Um jovem recebeu um transplante inédito, conduzido por médicos do Hospital Universitário Langone, em Nova York. O paciente, de 22 anos, que ficou gravemente queimado ao sofrer um acidente de carro, teve face e mãos transplantadas, de um único doador. Essa foi a primeira cirurgia do tipo no mundo.
O procedimento, divulgado ontem pelo hospital, começou na manhã de 12 de agosto de 2020 e durou aproximadamente 23 horas — um tempo total de cirurgia menor que o mais recente transplante facial também realizado em Nova York, em 2018. Uma equipe de mais de 140 profissionais de saúde, incluindo cirurgiões, enfermeiros e outros funcionários, foi liderada por Eduardo D. Rodriguez, diretor do Programa de Transplante Facial, e Helen L. Kimmel, professora de cirurgia plástica reconstrutiva.
O receptor dos órgãos é Joe DiMeo de Clark, morador de Nova Jérsei, que sofreu queimaduras de terceiro grau em mais de 80% do corpo em julho de 2018. Apesar de ter feito aproximadamente 20 cirurgias reconstrutivas, DiMeo teve ferimentos extensos — incluindo pontas de dedos amputadas, cicatrizes faciais severas, perdeu lábios e pálpebras. Isso afetava sua visão e atividades diárias, limitando severamente a capacidade do jovem de viver uma vida funcional e independente.
“Joe era um candidato ideal para esse procedimento; ele está extremamente motivado e dedicado a recuperar a independência que perdeu após o acidente”, diz Rodriguez. “Graças ao apoio institucional que recebemos aqui na NYU Langone e a uma equipe comprometida em fornecer o melhor cuidado para nosso paciente, tivemos sucesso em um tremendo empreendimento, que mostra que podemos continuar a enfrentar novos desafios e avançar no campo de transplante”.
O primeiro transplante de face do mundo foi realizado em 2005, em uma paciente da França. A cirurgia de DiMeo é a quarta do tipo sob a liderança de Rodriguez e a primeira de mãos conduzida pelo médico. Embora duas outras tentativas simultâneas de transplante de rosto e mãos tenham sido realizadas, em cada caso houve um resultado adverso: um paciente acabou morrendo devido a complicações infecciosas, e outro exigiu a remoção das mãos porque elas não se tornaram funcionais.
Cuidados
Os cirurgiões contam que procuraram concluir o procedimento o mais rápido possível para reduzir o risco de complicações e o tempo em que o tecido doado permanece sem suprimento de sangue. A cirurgia foi “precisamente orquestrada” para conectar os tecidos rapidamente a fim de garantir o resultado ideal para o receptor, bem como para os outros órgãos vitais disponibilizados pelo doador, diz Rodriguez.
Apenas três meses após DiMeo ter sido incluído na lista das doações de órgãos, em outubro de 2019, o primeiro caso da covid-19 foi identificado nos Estados Unidos. Em março, as cirurgias eletivas foram suspensas em Nova York. Médicos da cidade, incluindo membros da equipe de transplante de rosto e mão da NYU Langone, foram realocados para trabalhar nas unidades de tratamento dos pacientes do coronavírus, conforme o número de casos positivos aumentava.
Apesar das demandas adicionais, a equipe cirúrgica continuou a realizar testes para garantir uma operação perfeita quando chegasse a hora. DiMeo precisou apenas de 10 meses até que um doador fosse identificado. O tempo total desde a lesão até o transplante foi de dois anos.
Localmente, o esforço para encontrar um doador para a DiMeo foi liderado pela LiveOnNY, uma organização de recuperação de órgãos da área metropolitana de Nova York. Para expandir o conjunto de doadores potenciais, a NYU Langone ampliou a busca para todo o país. Uma correspondência exata para DiMeo foi, finalmente, identificada pelo Gift of Life, o programa regional de doação de órgãos. “Esse transplante foi possível porque uma família altruísta disse sim a essa doação única”, ressalta Richard D. Hasz Jr, vice-presidente de serviços clínicos do Gift of Life Donor Program.
Depois da cirurgia, DiMeo passou várias semanas na NYU Langone, primeiro na unidade de terapia intensiva e depois continuando sua recuperação na unidade de internação Rusk de Reabilitação. Ele recebeu alta em 24 de novembro e, atualmente, mora em um apartamento próximo ao hospital universitário.
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