SAÚDE

Análise do sangue pode prever quadro grave em paciente com covid-19

Níveis altos de cinco proteínas sanguíneas podem indicar quem tem maior risco de sofrer um agravamento da doença, mostra pesquisa americana. Segundo cientistas, o exame feito no primeiro dia da internação já acusa a maior vulnerabilidade

Correio Braziliense
postado em 27/02/2021 06:00
 (crédito: Joaquín Sarmiento/AFP - 13/8/20)
(crédito: Joaquín Sarmiento/AFP - 13/8/20)

Quando os pacientes com covid-19 chegam às salas de emergência, há, relativamente, poucas maneiras de os médicos preverem quais têm maior probabilidade de ficar gravemente enfermos e exigir cuidados intensivos e quais têm maior probabilidade de apresentar uma recuperação rápida. Uma nova pesquisa da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, pode ajudá-los a identificar pistas iniciais importantes.

Em um estudo recente, os pesquisadores relataram que uma série de biomarcadores, ou sinais biológicos, associados à ativação dos glóbulos brancos e à obesidade pode prever resultados graves em pacientes com covid-19. As descobertas foram publicadas na revista Blood Advances. “Pacientes com altos níveis desses marcadores eram muito mais propensos a exigir cuidados na unidade de terapia intensiva, ventilação ou morrer devido à covid”, afirma Hyung Chun, o principal autor e professor de medicina e patologias em Yale.

Anteriormente, alguns estudos de laboratório haviam identificado possíveis indicadores da covid grave — incluindo níveis de dímero-D, uma medida de coagulação do sangue, e níveis de proteínas conhecidas como citocinas, que são liberadas como parte das respostas inflamatórias no corpo. No entanto, até agora, nenhum marcador laboratorial poderia prever quais pacientes acabariam por ficar gravemente enfermos antes de apresentarem sinais e sintomas clínicos de doença grave.

No novo estudo, os pesquisadores de Yale usaram perfis proteômicos — uma triagem de várias proteínas no sangue — para analisar amostras retiradas de 100 pacientes que experimentariam diferentes níveis de gravidade da covid-19. Em todos os casos, as amostras de sangue foram coletadas no primeiro dia de internação. Os pesquisadores também analisaram dados clínicos de mais de 3 mil pacientes adicionais no sistema do Hospital Yale New Haven.

Eles descobriram que cinco proteínas (resistina, lipocalina-2, HGF, IL-8 e G-CSF) associadas aos neutrófilos, um tipo de glóbulo branco, estavam elevadas nos pacientes que, mais tarde, ficaram gravemente enfermos. Muitas dessas proteínas foram previamente associadas à obesidade, mas não à covid ou a outras doenças virais.

Tratamento precoce

Notavelmente, os biomarcadores de neutrófilos elevados para pacientes que apresentariam sintomas mais graves eram evidentes antes do aparecimento desses sintomas. Todos os pacientes que foram admitidos ou transferidos para a UTI tinham marcadores de ativação de neutrófilos elevados, enquanto esses biomarcadores permaneceram baixos para os que nunca desenvolveram a doença grave. Nenhum dos pacientes com níveis mais baixos de neutrófilos morreu.

“Essa é uma das primeiras demonstrações de que um conjunto de biomarcadores no sangue de pacientes com covid-19 pode prever eventual admissão na UTI, mesmo antes de tais pacientes ficarem gravemente enfermos”, enfatiza Alfred Lee, um dos autores do estudo e professor-associado de medicina em hematologia de Yale.

O conhecimento precoce desses indicadores pode melhorar, significativamente, o tratamento do paciente, segundo a equipe de cientistas. “Se um teste de diagnóstico (para esses biomarcadores) pudesse ser solicitado precocemente, poderia nos dar uma noção melhor de quem tem mais probabilidade de ficar gravemente doente e se beneficiará, em sua hospitalização, de um nível maior de cuidado e de consideração por terapias que afetam o sistema imunológico precocemente”, justifica Chun. “Muitas dessas drogas carregam efeitos colaterais potenciais, e esses testes podem ajudar a identificar os pacientes que mais se beneficiariam.”

Obesidade

O estudo também destaca a conexão entre covid-19 e obesidade, disseram os pesquisadores. Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA observam que o excesso de peso aumenta o risco de doenças graves causadas pela infecção pelo novo coronavírus. A obesidade triplica o risco de hospitalização pela doença, e os níveis de índice de massa corporal (IMC) se correlacionam com o risco de morte.

