Biodiversidade

Desmatamento na Amazônia ameaça o gavião-real

Os cientistas observaram a frequência com que as presas das harpias eram encontradas nas regiões próximas aos filhotes e estimaram o peso das aves

Correio Braziliense
postado em 01/07/2021 06:00
As aves não conseguem mais alimentar os filhotes, mostra estudo em regiões de floresta em Mato Grosso -  (crédito: Wenderson Araújo/Esp. CB/D.A Press)
As aves não conseguem mais alimentar os filhotes, mostra estudo em regiões de floresta em Mato Grosso - (crédito: Wenderson Araújo/Esp. CB/D.A Press)

A destruição da Amazônia está reduzindo, de forma acelerada, a população de uma das maiores espécies de águia do mundo: as harpias, também chamadas de gavião-real. A descoberta foi feita por cientistas brasileiros e sul-africanos e divulgada em artigo publicado na última edição da revista Scientific Reports. No trabalho, os especialistas mostram que há áreas da floresta em Mato Grosso em que essas aves, consideradas as mais fortes predadoras do planeta, nem conseguem mais alimentar seus filhotes.

A equipe avaliou 16 ninhos da espécie em áreas da Floresta Amazônica no Mato Grosso. Os cientistas observaram a frequência com que as presas das harpias eram encontradas nas regiões próximas aos filhotes e estimaram o peso das aves. Também utilizaram mapas para calcular os níveis de desmatamento em um espaço de três a seis quilômetros ao redor dos ninhos. Para o trabalho, usaram como ferramentas câmeras de vídeo e mapas virtuais.

O grupo descobriu que regiões que foram desmatadas em mais da metade da sua extensão se tornaram inadequadas para a criação de filhotes de harpias. “Em paisagens com 50% a 70% de desmatamento, três águias morreram de fome no período em que fizemos as análises. Além disso, nenhum ninho foi encontrado em áreas com desmatamento acima de 70%”, detalham os autores do artigo, liderados por Everton Miranda, professor da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul. A equipe era composta por cientistas de instituições brasileiras, como a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).

A maioria das presas das harpias era preguiças e macacos. Mesmo em áreas desmatadas, as aves não mudaram para presas alternativas, o que provocou mais mortes e perda de peso dos animais. “Isso pode ter causado um declínio no número de pares reprodutores em 3.256 desde 1985”, detalham.

A estimativa do grupo é de que cerca de 35% do norte de Mato Grosso já sejam inadequados para a reprodução da ave. Para os pesquisadores, os dados reforçam a importância de preservar a mata. “Observamos, por meio de nossa pesquisa, que a reprodução da harpia depende de alimentos específicos(...) A sobrevivência depende da conservação da floresta”, enfatizam.

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