Vacina britânica é eficaz contra nova mutação

Pesquisadores da Universidade de Oxford concluem que o imunizante produzido em parceria com a AstraZeneca protege contra cepa mais infecciosa, apesar de criar menos anticorpos. Outro estudo mostrou redução de 67% da transmissão após primeira dose

Correio Braziliense
postado em 05/02/2021 20:54 / atualizado em 05/02/2021 20:54

A Universidade de Oxford anunciou, ontem, que a vacina contra a covid-19 desenvolvida em parceria com a biofarmacêutica sueco-britânica AstraZeneca tem eficácia contra a nova variante do coronavírus identificada no fim de 2020, no Reino Unido. A conclusão faz parte de um estudo científico não revisado por especialistas. Apesar da notícia alentadora, a pesquisa não forneceu dados sobre as cepas brasileira e sul-africana, surgidas na mesma época da britânica. Outra pesquisa, publicada nesta semana, revelou que o imunizante tem o potencial de reduzir a transmissão do Sars-CoV-2 depois da primeira dose.

O surgimento de mutações do coronavírus incitou nos cientistas a preocupação com a propagação mais rápida da doença, além da possível ineficiência das vacinas. Ante esse receio, os especialistas buscam avaliar o efeito dos imunizantes em relação às mutações, e também preparam-se para adaptar as fórmulas desenvolvidas, caso necessário.

Os pesquisadores britânicos analisaram os ensaios clínicos realizados entre 1º de outubro de 2020 e 14 de janeiro passado no Reino Unido, com a intenção de avaliar se a vacina — chamada de ChAdOx1 nCoV-19 — produzia imunidade contra a variante B177 do coronavírus, dotada de maior poder de transmissibilidade.

O imunizante desencadeou “proteção semelhante contra infecções sintomáticas, apesar de menos anticorpos”, informou a Universidade de Oxford, por meio de um comunicado. “O nosso imunizante não somente protege contra o vírus original da pandemia, mas também contra a nova cepa B117 que causou o ressurgimento da doença, no fim de 2020, no Reino Unido”, explicou o professor Andrew Pollard, um dos responsáveis pelo estudo e pesquisador da instituição de ensino.

A vacina da Oxford/AstraZeneca é um dos imunizantes aplicados pelo Reino Unido em sua população, junto à fórmula criada pela norte-americana Pfizer. De acordo com o governo britânico, quase 11 milhões de pessoas receberam a primeira dose de um dos dois fármacos. O Reino Unido, que enfrenta a terceira quarentena, é o mais atingido pela pandemia na Europa, e chegou a 111 mil mortes causadas pela covid-19.

Três meses

Na última terça-feira, um estudo feito pelo mesmo grupo mostrou que a vacina inglesa reduziu a transmissibilidade do coronavírus em 67% após a primeira dose. Segundo cientistas, a proteção se mantém por três meses, até o momento em que é recebida a segunda dose, quando a taxa sobe para 82%. “Os dados indicam que ChAdOx1 nCoV-19 pode ter impacto substancial na propagação do vírus, reduzindo o número de infectados na população”, explicaram os pesquisadores no estudo — ainda não revisado por pares, ele deverá ser publicado futuramente na revista The Lancet.

A vacina AstraZeneca foi aprovada para uso por outros países, incluindo o Brasil, e pela União Europeia. No entanto, algumas nações preferiram aplicá-la apenas em pessoas com menos de 65 anos de idade, devido aos dados limitados sobre idosos em ensaios clínicos.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

A variante de Kent

A mutação B117 do coronavírus também é chamada de variante de Kent, em alusão ao condado inglês onde foi identificada pela primeira vez, no começo de dezembro. Essa nova cepa foi a responsável por um recorde de casos da covid-19 durante o Natal e o mês de janeiro, no Reino Unido, o que exigiu o início de mais uma quarentena severa no país. Especialistas descobriram que a maior transmissibilidade de B117 ocorre devido à alteração em uma proteína chamada de E484, que também está presente nas variantes da África do Sul e do Brasil.

OMS pede esforço mundial

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, fez, ontem, um apelo para que países invistam em um desenvolvimento maciço das capacidades de produção de vacinas anticovid para não aniquilar todo o progresso feito na luta contra a pandemia. Ele destacou, como exemplo, o grupo farmacêutico francês Sanofi, que demorou a desenvolver o próprio imunizante, mas se ofereceu para produzir, a partir do verão (do Hemisfério Norte), o fármaco de sua concorrente Pfizer/BioNTech, já amplamente autorizada e de eficácia comprovada.

“Pedimos a outras empresas que façam o mesmo”, enfatizou o dirigente da agência das Nações Unidas. “Os fabricantes podem fazer mais. Eles receberam um financiamento público significativo. E encorajamos todos eles a compartilhar dados e tecnologias para ajudar no acesso equitativo às vacinas em todo o mundo”, acrescentou.

As cifras envolvidas são gigantescas. A Pfizer estima que o faturamento de sua vacina anticovid chegará a US$ 15 bilhões este ano. No fim do mês passado, a suíça Novartis também anunciou que estava disponibilizando capacidades para colocar a vacina Pfizer/BioNTech nos recipientes.

Tedros Ghebreyesus sugeriu refazer o que já se mostrou eficaz para aumentar a produção de tratamentos anti-HIV e hepatite C. Nesses casos, grupos farmacêuticos concordaram em licenças de fabricação não exclusivas para outros que outros fabricantes produzissem os medicamentos.

“Aumentar a capacidade de produção em escala global tornaria os países pobres menos dependentes dos ricos”, ressaltou. Ele reiterou seu apelo às nações mais abastadas, que vacinaram os mais vulneráveis e seus profissionais de saúde, para que disponibilizem as doses restantes às que dispõem de menos recursos.

Embora o número de vacinações no mundo supere o número de casos registrados, o diretor-geral da OMS destacou que três quartos das vacinações foram realizadas apenas em 10 países que representam 60% do PIB mundial. “Pelo menos 130, que têm 2,5 bilhões de pessoas, não injetaram uma única vacina”, citou, advertindo: “Se não erradicarmos o vírus em todos os lugares, poderemos voltar ao início (da pandemia)”.

 

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação