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Covid-19: estudo com 627 mil britânicos confirma segurança de vacinas

Efeitos colaterais após aplicação de doses da AstraZeneca/Oxford e da Pfizer/BioNTech na população em geral são menores do que os registrados em testes clínicos. Para especialistas, o resultado do estudo pode trazer segurança para quem ainda teme a imunização

Paloma Oliveto
postado em 28/04/2021 06:00
Vacinação em quadra de esportes na Colômbia: sintomas foram mais comuns em mulheres e em pessoas com menos de 50 anos -  (crédito: Raul ARBOLEDA/AFP - 7/4/21)
Vacinação em quadra de esportes na Colômbia: sintomas foram mais comuns em mulheres e em pessoas com menos de 50 anos - (crédito: Raul ARBOLEDA/AFP - 7/4/21)

Os casos raros de trombose e choque anafilático envolvendo, respectivamente, as vacinas contra a covid-19 da AstraZeneca/Oxford e da Pfizer/BioNTech levaram muitas pessoas a temer a imunização. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, mais de 1,5 milhão não voltaram para receber a segunda dose da substância. Porém, um estudo publicado na revista The Lancet Infectious Diseases com 627.383 britânicos mostra que há pouco a temer. Apenas um em cada quatro indivíduos imunizados sofreu efeitos colaterais leves, como dor de cabeça, dor no corpo e fadiga. Esses sintomas desapareceram, em média, dois dias depois da aplicação.

O estudo é o primeiro de larga escala a comparar os efeitos colaterais das duas vacinas e calcular a prevalência dos sintomas leves no programa de vacinação do Reino Unido, o primeiro do mundo, iniciado em dezembro passado. Os pesquisadores, do King´s College de Londres, usaram dados do aplicativo de estudos epidemiológicos Zoe Covid Symptom Study, que coleta informações autorrelatadas por pacientes de covid e, agora, usuários das vacinas. Os sintomas listados foram sentidos dentro de oito dias depois do recebimento de uma ou duas doses da vacina da Pfizer, e de uma dose da AstraZeneca, entre 8 de dezembro e 10 de março.

Os pesquisadores ficaram surpresos ao observar que a prevalência dos efeitos colaterais na população vacinada foi menor do que as registradas nas fases de estudos clínicos. “Os dados devem tranquilizar muitas pessoas de que, no mundo real, os efeitos da vacina são, geralmente, leves e de curta duração, especialmente naquelas com mais de 50 anos, que estão em maior risco de infecção”, diz Tim Spector, professor de epidemiologia no King´s College e cientista-chefe do Zoe Covid Symptom Study. Os resultados indicaram, ainda, que os sintomas foram mais comuns em mulheres e em pessoas com menos de 50 anos.

A aposentada Antonia Mércia Gomes Lobo, 65 anos, conta que não teve nenhum receio ao ser imunizada, há duas semanas, com a vacina da AstraZeneca. “Eu estava doida para vacinar”, conta. Quando chegou a vez dela, fez questão de usar uma camiseta especial, com os dizeres “Minha camiseta oficial de tomar vacina”. No fim do dia, Mércia começou a sentir uma forte dor no corpo. “Parecia que estava toda quebrada. No fim da tarde do dia seguinte, foi diminuindo e passou. As pessoas devem tomar a vacina”, aconselha a aposentada, que “não vê a hora da segunda dose”.

Dor de cabeça

No estudo inglês, os efeitos colaterais sistêmicos (excetuando o local da aplicação) relatados foram dor de cabeça, fadiga, calafrios e tremores, diarreia, febre, artralgia, mialgia e náusea. Uma ou mais dessas condições foram informadas por 25,4% das pessoas vacinadas. Já os efeitos locais (no braço) incluíram dor, inchaço, sensibilidade, vermelhidão, coceira, calor e glândulas das axilas inchadas e foram descritos por 66,2% dos imunizados.

Segundo os dados, 13,5% dos participantes relataram efeitos colaterais após a primeira dose de Pfizer, 22% após a segunda dose da mesma substância e 33,7% depois da primeira dose de AstraZeneca. O sintoma sistêmico mais relatado foi dor de cabeça, observado por 7,8% das pessoas que tomaram a primeira dose da Pfizer e por 13,2% após a segunda dose. Quanto à AstraZeneca, a taxa foi de 22,8% na primeira aplicação.

O segundo efeito colateral sistêmico mais prevalente foi a fadiga (8,4% e 14,4% dos participantes tiveram esse sintoma após a primeira e a segunda dose da vacina Pfizer, respectivamente, e 21,1% depois da primeira dose da AstraZeneca).

Nos ensaios clínicos de fase três da vacina da Pfizer, os efeitos colaterais mais comuns foram dor no local da injeção (71% a 83%), fadiga (34% a 47%) e dor de cabeça (25% a 42%). A análise do mundo real detectou uma prevalência menor desses sintomas (menos de 10% tiveram fadiga e dor de cabeça depois da primeira dose). O mesmo ocorreu com a AstraZeneca: na última etapa dos testes, 88% dos participantes entre 18 a 55 anos disseram ter tido algum efeito no local da aplicação: no estudo atual, essa taxa foi de 46,2%.

Outra constatação da pesquisa é a de que a probabilidade de sofrer algum efeito colateral sistêmico foi três vezes maior em pessoas que tiveram covid-19 alguma vez e tomaram a vacina da Pfizer. Esse risco foi duas vezes maior no caso da AstraZeneca.

Proteção reafirmada

Além de coletar e analisar dados sobre os efeitos colaterais, os pesquisadores relataram, no artigo, informações sobre a eficiência de ambas as vacinas. Os resultados mostraram um nível de proteção de até 70% depois de três semanas da primeira dose, comparado a um grupo de controle. A diminuição das taxas de infecção ao longo do 12º ao 21º dia depois da primeira injeção da Pfizer foi de 58% e de 39% em relação ao imunizante da AstraZeneca.

A queda nos novos casos em três semanas foi de 69% (Pfizer) e 60% (AstraZeneca). “Nossos resultados apoiam a segurança de ambas as vacinas, com menos efeitos colaterais na população geral do que relatado nos ensaios clínicos, e devem ajudar a dissipar as preocupações das pessoas que desejam ser vacinadas”, afirma, em nota, Cristina Menni, primeira autora do estudo e pesquisadora do King´s College.

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Efeitos de caráter leve

Esse trabalho é bem importante, pois certifica que ambas as vacinas geraram efeitos adversos em uma proporção importante dos vacinados — porém, todos, tanto localizados quanto sistêmicos, de caráter leve. Já se tinha informação semelhante nos trabalhos de fase três. Em conclusão, são vacinas extremamente seguras”. José David Urbaez,
infectologista e diretor científico da Sociedade de Infectologia do DF.

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