Teste de DNA detecta pneumonia decorrente da covid-19 em quatro horas

Teste de DNA diagnostica, em quatro horas, a ocorrência da complicação respiratória em infectados pelo Sars-CoV-2 atendidos em UTIs. O exame tradicional dura dias. Nova abordagem pode acelerar tratamentos e evitar o uso inadequado de antibióticos

Correio Braziliense
postado em 16/01/2021 16:47 / atualizado em 16/01/2021 16:51
 (crédito: Mario Tama/AFP)
(crédito: Mario Tama/AFP)

A ventilação mecânica combinada com o uso de anti-inflamatórios é um dos tratamentos a que pacientes com covid-19 grave são submetidos em unidades de terapia intensiva (UTIs). Nesse caso, o objetivo é tratar os pulmões inflamados. Esses órgãos vitais, porém, acabam ficando mais vulneráveis a infecções, o que pode resultar no que os especialistas chamam de pneumonia associada ao ventilador. Cientistas britânicos desenvolveram um teste de DNA que acusa a ocorrência dessa complicação rapidamente, abrindo a possibilidade de ajustes no tratamento antes que o quadro se agrave.

A abordagem foi apresentada ontem, na revista científica Critical Care, e começa a ser implementada em hospitais ligados à Universidade de Cambridge. Segundo a equipe envolvida no projeto, com o teste, é possível iniciar o tratamento para conter a pneumonia em horas, em vez de dias, ajustando a terapia conforme necessário e reduzindo o uso inadequado de antibióticos.

“No início da pandemia, notamos que os pacientes com covid-19 pareciam estar particularmente em risco de desenvolver pneumonia secundária, e começamos a usar um teste de diagnóstico rápido que havíamos desenvolvido para essa situação. Usando esse teste, descobrimos que esses pacientes apresentavam duas vezes mais risco de desenvolver pneumonia secundária do que outros pacientes na mesma unidade de terapia intensiva”, relata, em comunicado, Andrew Conway Morris, pesquisador do Departamento de Medicina de Cambridge e coautor do estudo.

Especialistas acreditam que uma combinação de condições leva pessoas que desenvolvem quadros graves de covid-19 a apresentarem risco aumentado de infecção. Devido à quantidade de dano pulmonar causado pelo novo coronavírus, esses pacientes tendem a passar mais tempo na ventilação mecânica do que indivíduos sem covid atendidos em UTIs.

Além disso, infectados pelo Sars-CoV-2 que sofrem de quadros graves têm o sistema imunológico desregulado, em que as células de defesa passam a danificar os órgãos e as funções antimicrobianas ficam enfraquecidas. Ou seja, o organismo está combalido justamente no momento em que é ameaçado por bactérias e fungos que costumam, inclusive, serem resistentes aos antibióticos disponíveis.

Maior precisão

Em casos normais, a detecção de uma pneumonia não costuma ser um processo simples. Amostras são colhidas do paciente com suspeita de ter a complicação e são levadas para o laboratório para que a bactéria possa ser cultivada. Esse processo leva dias. O teste de Cambridge tem uma abordagem alternativa: a detecção do DNA de diferentes patógenos, o que permite, segundo os criadores, que o diagnóstico seja mais rápido e preciso.

O teste utiliza reação em cadeia da polimerase múltipla (PCR), que detecta o DNA da bactéria e pode ser feito em cerca de quatro horas. Dessa forma, não é preciso esperar o crescimento da bactéria recolhida em amostra. “Frequentemente, os pacientes começam a receber antibióticos antes do teste em que a bactéria precisa de tempo para crescer no laboratório. Isso significa que os resultados das culturas costumam ser negativos. Por outro lado, o nosso teste não precisa de bactérias viáveis para que a pneumonia seja detectada. Isso o torna mais preciso”, compara Andrew Morris.

O exame tem mecanismo similar ao exame já utilizado para o diagnóstico da covid-19 que é considerado o padrão ouro por especialistas. Na nova versão, o teste executa várias reações de PCR em paralelo. Dessa forma, pode detectar simultaneamente 52 patógenos diferentes. Ao mesmo tempo, é capaz de testar se os patógenos da pneumonia associada ao ventilador são resistentes aos antibióticos disponíveis.

Autor principal do estudo, Mailis Maes conta que os usos iniciais da ferramenta já indicaram estratégias de intervenção. “Descobrimos que, embora os pacientes com covid-19 fossem mais propensos a desenvolver pneumonia secundária, as bactérias que causaram essas infecções eram semelhantes às presentes em pacientes de UTI sem covid. Isso significa que protocolos de antibióticos padrão podem ser aplicados a pacientes com covid-19”, relata. A equipe planeja usar a abordagem para melhorar o tratamento de infecções em geral.

 

 

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