CIÊNCIA

Covid-19: origem da pandemia é animal, sugere OMS

Segundo especialistas da agência que viajaram à China, provavelmente, o Sars-CoV-2 foi transmitido de morcegos para humanos por um bicho ainda não identificado. Grupo também avalia ser "improvável" a tese de que patógeno escapou de um laboratório

Correio Braziliense
postado em 30/03/2021 06:00
 (crédito: Hector Retamal/AFP)
(crédito: Hector Retamal/AFP)

Após uma visita de especialistas à China e uma série de análises feitas na região, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou relatório sobre a origem da pandemia da covid-19. No documento, redigido por especialistas da agência das Nações Unidas e por cientistas chineses, descarta-se a tese de que o Sars-CoV-2 “escapou” de um laboratório na cidade de Wuhan. Os autores também apoiam a hipótese de uma transmissão do vírus aos seres humanos por meio de um animal intermediário que teria sido infectado por um morcego.

O relatório afirma que, embora alguns vírus semelhantes ao patógeno da covid-19 tenham sido encontrados em morcegos, a distância evolutiva entre esses agentes infecciosos e o Sars-CoV-2 é estimada em várias décadas, sugerindo um “elo perdido” entre os dois. Com base nisso, os cientistas defendem a teoria de que o novo coronavírus foi, provavelmente, transmitido de um morcego para o homem por meio de outro animal. Esse agente intermediário ainda não foi identificado, mas os autores indicam espécies suspeitas (leia Para saber mais). Apesar de menos provável, a equipe não descarta a hipótese de uma transmissão direta, em que o vírus passa diretamente do hospedeiro original para os humanos. Para os especialistas, só mais estudos poderão esclarecer a questão.

Como havia sido levantado no fim da missão à China, em fevereiro, o relatório reforça que é “extremamente improvável” que a pandemia tenha sido provocada por um acidente ou até uma fuga de patógenos de um laboratório. Essa possibilidade foi defendida por Donald Trump, à época presidente dos Estados Unidos, que acusou o Instituto de Virologia de Wuhan de ter deixado o vírus escapar. Segundo os autores, “embora raros, acidentes de laboratório ocorrem”, mas “não há registros de vírus intimamente relacionados ao Sars-CoV-2 em qualquer laboratório antes de dezembro de 2019, nem de genomas que, combinados, poderiam ser relacionados a esse patógeno”.

A missão da OMS enfrentou alguns problemas antes de ser concluída, como atrasos gerados pela relutância de autoridades chinesas em receber os especialistas mundiais. Para a virologista holandesa Marion Koopmans, que faz parte da equipe que foi ao país asiático, o relatório não deixa “tudo resolvido, mas é, sem dúvidas, um bom começo”. A previsão é de que o documento seja apresentado integralmente hoje. “Todas as hipóteses estão sobre a mesa e merecem mais estudos em profundidade”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Embalagens

Durante a análise no mercado Huanan e em outras feiras de alimentos da cidade de Wuhan, os especialistas não encontraram “elementos que confirmassem a presença de animais infectados”, de acordo com o relatório. A recomendação do grupo é de que sejam feitas investigações em áreas mais amplas e em um maior número de países.

A teoria de que os alimentos congelados e suas embalagens podem ter sido um vetor potencial para a disseminação Sars-CoV-2 também é tratada no documento da OMS. Essa possibilidade entra em concordância com declarações de governantes chineses, que defendem uma origem estrangeira do patógeno. Mas, segundo o relatório, a hipótese da entrada do novo coronavírus na China por meio de alimentos congelados em 2019 seria “extraordinária”, pois o vírus “não circulava, então, em uma grande escala no mundo”.

O patógeno da covid-19 já foi detectado na embalagem externa de produtos congelados importados, sugerindo que ele pode resistir ao frio. Porém os especialistas da OMS destacaram que não há evidências conclusivas para a transmissão do Sars-CoV-2 através dos alimentos. Além disso, enfatizam que a probabilidade de contaminação em uma cadeia de frio é “muito baixa”.

» Para saber mais

Aposta em mamíferos

O documento lista uma série de animais que podem ter desempenhado o papel de intermediários na transmissão do coronavírus dos morcegos aos humanos. Gatos, coelhos, visons e até espécies menos comuns, como o pangolim, um mamífero conhecido por suas extensas escamas, fazem parte da lista.
A civeta e o furão-texugo, duas espécies que eram portadoras do vírus Sars no início dos anos 2000, na província chinesa de Cantão (sul do país), também estão entre os suspeitos. A civeta é um mamífero de pelos pretos e manchas brancas que vive, principalmente, na África e na Ásia. O furão-texugo faz parte dos mustelídeos, a família de mamíferos que inclui doninhas, texugos, furões, lontras e visons.

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