Amazônia emite mais carbono que absorve

Identificado pela primeira vez na floresta brasileira, o fenômeno está ligado às mudanças climáticas e à ação direta humana, como o desmatamento. Estudo mostra que, entre 2010 e 2019, as perdas foram 18% superiores aos ganhos

Correio Braziliense
postado em 30/04/2021 19:57 / atualizado em 30/04/2021 20:55
 (crédito: Carl de Souza/AFP - 15/8/20)
(crédito: Carl de Souza/AFP - 15/8/20)

Mudanças climáticas e atividades humanas, como desmatamento ilegal, levaram a Floresta Amazônica brasileira a emitir mais carbono do que absorvê-lo na última década, uma inversão que ainda não havia acontecido, segundo um estudo publicado na revista Nature Geosciences. As florestas absorvem entre 25% e 30% dos gases de efeito estufa emitidos pelo ser humano, e a perda desse bioma pode acentuar significativamente o problema do aquecimento global, considerando que a Amazônia representa a metade das florestas tropicais do mundo.

Entre 2010 e 2019, as perdas de carbono foram 18% superiores aos ganhos, segundo os autores do estudo — entre eles, o Instituto Nacional de Pesquisa para a Agricultura, Alimentação e o Meio Ambiente da França (INRAE). “É a primeira vez que vejo números que mostram uma inversão e mostram que a Amazônia brasileira é emissora de carbono”, disse à agência France-Presse de notícias (AFP) Jean-Pierre Wigneron, pesquisador do INRAE.

No momento, “os outros países compensam” essas perdas e, portanto, “o conjunto da Amazônia ainda não sofreu os impactos dessa mudança, mas poderia sofrer em breve”, acrescentou Wigneron, que acredita que essas florestas tropicais são a “última salvação” do planeta.

O estudo destaca, também, como as degradações das florestas contribuem, em grande parte, para intensificar esse fenômeno. Ao contrário do desmatamento, que faz a floresta desaparecer, as degradações incluem tudo o que pode deteriorar a floresta sem destruí-la totalmente, como as árvores frágeis na fronteira em áreas desmatadas, pequenos incêndios, mortalidade de árvores devido à seca, entre outros. Para quantificar esse problema, os autores do estudo usaram um índice de vegetação obtido mediante observações por satélite que permitem sondar o conjunto da vegetação, e não somente os estratos superiores da floresta.

Eles concluíram que as degradações da floresta contribuíram em 73% para as perdas de carbono, contra 27% no caso do desmatamento, que, no entanto, é muito alto na Amazônia brasileira. “Isso mostra que a degradação da floresta se transformou no principal motor da perda de carbono, e isso deveria ser uma prioridade política”, afirma o estudo, que cita o impacto da mudança de política com o governo Bolsonaro, acusado de ter enfraquecido a proteção à Amazônia.

Resposta urgente

“Todos sabemos o impacto do desmatamento da Amazônia na mudança climática. Mas nosso estudo mostra que as emissões associadas às degradações das florestas podem ser ainda maiores”, disse, em comunicado, outro autor do estudo, Steph Sitch, da Universidade britânica de Exeter. “A degradação é uma ameaça generalizada para o futuro da integridade das florestas e exige uma atenção urgente por parte da pesquisa”, defendeu.

O estudo mostra também a aceleração do desmatamento na Amazônia brasileira em 2019, ano da chegada de Bolsonaro ao poder e também de uma forte seca: 3,9 milhões de hectares foram perdidos, ou seja, 30% a mais que em 2015, e quase quatro vezes mais que em 2017 e 2018. A pesquisa vai até 2019, e os autores pedem para continuar a investigação a fim de determinar o efeito das secas e das políticas do governo brasileiro, que “favorece a expansão da agropecuária em detrimento da conservação da floresta”.

 

“Isso mostra que a degradação da floresta se transformou no principal motor da perda de carbono, e isso deveria ser uma prioridade política”
Trecho do artigo divulgado na revista Nature Geosciences

 

 

 

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Nível do mar ainda maior

O aumento do nível do mar global associado ao possível colapso da camada de gelo da Antártida Ocidental foi significativamente subestimado em estudos anteriores, o que significa que o nível do mar em um mundo em aquecimento será maior do que o previsto, de acordo com um novo estudo de pesquisadores da Universidade de Harvard. O artigo, publicado na Science Advances, apresenta novos cálculos para o que os pesquisadores chamam de mecanismo de expulsão de água. Isso ocorre quando a rocha sólida do manto de gelo da Antártida ricocheteia para cima à medida que ocorre o derretimento, e o peso total do manto diminui. O leito rochoso fica abaixo do nível do mar, portanto, quando se eleva, empurra a água da área circundante para o oceano.

As novas previsões mostram que, no caso de um colapso total da camada de gelo, as estimativas de aumento do nível do mar global seriam ampliadas em um metro adicional, dentro de mil anos. “A magnitude do efeito nos chocou”, disse Linda Pan, que coliderou o estudo com Evelyn Powell. “Se o manto de gelo da Antártida Ocidental entrar em colapso, a estimativa mais amplamente citada do aumento médio global do nível do mar resultante é de 3,2m”, disse Powell. “O que mostramos é que o mecanismo de expulsão de água adicionará 1m, ou 30%, ao total.”

Uma das simulações feitas por Pan e Powell indicou que, no fim do século, o aumento do nível do mar global causado pelo derretimento da camada de gelo da Antártida Ocidental aumentaria 20% pelo mecanismo de expulsão de água. “Todas as projeções publicadas do aumento do nível do mar devido ao derretimento da camada de gelo da Antártida Ocidental que foram baseadas em modelos climáticos terão que ser revisadas para cima por causa desse trabalho”, disse Jerry X. Mitrovica, autor sênior do artigo.

