Vitamina D pode ter efeito protetivo

Estudo indica que, em níveis acima do indicado, substância evita a infecção pelo Sars-CoV-2. O efeito é constatado em pessoas negras, e cientistas americanos avaliam, agora, se é possível obtê-lo por meio de suplementação

Correio Braziliense
postado em 19/03/2021 20:12 / atualizado em 19/03/2021 20:13
 (crédito: Brandon Bell/AFP - 4/3/21 )
(crédito: Brandon Bell/AFP - 4/3/21 )

Uma nova pesquisa da Universidade de Medicina de Chicago constatou que, quando se trata de covid-19, ter níveis de vitamina D acima dos tradicionalmente considerados suficientes pode reduzir o risco de infecção, especialmente para pessoas negras. O estudo, publicado na revista Jama, da Associação Norte-Americana de Medicina, examinou retrospectivamente a relação entre as taxas dessa substância e a probabilidade de testar positivo para o Sars-CoV-2.

Embora os níveis de 30ng/ml ou mais sejam geralmente considerados suficientes, os autores descobriram que os indivíduos negros com taxas de 30 a 40ng/ml tinham um risco 2,64 vezes maior de testar positivo para a covid-19 do que aqueles com taxas acima de 40ng/ml. Associações estatisticamente significativas não foram encontradas em pessoas brancas. O estudo analisou dados de mais de 3 mil pacientes do hospital da instituição que tiveram os níveis de vitamina D testados 14 dias antes de serem submetidos a um teste de covid.

A equipe está, agora, recrutando participantes para dois ensaios clínicos separados que testam a eficácia dos suplementos de vitamina D na prevenção da covid-19. O estudo publicado na Jama é uma expansão de uma pesquisa que mostra que uma deficiência de vitamina D (menos de 20ng/ml) pode aumentar o risco de teste positivo para o coronavírus.

No estudo atual, esses resultados foram confirmados, apontando que os indivíduos com deficiência de vitamina D tinham um risco 7,2% maior de testar positivo para o vírus. Um estudo separado descobriu, recentemente, que mais de 80% dos pacientes diagnosticados com covid-19 eram deficientes em vitamina D. “Nossos resultados apoiam os argumentos para a concepção de ensaios clínicos que podem testar se a vitamina D pode ou não ser uma intervenção viável para reduzir o risco da doença, especialmente em pessoas negras”, afirma David Meltzer, principal autor do estudo.

Meltzer conta que a ideia de investigar essa associação veio depois de ele ver um artigo do início de 2020 que descobriu que pessoas com deficiência de vitamina D que haviam sido aleatoriamente designadas para receber suplementação da substância tinham taxas muito mais baixas de infecções respiratórias virais. Ele decidiu, então, investigar a questão nos pacientes do Hospital Universitário.

“Há muita literatura sobre a vitamina D. A maior parte concentra-se na saúde óssea, que é de onde vêm os padrões atuais para níveis suficientes da substância”, explica Meltzer. “Mas também há algumas evidências de que a vitamina D pode melhorar a função imunológica e diminuir a inflamação. Até agora, os dados têm sido relativamente inconclusivos. Com base nesses resultados, pensamos que estudos anteriores podem ter testado doses muito baixas para se ter um efeito sobre o sistema imunológico, ainda que suficientes para a saúde óssea. Pode ser que diferentes níveis de vitamina D sejam adequados para diferentes funções.”

Cuidados

A vitamina D pode ser obtida por meio de dieta, suplementos ou produzida pelo corpo em resposta à exposição da pele à luz solar. Meltzer observou que a maioria dos indivíduos, especialmente pessoas com pele mais escura, tem níveis mais baixos da substância: cerca de metade da população mundial tem níveis abaixo de 30 ng/ml. “Salva-vidas, surfistas, esse é o tipo de pessoa que tende a ter níveis de vitamina D mais do que suficientes”, ilustra.

Contudo o médico alerta: embora os suplementos sejam relativamente seguros, o consumo excessivo está associado à hipercalcemia, uma condição na qual o cálcio se acumula na corrente sanguínea e causa náuseas, vômitos, fraqueza e micção frequente. Se não for controlada, pode resultar em ainda mais dores nos ossos e pedras nos rins. “Atualmente, a ingestão de vitamina D recomendada para adultos é de 600 a 800 unidades internacionais (UI) por dia”, diz Meltzer. “A Academia Nacional de Medicina diz que tomar até 4 mil UI por dia é seguro para a grande maioria das pessoas, e o risco de hipercalcemia aumenta em níveis acima de 10 mil UI por dia.”

Um dos desafios do estudo é que, atualmente, é difícil determinar exatamente como a vitamina D pode estar apoiando a função imunológica. “Trata-se de um estudo observacional”, justifica Meltzer. “Podemos ver que há uma associação entre os níveis de vitamina D e a probabilidade de um diagnóstico de covid-19, mas não sabemos exatamente por que isso acontece ou se esses resultados são devidos diretamente à vitamina D ou a outros fatores biológicos relacionados.”


7,2% maior
É o risco de testar positivo para a covid-19 quando a pessoa tem deficiência de vitamina D

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Oxford: aval da OMS

Um dia depois de a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) afirmar que a vacina da AstraZeneca/Oxford é segura, a Organização Mundial da Saúde voltou a dizer que os benefícios do imunizante superam os riscos. Além disso, o Comitê Global Sobre Segurança de Vacinas (GACVS) destacou que análises médicas descartam que a vacinação aumenta a probabilidade de coágulos sanguíneos.

“Os dados disponíveis não sugerem qualquer aumento geral nas condições de coagulação, como trombose venosa profunda ou embolia pulmonar, após a administração de vacinas para covid-19”, diz o comunicado. “As taxas relatadas de eventos tromboembólicos após as vacinas estão de acordo com o número esperado de diagnósticos dessas condições. Ambas as condições ocorrem naturalmente e não são incomuns. Elas também ocorrem como resultado de covid-19. As taxas observadas têm sido menores do que o esperado.”

A OMS também destacou que, embora eventos tromboembólicos muito raros e únicos tenham sido relatados após a vacinação com o imunizante da AstraZeneca, não é possível dizer que tenham sido causados pela substância. “O Comitê de Avaliação de Farmacovigilância e Risco da Agência Europeia de Medicamentos analisou 18 casos de trombose do seio venoso cerebral de um total de mais de 20 milhões de imunizados com a vacina na Europa. Uma relação causal entre esses eventos raros não foi estabelecida até o momento.”

No comunicado, o subcomitê recomenda que os países continuem a monitorar a segurança de todas as vacinas para covid e façam a notificação de suspeitas de eventos adversos.

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