SAÚDE

Vacina da Pfizer é eficaz contra variantes britânica e sul-africana, mostra estudo

Estudo da Universidade do Texas mostra que a vacina desenvolvida pela Pfizer/BionTech contra a covid-19 é eficiente no combate às formas que surgiram, no Reino Unido, e também, embora em menor grau, na cepa de origem sul-africana

Vilhena Soares
postado em 09/02/2021 06:00
 (crédito: AFP / JACK GUEZ)
(crédito: AFP / JACK GUEZ)

A vacina contra a covid-19 desenvolvida pela empresa americana Pfizer, em parceria com o grupo farmacêutico alemão BionTech, mostrou-se eficaz para três variantes do vírus. Os pesquisadores observaram que a resposta dos anticorpos de pacientes que receberam o imunizante foi alta diante de duas novas formas do patógeno que surgiram no Reino Unido, porém um pouco mais baixa para a que tem origem na África do Sul. A constatação foi divulgada, ontem, na revista Nature Medicine.

Na véspera, outro estudo — ainda não revisado por especialistas — evidenciou, porém, que a vacina criada pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca gera pouca defesa para casos leves e moderados da doença provocados pela variante sul-africana.

Os cientistas explicam que, para testar os efeitos dos fármacos nas novas formas do vírus Sars-CoV-2, é necessário identificar quais são as alterações genéticas de cada cepa. Nas análises feitas até agora na vacina da Pfizer, os pesquisadores encontraram duas mutações importantes: a primeira chamada de N501Y, presente nas três variantes escolhidas para o estudo, e a outra nomeada de E484K, vista apenas na sul-africana.

“Essas duas falhas de DNA estão localizadas na proteína principal do patógeno, e podem potencializar a capacidade de conexão com os receptores ACE2 do corpo, que ajudam o agente infeccioso a se espalhar”, explicaram os autores do trabalho, liderado por Pei-Yong Shi, pesquisador da Universidade do Texas, nos Estados Unidos.

No experimento, a equipe liderada por Pei-Yong Shi projetou combinações das duas mutações e testou o material com soros (sanguíneos) de 20 participantes que receberam a vacina BNT162b, desenvolvida pela Pfizer/BionTech. “Todos os analisados haviam participado do ensaio clínico publicado anteriormente e que testou a eficácia do imunizante. Eles receberam duas doses com um intervalo de três semanas entre elas, e portanto já tinham produzido anticorpos contra a doença”, detalhou o artigo da Nature Medicine.

Nas análises, os investigadores observaram que o vírus foi neutralizado nas três variantes testadas — porém, a resposta imune foi menor contra a mutação E484K. “São dados importantes, pois nos mostram que essa variante sul-africana precisa receber mais atenção dos especialistas devido a sua maior resistência”, frisaram os cientistas.

Os autores do trabalho defendem que a evolução contínua do agente da covid-19 exige um monitoramento constante da eficácia da vacina para novas cepas. “Entender se os imunizantes atualmente desenvolvidos para Sars-CoV-2 também fornecem proteção contra essas mutações é uma prioridade urgente”, frisaram no artigo.

Revisão

No último domingo, um estudo feito por cientistas da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, mostrou que a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, em parceria com a AstraZeneca, gerou uma baixa proteção (22%) contra a infecção leve e moderada do novo coronavírus provocada pela variante descoberta no país. No trabalho, os pesquisadores avaliaram cerca de dois mil voluntários com média de 31 anos.

A equipe de Witwatersrand informou que o trabalho ainda será revisado e que não avaliou o efeito do imunizante em relação a casos mais severos da enfermidade. A AstraZeneca garantiu que sua vacina “pode proteger contra mortes, hospitalizações e as formas mais graves da doença”, em declaração de um porta-voz do laboratório britânico à agência de notícias France-Presse (AFP).

No mesmo dia em que o estudo foi divulgado, o ministro da Saúde Zewli Mkhize informou que o país iria suspender o uso da vacina Oxford/AstraZeneca de seu programa de imunizações. Ontem, após a repercussão da notícia, o co-presidente do Comitê Consultivo Ministerial da África do Sul, Salim Abdool Karim, declarou que o país aplicará o imunizante de maneira gradual, para avaliar sua eficácia sobre a variante sul-africana.

Karim também disse que o plano é oferecer a fórmula protetiva a 100 mil pessoas e monitorar as taxas de hospitalização. “Não queremos vacinar com um imunizante que não seja eficaz para casos graves. Seremos prudentes, faremos a avaliação primária e depois vamos distribuir”, afirmou, em um comunicado à imprensa.

Para Ana Karolina Barreto Marinho, especialista da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), testes com as vacinas contra a covid precisam ser feitos constantemente para ajudar no controle da pandemia. “Esse monitoramento das mutações e a resposta dos imunizantes a elas é essencial. Só com esse tipo de trabalho poderemos realizar alterações nas fórmulas e assim manter uma proteção alta”, opinou.

De acordo com a especialista, é importante ter a compreensão de que mesmo reações imunes mais baixas não são tão preocupantes. “Passa longe de ser algo desanimador, pois uma pequena proteção ainda é melhor que nenhuma, e pode evitar que complicações bem mais graves surjam”, ressaltou. “Outro ponto que precisamos ter em mente é que temos várias vacinas sendo feitas, então, as chances de outras fórmulas preencherem essas lacunas são bem altas”, complementou.

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OMS critica pessimismo

Diante das reações de diversos países — principalmente, europeus — à falta de dados sobre a eficácia da vacina da Universidade de Oxford em pessoas com idade mais avançada, a Organização Mundial de Saúde (OMS) pediu calma e declarou que, ainda, é necessário avaliar melhor os dados científicos relacionados ao efeito do imunizante em idosos. Vários funcionários da agência da ONU e do sistema Covax alertaram contra um excesso de pessimismo em relação ao imunizante, principalmente no que diz respeito a salvar vidas e limitar hospitalizações.

“É muito cedo para rejeitar essa vacina, uma parte importante da resposta global à atual pandemia”, assinalou Richard Hatchett, um dos responsáveis pelo mecanismo Covax para garantir uma distribuição justa da vacina contra a covid. “É absolutamente crucial usar as ferramentas de que dispomos da forma mais eficaz possível”, acrescentou, em uma entrevista coletiva na sede da OMS, em Genebra. As dúvidas sobre a eficácia do fármaco da AstraZeneca em pessoas com mais de 65 anos se multiplicaram nas últimas semanas.

Michael Ryan, responsável por questões emergenciais de saúde da OMS, disse, por sua vez, que “a principal tarefa das vacinas”, hoje, é reduzir o número de hospitalizações e mortes. “E, atualmente, parece-me que os dados mostram que isso é o que todas as vacinas fazem”, afirmou Ryan, reconhecendo que será necessária “uma segunda e terceira geração de vacinas para fazer mais”.

A vacina da AstraZeneca, que ainda não obteve a homologação da OMS, representa a maioria das doses que serão distribuídas pelo sistema Covax aos países mais desfavorecidos. O fármaco foi aprovado para uso emergencial em pelo menos 50 países, incluindo o Brasil, mas nações como Espanha, Alemanha, França, Polônia, Áustria, Suécia e Itália decidiram não recomendar o uso do imunizante em pessoas com mais de 65 anos.

Ontem, Portugal se uniu a esse grupo. De acordo com um documento assinado pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, essa medida restritiva vigorará “até novos dados estarem disponíveis”.

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