Prevenção

SpillOver: aplicativo indica se um vírus vai desencadear uma pandemia

Para construir a ferramenta, os pesquisadores definiram uma série de fatores de risco viral considerando estudos minuciosos sobre o patógeno em questão e o seu nível de perigo aos seres humanos

Correio Braziliense
postado em 06/04/2021 06:00
 (crédito: Noel Celis/AFP - 1/1/21)
(crédito: Noel Celis/AFP - 1/1/21)

Diante do impacto causado pela pandemia da covid-19, pesquisadores têm se dedicado a desenvolver medidas que evitem a disseminação acelerada de vírus com alto potencial mortal, como o novo coronavírus. Nesse sentido, uma equipe dos Estados Unidos criou um aplicativo para monitorar o surgimento de patógenos que vivem em animais e podem ser transmitidos para os humanos, o que parece ter acontecido com o Sars-CoV-2. A tecnologia, que será aberta ao público científico, foi apresentada na última edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Para construir a ferramenta, chamada SpillOver, os pesquisadores definiram uma série de fatores de risco viral considerando estudos minuciosos sobre o patógeno em questão e o seu nível de perigo aos seres humanos. “O SpillOver foi inspirado em avaliações de risco usadas por bancos e seguradoras. Ele cria uma pontuação semelhante a um crédito para os vírus. Nesse processo, observa os principais fatores de risco e os usa para priorizar os agentes infecciosos que representam uma ameaça maior à saúde humana e que, por isso, merecem uma maior observação”, explicam os autores do estudo.

O SpillOver avalia 32 fatores de risco sobre o vírus e seus hospedeiros, além de levar em consideração o ambiente em que o micro-organismo foi encontrado e características do comportamento humano. A ferramenta produz um relatório de risco detalhado para cada vírus. Além disso, “os usuários podem personalizar a lista de observação de acordo com as próprias circunstâncias, como o país de interesse”, informa o artigo.

Há também a opção de “comparação de risco”, que permite aos usuários realizarem análises levando em conta patógenos já conhecidos. Até agora, 887 vírus tiveram o seu potencial pandêmico avaliado — o Sars-Cov-2 é o segundo colocado do ranking, atrás apenas do lugar entre os 887 vírus analisados, entre os vírus de Lassa, responsável por uma febre hemorrágica viral aguda.

Dados compartilhados

Como o aplicativo é de código aberto, a intenção é de que os usuários possam compartilhar novos dados e, dessa forma, aumentar o poder de análise do dispositivo. “Essa tecnologia tem como objetivo iniciar uma conversa global que nos permitirá ir muito além do que já fazíamos em relação à classificação de vírus. Também permitirá uma colaboração científica, em tempo real, para identificar novas ameaças com muito mais antecedência. O SpillOver vai nos permitir agir antes que as epidemias se alastrem”, enfatiza, em comunicado, Jonna Mazet, professora da Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Califórnia e autora da pesquisa.

“O Sars-CoV-2 é apenas um exemplo de muitos milhares de vírus que têm o potencial de se espalhar de animais para humanos. Precisamos não apenas identificar, mas também priorizar as ameaças virais com maior risco de contaminação antes que outra pandemia devastadora aconteça”, completa Zoë Grange, também autora do estudo e pesquisadora da Universidade da Califórnia.

Usando o aplicativo, a equipe conseguiu avaliar um grupo de coronavírus recém-descobertos e classificá-lo de acordo com o risco de propagação. Os criadores do SpillOver pretendem realizar novos testes antes de disponibilizá-lo para o uso científico.

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Animal intermediário

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório, na semana passada, em que afirma que são mais significativos os indícios de que a transmissão do novo coronavírus aos seres humanos se deu por meio de um animal intermediário infectado por um morcego. Ainda não se sabe qual seria esse bicho que atuaria como um vetor — furões, visons e pangolins estão entre os suspeitos.

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