Cepa britânica pode ser 30% mais letal

Há indícios de que a nova variante do Sars-CoV-2 tem um índice maior de mortalidade, além do alto poder infeccioso. Segundo governo e especialistas, os dados, mesmo não definitivos, reforçam a importância das medidas que evitam a propagação do vírus

Correio Braziliense
postado em 22/01/2021 20:13
 (crédito: Leon Neal/AFP)
(crédito: Leon Neal/AFP)

Considerada mais contagiosa, a nova cepa britânica do Sars-CoV-2 também pode ser 30% mais letal, disse o primeiro-ministro Boris Johnson em uma coletiva de imprensa, ontem, em Londres. Segundo o principal conselheiro científico do Executivo, Patrick Vallance, antes do surgimento da variante, a mortalidade no Reino Unido — considerando um paciente do sexo masculino com 60 anos — era de 10 óbitos em mil casos de covid-19. Agora, varia entre 13 e 14 por mil.

Vallance mostrou-se cauteloso. Segundo ele, os indícios ainda não são “sólidos”. Trata-se de uma série de informações diferentes que se unem para apoiar a conclusão. “Óbvio que é preocupante o aumento da mortalidade, assim como o aumento da transmissibilidade, como parece ser o caso hoje em dia”, frisou. Johnson acrescentou que “há muita incerteza em torno desses números” e que é preciso “mais trabalho para ter uma compreensão precisa” do cenário.

País mais castigado da Europa pela pandemia, com quase 96 mil mortos confirmados pela covid-19, o Reino Unido enfrenta uma nova onda de contágios desde a descoberta, em dezembro, de uma mutação do coronavírus entre 50% e 70% mais contagiosa, segundo os cientistas britânicos. Encontrada originalmente no sul da Inglaterra, essa cepa já foi detectada em pelo menos 60 países e territórios, apesar das crescentes restrições impostas às viagens.

Até agora, as autoridades de saúde diziam que a variante não parecia mais mortal do que as anteriores, e que reagia corretamente às vacinas existentes. “Todos os indícios atuais continuam demonstrando que as duas vacinas que usamos atualmente são eficazes tanto contra a antiga, quanto contra essa nova variante”, afirmou Johnson. O fator mortalidade parece ter mudado.

Ouvidos pelo Science Media Center do Reino Unido — uma organização não governamental de disseminação do conhecimento científico —, especialistas afirmaram que os dados apresentados pelo governo britânico sobre a letalidade maior da nova cepa baseiam-se em números de casos pequenos e precisam ser interpretados com cautela. Além disso, destacam que os fabricantes das principais vacinas contra a covid-19 garantem que a variante não interfere na capacidade imunizante das substâncias.

“O relatório NERVTAG (apresentado por Boris Johnson) indicando a taxa de mortalidade aumentada atribuída à variante esforça-se para enfatizar que os dados são limitados e as conclusões, preliminares”, disse Ian Jones, professor de virologia, da Universidade de Reading. “O fato de a variante ser tão suscetível à imunidade induzida pela vacina quanto o vírus parental significa que sua circulação deve cair à medida que a cobertura da vacina aumentar, dando esperança de que a ameaça que representa seja limitada em geral”, observa.

Lawrence Young, virologista da Warick Medical School, tem opinião parecida. “Os dados disponíveis são baseados em um subconjunto limitado do total de mortes por covid-19, com informações sobre a nova cepa cobrindo apenas 8% das mortes”, justificou. “É importante ressaltar que o relatório destaca que, atualmente, não há indicação de aumento do risco de hospitalização em indivíduos infectados com o vírus variante, o que seria esperado se a infecção fosse mais grave. Isso pode ser devido a atrasos na disponibilidade de dados. Precisamos de mais informações antes de tirar conclusões precipitadas.”

Ian Jones também ressaltou que o Sars-CoV-2, independentemente de cepa, pode ser muito perigoso para uma parcela de pessoas — idosos e portadores de doenças crônicas, em especial — e que seguir as medidas de bloqueio, além de tomar a vacina, são as melhores formas de se proteger do novo coronavírus.

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Aposta na vacinação

Após se tornar, em 8 de dezembro, o primeiro país ocidental a lançar uma campanha de vacinação em massa contra a covid-19, o Reino Unido já imunizou 5,4 milhões de pessoas com os fármacos desenvolvidos pela Pfizer/BioNTech e a AstraZeneca/Oxford.

O primeiro-ministro, Boris Johnson, muito criticado desde o início da pandemia por suas políticas na gestão da crise de saúde, agora, colocou todas as suas esperanças na vacinação. O confinamento desde dezembro na Inglaterra parece ter gerado resultados. Os cientistas apontam a taxa de reprodução do vírus entre 1 e 0,8 (contra 1,3 e 1,2 na semana anterior). Isso significa que cada pessoa infectada contamina entre 1 e 0,8 a mais — portanto, o número de casos não deve aumentar, mas diminuir ligeiramente.

