Fui tomar asegundadose da coronavac. Moro em um condomínio horizontal do Jardim Botânico. Acordamos cedo e formos até o posto de saúde da QI 21 do Lago Sul. Chegamos às 7h e entramos na fila do drive-thru. Às 9h, a fila começou a se mover.
Mas um jovem de avental branco, muito educado, informou que quem tomava a coronavac precisaria se dirigir ao posto da 114 Norte ou do Parque da Cidade. Seria a coisa mais simples do mundo avisar à imprensa sobre os locais de vacinação. Não posso reclamar muito porque a minha situação é de privilegiado, tenho carro, a minha via-crúcis é confortável.
No entanto, essa mudança abrupta sem comunicação provoca transtornos muito mais graves para quem não tem carro. A moça da vacinação era muito educada e bem-humorada: “Vamos acabar de vez com essa brincadeira de vacinação?”, ela perguntou: “Sim, vamos acabar”, respondi. Tomei asegundadose. Perguntei a ela qual era seu nome. Ela disse: “Doutora Vânia”. Quer dizer, era uma doutora na linha de frente da vacinação.
Ela não tem uma simpatia de fachada. A alegria da solidariedade emana dela como uma fonte natural. Tem energia de cura. O doutor Drauzio Varela disse que não tem nada de chorar pelo fato de receber a vacina; é uma obrigação do Estado. Está certo, doutor Drauzio, mas não é que eu planeje chorar.
A vacina é uma das poucas alegrias que temos em um período no qual o Brasil passou a ser governado por loucos de hospício. Desculpe, doutor Drauzio, mas confesso que tenho chorado as tais lágrimas de esguicho de que fala Nelson Rodrigues a cada amiga ou amigo vacinado.
Tomei asegundadose no mês passado, mas, infelizmente, as falhas de logística na vacinação do DF não foram fatos isolados, continuaram e continuam. Tanto assim é que o DF ocupa o décimo lugar na imunização no ranking dos estados enquanto o governo do Maranhão começou a vacinar pessoas sem comorbidades com 29 anos. A inexistência de campanhas publicitárias de estímulo para tomar asegundadose é gritante, principalmente se a gente considerar a influência das fake news negacionistas.
Não quero ser mal-humorado, mas a presteza na vacinação pode ser decisiva para a vida ou a morte de um familiar, de um amigo ou um concidadão. É algo muito grave que está em jogo. Parece que o general Pazuello fez escola em matéria de logística. A todo momento somos informados de um equívoco, de um critério desrazoado ou de uma trapalhada.
O meu filho é da área de saúde e penou durante vários meses para agendar a vacina. Não há calendário, não há previsão e as decisões mudam a cada instante. As coisas só funcionam quando você entra na jurisdição dos agentes de saúde, que são competentes e solíticos.
A alegação de que o DF usou vacinas para imunizar pessoas de outras unidades da federação insuficiente para explicar a lentidão e a rabeira no ranking da vacinação. Em vez de se concentrar no combate à covid, o governo local submete a cidade a ser sede da Copa América, a Copa Covid, que já teve mais de 50 pessoas, entre jogadores, integrantes de delegação e prestadores de serviços, contaminadas.
Tomei vacina escondido, tenho uma mulher maravilhosa e dois netos, preciso me proteger do vírus, quero viver. Mas, por favor, mantenham sigilo absoluto sobre essa informação, não espalhem, porque, se souber, o presidente vai ficar uma fera.
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