IMUNIZAÇÃO

Covid-19: vacinas agem contra todas as cepas, afirma OMS

Agência da ONU garante que os imunizantes aprovados funcionam contra todas as variantes do Sars-CoV-2, mas alerta que, em uma pandemia, não há "risco zero". Novos dados indicam que fórmula da AstraZeneca pode ter efetividade maior do que a dos testes clínicos

Vilhena Soares
postado em 21/05/2021 06:00
 (crédito: Prakash Singh/AFP - 8/1/20)
(crédito: Prakash Singh/AFP - 8/1/20)

As vacinas da covid-19 disponíveis e aprovadas são, até o momento, eficazes contra todas as variantes do novo coronavírus, afirmou a Organização Mundial da Saúde (OMS). A agência das Nações Unidas também ressaltou que todos os países precisam dar continuidade às ações de combate à enfermidade, o que protegerá a população das atuais e de futuras cepas do Sars-CoV-2. Também ontem, a Public Health England (PHE), agência pública de saúde da Inglaterra, divulgou um dado que ajudar a reforçar a importância dos imunizantes: duas doses da vacina AstraZeneca/Oxford podem ter cerca de 85% a 90% de efetividade contra o desenvolvimento da doença, um desempenho maior do que o obtido nos testes clínicos.

Diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge alertou que, mesmo com as significativas taxas de efetividade dos imunizantes, o Sars-CoV-2 segue sendo uma grande ameaça. “Não há risco zero. As vacinas são, talvez, uma luz no fim do túnel, mas não podemos nos deixar cegar por essa luz.” Quanto à proteção a diferentes mutações do novo coronavírus, Kluge foi enfático: “Todas as variantes do vírus da covid-19 que surgiram até agora respondem às vacinas aprovadas disponíveis (…) E todas as variantes podem ser controladas da mesma maneira: com saúde pública e medidas sociais.”

Segundo o diretor da OMS para a Europa, desde que a última nova variante do vírus Sars-CoV-2, a B.1.617, foi identificada, pela primeira vez, na Índia, ela se espalhou por pelo menos 26 dos 53 países que compõem o continente. “Ainda estamos aprendendo sobre a B.1.617, mas é muito possível que ela tenha essa característica de se espalhar rapidamente”, afirma Kluge, acrescentando que a nova cepa pode, em teoria, ter o mesmo poder de propagação que a variante conhecida como B.1.1.7, identificada, pela primeira vez, no Reino Unido.

Nesse cenário, a OMS avalia que não é recomendada a retomada segura de viagens internacionais, devido, segundo Kluge, a “uma ameaça persistente e novas incertezas”. “É uma ameaça imprevisível”, acrescenta Catherine Smallwood, responsável pelas situações de urgência da OMS na Europa. “A pandemia não terminou”, frisa.

Vigilância

Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), avalia que a declaração da OMS quanto à efetividade das vacinas entra em concordâncias com o que é visto pela maioria dos cientistas. “Não temos nenhuma informação concreta de que exista alguma resistência desses imunizantes a essas variantes, e sabemos disso porque tem sido feito um trabalho de vigilância constante, algo essencial nessa área. Algumas funcionam menos, e outras mais, mas isso é normal”, justifica. “Caso seja identificada alguma variante classificada como de alto risco, com certeza, os fabricantes vão agir para reformular o imunizante e corrigir essas falhas.”

O especialista ressalta que a vacina é a ferramenta preventiva mais eficaz do momento. “Então, quando disponível, é preciso usá-la. É ela que vai nos ajudar a combater o vírus de maneira rápida e eficaz.” Um novo levantamento no Reino Unido mostra resultados que reforçam a afirmação de Kfouri. Segundo a PHE, duas doses da fórmula da AstraZeneca podem ter cerca de 85% a 90% de efetividade contra o desenvolvimento da doença.

O dado é preliminar e reflete o efeito do imunizante no mundo real. No último ensaio clínico, a taxa foi de 82%. Em nota, a AstraZeneca informa que os dados mais recentes “se somam ao crescente corpo de evidências que demonstra a eficácia” da vacina.

Kfouri avalia que os resultados de efetividade apresentados recentemente são bastante animadores. “Temos essa taxa divulgada hoje sobre o imunizante da AstraZeneca, e vemos se repetir com outras vacinas e em outros países, como Israel, Coreia do Sul e outros locais na Europa. No Brasil, também vemos o mesmo, com essa vacina que se mostrou eficaz quanto à cepa que se originou em Manaus, por exemplo”, diz. “Todos caminham na mesma direção, comprovando a eficácia vista em laboratório e, muitas vezes, mostrando taxas ainda mais altas. É algo muito bacana e que temos acompanhado animadamente.”

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Centros para tratar sequela de fungo

O governo indiano abrirá centros de tratamento de mucormicose, uma infecção grave que tem se espalhado entre os pacientes de covid-19 e preocupado autoridades do país pela alta letalidade. O anúncio se deu após a detecção de milhares de casos da enfermidade. De acordo com a imprensa local, mais de 200 pacientes com mucormicose estão sendo tratados em clínicas da capital, e outras dezenas esperam leitos hospitalares. Estados como Rajasthan, Telangana e Maharashtra também enfrentam uma epidemia do fungo — o último, por exemplo, registrou mais de 2 mil infectados.

“Os casos de infecções por mucormicose em pacientes com a covid-19 após sua recuperação são quase quatro, ou cinco, vezes mais numerosos do que aqueles detectados antes da pandemia”, relata Atul Patel, especialista em doenças infecciosas e membro da equipe de enfrentamento à covid-19 do estado de Ahmedabad. Pelo Twitter, o Conselho Indiano de Pesquisa Médica, agência científica responsável por fornecer respostas ao governo, alerta que a mucormicose, se não tratada, pode ser fatal.

Os especialistas do órgão explicam que os pacientes com a covid-19 mais suscetíveis a desenvolver essa infecção fúngica incluem indivíduos com quadro de diabetes não controlado que usaram esteroides durante o tratamento da covid-19 e aqueles que ficaram muito tempo em unidades de terapia intensiva (UTI).

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