CIÊNCIA

Vacinas de Oxford e da Pfizer reduzem em 90% a internação de idosos

Taxa média é obtida com o uso de apenas uma dose tanto da vacina Oxford/AstraZeneca quanto da Pfizer/BioNTech. Cientistas constatam o efeito no Reino Unido, quatro semanas depois de indivíduos com ao menos 70 anos receberem a primeira injeção

Vilhena Soares
postado em 02/03/2021 06:00
 (crédito: AFP / Oli SCARFF)
(crédito: AFP / Oli SCARFF)

A vacina contra a covid-19 desenvolvida pelos parceiros britânicos Universidade de Oxford/AstraZeneca e o imunizante da Pfizer/BioNTech reduziram em 90% as hospitalizações de indivíduos acima de 70 anos após a aplicação da primeira dose. Esse alto nível de efetividade foi anunciado ontem, em estudo preliminar divulgado pelo Serviço de Saúde Inglês (PHE), que analisou dados coletados durante a campanha oficial de imunização no Reino Unido. Segundo especialistas, os resultados são importantes pelo efeito protetivo em uma das populações mais vulneráveis ao coronavírus e porque respondem a dúvidas quanto à eficácia da fórmula britânica nesse público — questões levantadas principalmente por países da Europa. O imunizante também é um dos usados no Brasil, que segue na fase de vacinação do grupo prioritário, do qual os idosos fazem parte.

Na análise da PHE, que já foi submetida à avaliação de especialistas (pares), os pesquisadores observaram que a proteção contra a covid-19 sintomática em pessoas com mais de 70 anos variou entre 57% e 61% para uma dose da vacina da Pfizer/BioNTech e entre 60% e 73% para a Oxford/AstraZeneca. Em ambos os casos, considerou-se o intervalo de quatro semanas após a vacinação. “Os dados detalhados mostram que a proteção obtida 35 dias depois de uma primeira injeção é, inclusive, ligeiramente melhor para a vacina da Oxford do que para a da Pfizer”, enfatizou, em comunicado, o ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock.

À rede de televisão BBC, Jonathan Van Tam, uma das autoridades médicas do governo britânico, disse que “não era imunologicamente plausível” que o imunizante da Oxford/AstraZeneca funcionasse em pessoas mais jovens e não em idosos. “Os dados do PHE justificaram claramente essa abordagem”, ressaltou. Autoridades de países como Alemanha, Espanha e França suspeitaram do efeito protetivo do fármaco alegando que havia poucos dados em estudos clínicos com indivíduos dessa faixa etária.

O estudo da PHE também mostrou que as duas vacinas foram mais de 80% eficazes na prevenção de hospitalizações em função da covid-19 em pessoas com mais de 80 anos. A equipe também considerou a aplicação de apenas uma dose. “Esses resultados podem ajudar a explicar por que o número de internações pelo novo coronavírus em unidades de terapia intensiva entre pessoas com mais de 80 anos no Reino Unido caiu nas últimas semanas”, declarou Hancock.

Ambiente real

Os dados analisados foram coletados desde o início da aplicação de vacinas na população do Reino Unido, em 8 de dezembro — hoje, mais de 20 milhões dos habitantes foram vacinados, o equivalente a cerca de 30% da população. Os pesquisadores adiantam que mais estudos precisam ser feitos, mas que uma pesquisa separada com profissionais de saúde já mostrou que uma dose de qualquer uma das duas vacinas pode reduzir em 70% o número de pessoas que contraem a covid-19 assintomática.

Segundo Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), os dados são extremamente animadores, pois avaliam, pela primeira vez, a vacina em um ambiente real. “Estudos controlados são diferentes do ambiente em que vivemos, em que vários elementos podem interferir. Nessas análises feitas na prática, temos ainda mais segurança dos dados obtidos, porque é o cenário que enfrentamos no dia a dia”, explicou.

Kfouri ressalta que a análise de eficiência da vacina britânica em idosos era bastante esperada por especialistas da área. “Esses eram os que nós mais aguardávamos, porque o número de idosos que participaram das análises clínicas finais foi bem limitado. As campanhas de imunização têm começado por essa parcela da população e, por isso, já podemos observar essa efetividade nesse grupo, o que é muito animador.”

OMS

Apesar das recentes notícias promissoras sobre o efeito das vacinações na vida real, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, ontem, que não é realista acreditar que o mundo vai derrotar a pandemia até o fim deste ano. “Seria muito prematuro e, eu diria, carente de realismo”, declarou Michael Ryan. O diretor de Emergências da agência ressaltou que o vírus continua ativo, levando em consideração que o número global de novos casos aumentou após sete semanas consecutivas de queda. “Mas acho que o que podemos interromper, se formos inteligentes, são as hospitalizações, as mortes e a tragédia que essa pandemia traz”, acrescentou.

Segundo Ryan, o objetivo da OMS é diminuir os níveis de contágio, ajudar a prevenir o surgimento de variantes e reduzir o número de pessoas que adoecem. Nesse sentido, afirmou, vacinar os profissionais de saúde mais expostos e as pessoas vulneráveis “reduz o medo e a tragédia”. A expectativa da agência é de que a imunização das equipes de saúde esteja em andamento em todos os países nos primeiros 100 dias de 2021.

» Palavra de especialista

A medida mais eficaz

“É importante deixar claro que não existe medida mais eficaz para passar por este momento difícil que não seja a vacina. É a principal ferramenta para conseguir controlar a evolução da doença, além de impedir que mais pessoas sejam infectadas. Isso é importante porque, quando fazemos isso, nós também diminuímos as chances de surgirem novas variantes, é uma corrente que se quebra. O mundo inteiro está neste momento priorizando os idosos, por serem mais suscetíveis, já que eles apresentam muitas comorbidades. Vemos, nesses novos estudos, que, nesse público, os resultados dos imunizantes têm sido positivos. Temos observado que, mesmo em tempo recorde, a performance dessas vacinas é a mesma da observada em laboratório durante os testes de desenvolvimento. Agora, há fatos que respondem a possíveis dúvidas relacionadas a essa eficiência, e isso é muito bom, pois faz com que as pessoas fiquem ainda mais abertas, aumentando, assim, o número de imunizados.” Luciano Lourenço, clínico geral e chefe da Emergência do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.

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