No entanto, até o momento, os hospitais do país estão lotados com o aumento dos pacientes com sintomas graves. A situação é “muito, muito ruim neste momento, com uma enorme pressão, e, em alguns casos, parece uma zona de guerra, em termos do que as pessoas têm que administrar”, relatou Patrick Vallance, conselheiro científico do Executivo, na última quarta-feira, dia em que o país bateu todos os recordes, registrando 1.820 novas mortes.

Há cerca de 38 mil pacientes hospitalizados em função da covid-19, quase 4 mil deles com respiradores, um número muito maior do que na primeira onda, na primavera europeia passada. Mesmo com as vacinas, “teremos que conviver com o coronavírus de uma forma ou de outra por muito tempo”, alertou Johnson, que esteve internado na UTI com covid-19 em abril do ano passado, quando disse temer por sua vida.

Tubo de ensaio Fatos científicos da semana

 (crédito: I. Heywood (Oxford/Rhodes/SARAO)/Divulgação)
crédito: I. Heywood (Oxford/Rhodes/SARAO)/Divulgação



Segunda-feira, 18
Gigantes no céu
Duas radiogaláxias foram identificadas pelo poderoso telescópio MeerKAT da África do Sul. Acredita-se que esses conjuntos estelares estejam entre os maiores objetos do Universo. A descoberta foi publicada na revista da Sociedade Astronômica Real. Enquanto radiogaláxias normais são bastante comuns, apenas algumas centenas delas têm jatos de rádio que excedem 700 quilo-parsecs de tamanho, ou cerca de 22 vezes o da Via Láctea. Esses sistemas realmente enormes são chamados de gigantes. E, apesar dessa escassez, os autores do estudo, da Universidade do Cabo, encontraram duas de uma só vez, em um pedaço notavelmente do céu. Graças à descoberta, os pesquisadores esperam entender melhor o processo de formação dos aglomerados gigantes de estrelas.

 

Terça-feira, 19
Ataques cibernéticos em alta nos Estados Unidos
Os ataques informáticos com pedidos de resgate se multiplicaram nos Estados Unidos no ano passado. Novo relatório de pesquisa de segurança cibernética mostra que essas ações atingiram mais de 2 mil alvos no governo, educação e saúde nos últimos 12 meses. Segundo o estudo, desenvolvido pela empresa de segurança Emsisoft, os ataques de ransomware, que criptografam e desativam sistemas de computador enquanto exigem resgate, colocaram 113 governos federais, estaduais e municipais, 560 estabelecimentos de saúde e 1.681 escolas, faculdades e universidades em apuros no ano passado. Os pesquisadores disseram que os hackers estão envolvidos não apenas na criptografia, mas também no roubo de dados que podem ser vendidos para empresas concorrentes ou governos.

 

Quarta-feira, 20
Super dino argentino
Os restos fósseis de um dinossauro, que foram encontrados em 2012 na Argentina, correspondem a um saurópode de 98 milhões de anos, cujo tamanho pode superar o do Patagotitan mayorum, o maior dinossauro já conhecido — pesava cerca de 70t e tinha cerca de 40m de comprimento. Os ossos são 10% a 20% maiores, explicou Alejandro Otero, pesquisador do Museu La Plata em relatório publicado pela Agência de Divulgação Científica da Universidade Nacional de La Matanza (Ctys-UNLM). “O que foi encontrado até agora são as primeiras 24 vértebras da cauda, partes da cintura pélvica e da cintura peitoral. Os restos continuam sob a rocha e continuaremos seu resgate em campanhas futuras”, disse. O exemplar apareceu na formação Candeleros, uma unidade rochosa no sudoeste argentino.

 

Quinta-feira, 21
Imagens de satélite para contar elefantes
Pesquisadores das universidades britânicas de Oxford e Bath estão usando imagens de satélite para contar elefantes a partir do espaço, uma iniciativa considerada bastante promissora para ajudar a proteger esses animais ameaçados na África. Segundo os especialistas envolvidos no trabalho, o uso combinado de algoritmos, inteligência artificial e satélites poderia substituir as técnicas atuais de contagem de elefantes — prática essencial para sua conservação. “A população de elefantes africanos despencou no século passado devido à caça ilegal, retaliação por invasões de plantações e fragmentação do habitat”, disse a Universidade de Oxford em um comunicado. A técnica foi aplicada, pela primeira vez, no Parque Nacional Addo Elephant, na África do Sul. As imagens, tiradas de um satélite orbitando 600km acima da Terra, cobriram 5 mil quilômetros quadrados de terreno em uma única passagem feita em poucos minutos.

 

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