 

 

Tubo de ensaio/Fatos científicos da semana

 (crédito: STR/AFP)
crédito: STR/AFP

Segunda-feira, 26
Embalagens comestíveis
Três pesquisadoras da Universidade de Coimbra (UC) criaram embalagens comestíveis a partir de resíduos do setor agroalimentar e da pesca — uma alternativa sustentável ao plástico. Desenvolvido com a colaboração da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), o produto foi feito, principalmente, a partir de cascas de batata e de marmelo, e de cascas de crustáceos. Além de revestirem os alimentos, as embalagens também podem ser ingeridas, destacam Marisa Gaspar, Mara Braga e Patrícia Almeida Coimbra, do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC. Segundo o jornal português Diário de Notícias, elas assinalam ser possível, por exemplo, “cozinhar brócolis ou espargos sem ser necessário retirar” o invólucro, uma vez que a película é composta por nutrientes naturais com benefícios para a saúde. “É uma abordagem centrada na economia circular. Não só aumenta a vida útil do produto na prateleira, como também evita o desperdício, reduz a produção de lixo plástico, um grave problema ambiental, e gera um novo produto que confere um adicional nutritivo ao alimento”, concluem.

 

Terça-feira, 27
Uma em cada 10 mulheres sofre aborto espontâneo
Uma em cada 10 gestações no mundo termina com um aborto espontâneo, destacam estudos reunidos em artigo publicado na revista científica The Lancet. Segundo dados colhidos por uma equipe internacional de 31 pesquisadores, um total de 23 milhões de interrupções naturais ocorrem anualmente — o número, segundo eles, deve ser “substancialmente maior” por conta de subnotificação. Pelo levantamento, 11% das mulheres têm uma gravidez interrompida pelo menos uma vez na vida. Uma em cada 50 mulheres, ou 2%, experimentou dois abortos espontâneos, enquanto menos de 1% passou por três ou mais. Os pesquisadores destacam que os níveis de atendimento de mulheres que sofrem aborto são altamente desiguais entre os países, e também dentro de muitas nações ricas. “Um novo sistema é necessário para garantir que os abortos espontâneos sejam mais reconhecidos e que as mulheres recebam os cuidados físicos e psicológicos de que necessitam”, assinalam. O aborto espontâneo é amplamente definido como a perda de uma gravidez antes de 20 a 24 semanas de gestação, com o período exato variando de acordo com o país.

 

Quarta-feira, 28
Combate à poluição de plástico em Galápagos
Um grupo de cientistas da Universidade de Utrecht, na Holanda, desenvolveu um equipamento com inteligência artificial para prever onde e quando os resíduos de plástico flutuando no oceano chegarão às Ilhas Galápagos. Todos os anos, mais de oito toneladas de lixo plástico são coletadas nas praias do arquipélago do Oceano Pacífico, localizado a cerca de 1.000 quilômetros da costa do Equador, segundo a pesquisadora Stephanie Ypma. Impulsionados pelas correntes, resíduos do continente e das enormes frotas pesqueiras internacionais vão parar nas praias dessas ilhas classificadas como patrimônio mundial pela Unesco. Essa poluição representa uma “grande ameaça à fauna silvestre”, já que as micropartículas de plástico muitas vezes vão parar no estômago dos animais, afirmou a cientista durante encontro da União Europeia de Geociências. “Nossos primeiros resultados são promissores”, disse Ypma, que confia que o modelo servirá, também, para o combate à poluição em outras ilhas do Pacífico.


Quinta-feira, 29
Vem aí a estação espacial chinesa
A China lançou o primeiro dos três módulos de sua estação espacial, a CSS, que será montada ao longo de 10 missões. A previsão é a que esteja pronta no fim de 2022. O módulo central Tianhe (Harmonia Celestial, em mandarim), local onde os astronautas ficarão, foi impulsionado por um foguete Longa Marcha 5B a partir do centro de lançamento de Wenchang, na ilha tropical de Hainan, no sul do país. O lançamento foi transmitido ao vivo do canal público CCTV e acompanhado, de uma distância moderada, por uma multidão de curiosos (foto). A estação tem a sigla CSS em inglês (Estação Espacial Chinesa). Em mandarim, recebeu o nome Tiangong (Palácio Celestial). A CSS vai operar em órbita terrestre baixa (entre 340 e 450km de altura) e será parecida com a estação russa Mir (1986-2001). A vida útil é calculada entre 10 e 15 anos. “Será um grande avanço para as capacidades chinesas de voos tripulados”, afirmou à agência France-Presse o astrônomo Jonathan McDowell, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, nos Estados Unidos.


Relíquias da Idade do Bronze encontradas por acaso
Ao acaso, um homem descobriu, na Suécia, um tesouro da Idade do Bronze com cerca de 50 joias e relíquias de, ao menos, 2,5 mil anos de antiguidade. As joias estavam ao ar livre, em frente a algumas rochas. Provavelmente foram desenterradas por animais. “Parecia lixo de metal. No início, achei que era uma lâmpada”, contou Tomas Karlsson, que encontrou as relíquias. Considerado “espetacular” e em “fantástico estado de conservação” por especialistas, o acervo foi encontrado por casualidade, no início do mês, em uma floresta próxima à cidade de Alingsås, no sudoeste do país. Fã das corridas de orientação, Karlsson estava atualizando um mapa quando, ao se agachar, encontrou um colar e acessórios. “Tudo parecia tão novo que pensei que era falso”, disse ele ao jornal Dagens Nyheter. Depois de informar sua descoberta às autoridades, uma equipe de arqueólogos foi para a região examinar as peças.

 

 

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