O uso de máscaras de proteção se tornou hábito necessário em meio à pandemia de COVID-19. Inclusive, as feitas de pano são uma das mais usadas, haja vista a possibilidade de reutilização e a facilidade de confecção caseira. Porém, elas são as menos eficientes como prevenção de inalação de partículas contaminadas pelo Sars-Cov-2. É o que aponta estudo conduzido no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP).
Segundo os dados da pesquisa, as máscaras de pano apresentam capacidade de filtragem de partículas de aerossol com tamanho equivalente ao do novo coronavírus em torno de 15% e 70%, valores menores do que as de outras máscaras disponíveis no mercado. Porém, para o coordenador do estudo, o professor Paulo Artaxo, o uso da máscara, ainda que seja de pano, é essencial para evitar a proliferação do vírus.
“Fizemos muitas análises de máscaras feitas de pano, com tecido de algodão, de camiseta e de microfibra, por exemplo, e essas máscaras forneceram uma eficiência que varia muito de acordo com a qualidade do tecido. A média de eficiência foi de 40%. Elas não protegem tão bem quanto as máscaras de TNT – segunda mais eficiente –, mas é importante o uso de máscara, mesmo que seja de algodão, o máximo possível, porque ela reduz ao menos pela metade a chance de inalar o coronavírus, que causa a COVID-19.”
Fernando Morais, doutorando no IF-USP e no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e um dos autores do estudo, comenta que a eficiênica menor das máscaras de pano pode, e tem, relação com a costura e lavagem. “De modo geral, máscaras com costura no meio protegem menos, pois a máquina faz furos no tecido que aumentam a passagem de ar. Por outro lado, a presença de um clipe nasal, que ajuda a fixar a máscara no rosto, aumenta a filtração pelo melhor ajuste no rosto.”
“Além disso, algumas máscaras de tecido são feitas com fibras metálicas que inativam o vírus, como níquel ou cobre, e por isso protegem mais. E há ainda modelos de material eletricamente carregado, que aumenta a retenção das partículas. Em todos esses casos, porém, a eficiência diminui com a lavagem, pois há desgaste do material”, conclui.
Enquanto isso, as máscaras mais eficazes foram as chamadas N95, normalmente usadas por médicos e cirurgiões em ambientes de alto risco de infecção, como hospitais. A eficácia, segundo os índices apresentados pelo estudo, financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), varia entre 95% e 98%. “Ou seja, elas filtram a enorme maioria dos vírus”, pontua Paulo Artaxo.
Em “segundo lugar”, as máscaras feitas de TNT, vendidas em farmácias, são ótimas opções também, e inclusive são as mais indicadas do ponto de vista custo-benefício. “Essas máscaras são relativamente baratas e têm eficiência de coleta muito boa, em torno de 60% e 90%. Por isso, é a máscara mais indicada com melhor relação custo-benefício. Elas são feitas de um tecido que parece mais um plástico, que repele água e, portanto, não ficam tão úmidas quanto as de pano. E elas protegem efetivamente uma pessoa em ambiente contaminado.”
E a respiração?
Uma reclamação recorrente durante o uso de máscaras é sobre o “abafamento” provocado por alguns modelos, diminuindo a capacidade de respiração. Nesse cenário, uma das novidades do estudo, conforme o coordenador da pesquisa, foi avaliar a respirabilidade das máscaras. Ou seja, a resistência do material à passagem de ar.
“As de TNT e de algodão foram as melhores nesse quesito. Já as do tipo PFF2/N95 não se mostraram tão confortáveis. Mas a pior foi uma de papel. Esse é um aspecto importante, pois se a pessoa não aguenta ficar nem cinco minutos com a máscara, não adianta nada”, afirma Paulo Artaxo.
No caso das máscaras de pano, o estudo apontou que as de algodão de duas camadas filtraram consideravelmente mais as partículas de aerossol que as feitas com apenas uma. Mas, a partir da terceira camada, a eficiência aumentou pouco, ao mesmo passo que a respirabilidade diminuiu consideravelmente.
"As três coisas principais para se evitar pegar COVID-19 é: primeiro, use sempre máscara. A segunda recomendação é: continue a manter o distanciamento social, e a terceira indicação é sempre ventilar o máximo possível os ambientes."
Paulo Artaxo, coordenador do estudo
Apesar disso e haja vista as considerações, o estudo conclui que todas as máscaras ajudam a reduzir a propagação do novo coronavírus e seu uso, associado ao distanciamento social, é fundamental no controle da pandemia. Ainda, de acordo com os responsáveis pelo estudo, o ideal seria a produção em massa de máscaras do tipo PFF2/N95 para distribuir gratuitamente à população.
Isso, inclusive, “deveria ser considerado em futuras pandemias”, avalia Vanderley John, coordenador da iniciativa "respire!", organizada pela Agência de Inovação da USP, e coautor do estudo.
O estudo
Na pesquisa, foram analisadas 227 máscaras diferentes, todos elas dos tipos comercializados no Brasil. E por que se resolveu estudar sobre essas máscaras? De acordo com o coordenador do estudo Paulo Artaxo, para responder um questionamento recorrente: “As máscaras protegem contra a COVID-19 com que eficiência?”.
Assim, a análise foi feita com um equipamento que produz, a partir de uma solução de cloreto de sódio, partículas de aerossol de tamanho controlado – no caso 100 nanômetros, valores próximos ao do Sars-Cov-2, que tem aproximadamente 120 nanômetros.
Então, o jato de aerossol foi lançado no ar e a concentração de partículas foi medida antes e depois da máscara. Os resultados foram divulgados na revista “Aerosol Science and Technology”. Agora, ao ter a resposta para tantos questionamentos, Paulo Artaxo faz um alerta: “As três coisas principais para se evitar pegar COVID-19 é: primeiro, use sempre máscara. Sempre que sair e em qualquer ambiente público, use máscara.”
“A segunda recomendação é: continue a manter o distanciamento social, a COVID-19 passa de pessoa para pessoa pelo ar, então evite ficar em locais fechados, porque mesmo pessoas contaminadas pelo vírus podem não ter sintomas e o contaminar, podendo levar a óbito. A terceira recomendação é sempre ventilar o máximo possível os ambientes, então, mantenham as janelas e portas abertas, isso ajuda muito na prevenção da contaminação.”
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram
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