calor e a doxorrubicina mataram 98% das estruturas doentes do cérebro após 48 horas, enquanto o remédio, sem calor, destruiu 73%. No caso do tumor de mama, 89% do tecido canceroso foi eliminado pela combinação com a nanopartícula em 48 horas, sendo que somente o medicamento teve eficácia de 77%.

As células cancerosas são mais suscetíveis ao calor do que as saudáveis — elas sofrem uma morte lenta (apoptose) quando a temperatura atinge 42ºC, enquanto as não doentes são capazes de suportar até 45ºC. Os pesquisadores descobriram que o aquecimento do tumor em apenas alguns graus, a 40ºC, aumentou a eficácia da quimioterapia, o que significa que o tratamento poderia ser eficaz com doses mais baixas de nanopartículas.

Revestimento

Eles constataram também que a combinação de terapias foi mais eficaz quando as nanopartículas foram absorvidas, ou internalizadas, pelas células cancerosas, mas descobriram que a quimioterapia também foi aprimorada quando as nanopartículas liberaram calor enquanto permaneciam fora das células doentes (o que seria uma forma mais fácil de tratamento). No entanto, os efeitos em temperaturas mais baixas só ocorreram quando as nanopartículas de óxido de ferro foram internalizadas ou firmemente depositadas na superfície das células cancerosas.

As nanopartículas são internalizadas em pequenas bolsas nas células chamadas lisossomas, que têm um pH mais baixo do que o resto do meio celular. Elas têm um revestimento de polímero que evita que o medicamento quimioterápico vaze para o tecido saudável. Esse escudo é sensível ao calor e ao pH e projetado para liberar a droga quando a temperatura sobe.

Essa liberação intracelular do quimioterápico foi particularmente eficaz para as células do câncer de próstata em camundongos, que apresentaram efeito superior e sinérgico de morte celular, principalmente quando a temperatura atingiu 42°C. “Como o calor pode ser gerado por meio do campo magnético alternado, a liberação da droga pode ser altamente localizada nas células cancerosas, reduzindo potencialmente os efeitos colaterais”, destaca um dos coautores, Olivier Sandre, da Universidade de Bordeaux, na França.

 

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Contra a metástase

As metástases cerebrais só podem se desenvolver se as células cancerosas conseguirem sair dos capilares e entrar no tecido cerebral. Para facilitar esse trajeto, elas influenciam a coagulação do sangue, demonstraram pesquisadores do Hospital Universitário de Heidelberg e do Centro de Pesquisa Alemã de Câncer, que usaram modelos animais no estudo. Segundo os cientistas, em camundongos, drogas que inibem o fator de coagulação trombina foram capazes de reduzir essa complicação.

As metástases cerebrais são impossíveis de serem removidas cirurgicamente e não respondem bem aos tratamentos de longo prazo. “Para pacientes com tumores que, frequentemente, se espalham para o cérebro, seria extremamente útil se tivéssemos um tratamento disponível que pudesse prevenir o desenvolvimento de metástases”, explica Frank Winker, chefe de um grupo de pesquisa no Centro Alemão de Pesquisa do Câncer.

Já se sabia, graças a estudos observacionais, que medicamentos antitrombóticos (que inibem a coagulação do sangue) podem ter um efeito favorável no prognóstico de certos tipos de câncer. É possível que esses agentes influenciem na metástase. Winkler e os colaboradores investigaram, em ratos, se isso também se aplica ao espalhamento da doença para o cérebro. O estudo foi possível graças a uma técnica avançada de microscópica especial.

A equipe descobriu que, aparentemente, as células tumorais intervêm diretamente na complexa cascata de coagulação do sangue e, assim, ativam a formação dos trombos. Eles perceberam que o coágulo é o pré-requisito para que as células doentes deixem os vasos capilares e, assim, deem o primeiro passo crucial para formar uma metástase cerebral.

Um medicamento que inibe a trombina teria, portanto, poder de suprimir o problema, porque impediria que as células tumorais penetrassem no tecido cerebral. E, de fato: os camundongos que receberam o inibidor da trombina dabigatran, já aprovada como medicamento, desenvolveram significativamente menos metástases do que os animais não tratados.

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