Pesquisadores da Clínica Cleveland, nos EUA, descreveram, pela primeira vez, como o vírus da zika (ZIKV) causa um dos defeitos congênitos mais comuns associados à infecção pré-natal, chamado calcificação cerebral. Segundo o estudo, publicado na revista Nature Microbiology, as descobertas podem revelar novas estratégias para prevenir essa complicação e oferecer informações importantes sobre como as calcificações se formam em outras infecções congênitas.
“A calcificação cerebral tem sido associada a vários defeitos de desenvolvimento em bebês, incluindo distúrbios motores, deficiência cognitiva, anormalidades oculares, deficiências auditivas e convulsões. Por isso, é importante entender melhor os mecanismos de como eles se desenvolvem”, disse Jae Jung, diretor da Centro Global para Pesquisa de Patógenos e Saúde Humana da Cleveland Clinic e principal autor do estudo.
Utilizando espécimes cerebrais fetais positivos para ZIKV e modelos de doenças pré-clínicas, a equipe de pesquisa identificou a proteína BMP2 (proteína morfogenética óssea 2) e a protease NS3 (proteína não estrutural 3) como atores centrais na calcificação cerebral do vírus.
Brasil
Varreduras de cérebros positivos para ZIKV coletados e doados do Brasil durante o surto de zika de 2015-2016 revelaram que células chamadas pericitos, que envolvem os capilares sanguíneos do cérebro, acumulam-se em torno de lesões calcificadas e têm altas concentrações de material genético viral, sugerindo um papel fundamental na calcificação induzida por infecção. Os pesquisadores infectaram pericitos derivados de fetos com a doença e descobriram que o gene BMP2, que codifica a proteína BMP2, e outros relacionados à formação óssea foram expressos em níveis mais elevados e resultaram em calcificação.
Normalmente, as BMPs ativam proteínas específicas para modular a expressão de genes associados à formação dos ossos, chamados osteogênicos. Jung mostra, no estudo, entretanto, que durante a infecção pelo ZIKV, uma enzima viral chamada NS3 transforma a proteína BMP2 em uma forma madura e biologicamente ativa que aumenta a expressão do gene osteogênico.
Efetivamente, o NS3 ativa as vias de sinalização BMP2 para desencadear a calcificação e o desenvolvimento defeituoso do cérebro. Mais pesquisas serão realizadas, mas os resultados do estudo sugerem que, talvez, alvejar NS3, seja por prevenir sua expressão ou sua ligação com BMP2, possa ajudar a prevenir a calcificação cerebral de ZIKV no útero.
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