TRABALHO E SAÚDE

Longa jornada de trabalho aumenta risco de morte em até 35%

Trabalhar mais de 55 horas por semana deixa o profissional mais vulnerável à ocorrência de derrames e doenças cardíacas fatais, mostra a primeira análise global sobre o tema, conduzida pela OMS. Agência alerta a que situação pode se agravar na pandemia

Correio Braziliense
postado em 18/05/2021 06:00
A intensificação do home office, devido ao surgimento da covid, pode aumentar o número de  horas extras, alertam os autores do estudo -  (crédito: Ina Fassbender/AFP)
A intensificação do home office, devido ao surgimento da covid, pode aumentar o número de horas extras, alertam os autores do estudo - (crédito: Ina Fassbender/AFP)

As longas jornadas de trabalho são uma ameaça à vida. Só em 2016, 745 mil pessoas morreram em função delas. O alerta faz parte de um estudo conduzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) com dados colhidos em cerca de 190 países. O levantamento mostra ainda que profissionais que trabalham mais de 55 horas por semana têm o risco de morte por acidente vascular cerebral (AVC) aumentado em 35% e o por doenças cardíacas, em 17%. O cenário refere-se a informações colhidas antes da pandemia, entre 2000 e 2016. Para os autores do estudo, divulgado na última edição da revista Environment International, com a crise sanitária, o cenário tende a se agravar.

“Trabalhar 55 horas ou mais por semana representa um grave perigo para a saúde. É hora de todos nós — governos, empregadores e trabalhadores — finalmente reconhecermos que longas horas de trabalho podem causar mortes prematuras”, afirma a médica María Neira, diretora de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS. O estudo é a primeira análise global da perda de vidas humanas e danos à saúde associados a longas horas de trabalho. Os autores lembram ainda que a condição também deve ser considerada “o primeiro fator de risco para doenças ocupacionais”.

Em 2016, segundo os dados analisados, 488 milhões de pessoas foram expostas a mais de 55 horas de trabalho semanais — o equivalente a 9% da população global. Nesse mesmo ano, a estimativa das agências é de que 398 mil pessoas morreram de derrame cerebral e 347 mil, de doenças cardíacas por terem cumprido jornadas de trabalho excessivas — a soma, 745 mil óbitos, equivale a um aumento de 29% desde 2000.

Mais homens

Entre 2000 e 2016, o número de óbitos por doenças cardíacas relacionadas a longas jornadas de trabalho aumentou em 42%, enquanto, no caso dos AVCs, o popular derrame, o crescimento foi de 19%. A maioria das mortes registradas é de pessoas que tinham entre 60 e 79 anos. Elas perderam a vida mais de 10 anos depois da jornada estafante, tinham entre 45 e 74 anos quando cumpriam a rotina apertada. Boa parte das vítimas, 72%, eram homens. E os países do Pacífico Ocidental e do Sudeste Asiático concentram os maiores registros de mortos.

O cálculo foi feito a partir de estimativas da população exposta a longas jornadas de trabalho e dos riscos relativos à exposição a doenças cardiovasculares quando consideradas jornadas de trabalho normais — entre 35 e 40 horas por semana. Ultrapassar essa faixa, segundo os autores, resulta, geralmente, em dois desdobramentos: respostas fisiológicas ligadas ao estresse e maior propensão à adoção de comportamentos prejudiciais à saúde, como a ingestão de álcool, a redução do período de sono e da prática de atividades físicas e o aumento do tabagismo.

Crise sanitária

A OMS também expressou preocupação com o aumento do número de pessoas que estão trabalhando durante a crise sanitária. Antes da pandemia, as pessoas que não cumpriam o home office faziam, em média, 3,6 horas extras por semana. Frank Pega, especialista da agência das Nações Unidas, menciona um estudo do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica, conduzido em 15 países, que indica que o número de horas de trabalho aumentou quase 10% durante a pandemia da covid-19.

Diretor-geral da agência, Tedros Adhanom Ghebreyesus lembra que, com a crise sanitária, o teletrabalho se tornou “a norma” para muitas atividades laborais, “apagando as fronteiras entre a casa e o trabalho”. Os efeitos da desaceleração da economia também foram lembrados por ele. “Além disso, muitas empresas se viram obrigadas a reduzir ou interromper as atividades para economizar dinheiro, e as pessoas que permanecem em seus empregos acabam com horários de trabalho mais prolongados”, complementa.

Tedros Ghebreyesus advertiu que “nenhum emprego vale o risco de sofrer um acidente vascular cerebral ou uma doença cardíaca”. A proposta do documento é que governos, empregadores e trabalhadores cheguem a um acordo “para estabelecer limites que protejam a saúde dos trabalhadores”. Frank Pega lembra ainda que limitar o tempo do expediente também é benéfico para os empregadores, uma vez que há estudos mostrando que o excesso de trabalho compromete a produtividade. “É realmente uma escolha inteligente não aumentar as longas jornadas de trabalho em uma crise econômica.”

 

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