Os neutrófilos são células inflamatórias. Então, faz sentido que eles estejam elevados no contexto de obesidade — que envolve inflamação crônica de baixo grau — e covid, que causa hiperinflamação nos casos mais graves, levando a danos nos tecidos e a falência de órgãos. “Também há sinais de que os neutrófilos podem participar da trombose ou da coagulação do sangue”, afirma Lee, outra característica marcante da infecção por Sars-CoV-2.

Os pesquisadores vão expandir seu estudo sobre a relação entre biomarcadores e covid, observando pacientes que se recuperaram de uma doença aguda. “Esperamos que essas descobertas motivem outros grupos a examinar suas próprias populações de pacientes”, diz Chun, acrescentando que eles precisarão de estudos de validação adicionais que possam apoiar o desenvolvimento de testes de diagnóstico para esses biomarcadores.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tubo de ensaio Fatos científicos da semana

 (crédito: Tony Karumba/AFP)
crédito: Tony Karumba/AFP

Segunda-feira, 22
Os principais alvos das fakenews
Estudo do Centro de Pesquisas Pew comprovou que os americanos que dependem das redes sociais como principal fonte de notícias são mais propensos a acreditar em informações falsas ou não comprovadas sobre assuntos importantes como política e covid-19. O levantamento constatou que essas pessoas estão menos informadas sobre os principais temas da agenda pública e são mais suscetíveis a acreditar em rumores e notícias falsas. Segundo o estudo do Pew, cerca de 18% dos entrevistados obteve a maioria da informação que consumiu sobre política e as eleições pelas redes sociais. No entanto, elas eram menos propensas a responder corretamente a perguntas baseadas em fatos sobre política e eventos atuais do que aquelas que se informaram por meio de jornais impressos, notícias emitidas na televisão ou aplicativos informativos. Os consumidores de notícias nas redes sociais estavam mais cientes de histórias falsas ou não comprovadas sobre o coronavírus e admitiram ter visto mais informações erradas sobre a pandemia.

Terça-feira, 23
Pesticidas elevam risco de leucemia grave
Cientistas franceses estabeleceram uma conexão entre o uso de pesticidas no âmbito profissional e o perigo de sofrer de leucemia mieloide aguda, a forma mais grave da doença para os adultos. De acordo com este estudo publicado na Scientific Reports, quatro hematologistas de um hospital em Tours, região central da França, analisaram por dois anos dados científicos publicados em três grandes bancos de dados globais entre 1946 e 2020. “É um risco relativo de 1,51, o que significa que, em comparação com a população não exposta a agrotóxicos, aumenta em 50% o risco de desenvolver esse tipo de leucemia”, ressaltou Olivier Hérault, diretor dos serviços de hematologia biológica do hospital. O estudo também determina que a correlação é “mais importante” entre inseticidas e doenças e menos no caso de herbicidas e fungicidas. Além disso, estabelece que o perigo é maior na Ásia e nos Estados Unidos do que na Europa.

Quarta-feira, 24
Na companhia dos cães
A história dos seres humanos está intimamente ligada à dos cães. Agora, um estudo da universidade americana de Buffalo mostrou que cachorros acompanharam os primeiros humanos que chegaram à América do Norte. Os cientistas chegaram a essa conclusão após análise do DNA de um fragmento de osso de cachorro encontrado no sudeste do Alasca, com restos mortais humanos. Inicialmente, os pesquisadores acreditaram que se tratava de um urso, mas uma investigação aprofundada revelou que era uma parte do fêmur de um cão que viveu na região há cerca de 10.150 anos. Compartilha uma linhagem genética com cachorros americanos (chamados de “pré-contato”), que antecederam a chegada de raças europeias, que acompanharam os primeiros colonizadores. Publicado na revista Proceedings of the Royal Society B, o estudo apoia a teoria de que os humanos povoaram o continente norte-americano a partir da Sibéria, por meio de um trajeto costeiro.

Quinta-feira, 25
Ônibus autônomo nas ruas da Espanha
Málaga, no sul da Espanha, é palco de um projeto inédito na Europa. Um ônibus sem motorista começou a circular nas ruas da cidade. O veículo 100% elétrico é dotado de sensores e câmeras e percorre um trajeto de 8km, do porto ao centro de Málaga. Segundo Rafael Durbán Carmona, diretor da divisão sul da sociedade Avanza, líder do consórcio responsável pelo projeto, o ônibus pode interagir com os semáforos, também equipados com sensores que indicam quando mudam de cor. Um dispositivo de inteligência artificial permite que o veículo melhore suas decisões em função dos dados coletados ao longo do trajeto. O veículo tem 12 metros de comprimento e capacidade para 60 pessoas. É a primeira vez na Europa em que um veículo desse tamanho circula nas mesmas ruas que outros automóveis.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação