Detectada, pela primeira vez, em Manaus, em janeiro, a variante P.1, a Gama, é mais resistente à produção de anticorpos neutralizantes — capazes de se ligar ao vírus e impedir que infecte outras células — em pessoas que tiveram previamente a doença e também naquelas vacinadas com a CoronaVac, segundo um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Publicada na revista The Lancet Microbe e apresentada no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ECCMID), a pesquisa é um alerta de que as medidas de proteção, como uso de máscara e distanciamento social, precisam continuar enquanto boa parte da população ainda não foi imunizada, diz o principal autor, José Luiz Proença-Módena, pesquisador do Laboratório de Vírus Emergentes da Unicamp.
Segundo Proença-Módena, o estudo foi realizado com a CoronaVac por ela ser a mais aplicada no Brasil. O pesquisador, contudo, ressalta que o resultado obtido não significa que a vacina não seja eficaz. “Trata-se de um estudo in vitro, exploratório, que mimetiza, em laboratório, uma parte da resposta imunológica”, destaca. “A resposta imunológica é muito maior que só a medida por anticorpos. Esse não é um estudo que avalia eficácia.”
Ainda assim, o trabalho da Unicamp se foca em uma importante parte do arsenal imunológico, a fabricação de anticorpos neutralizantes. Para verificar a resposta da P.1 à vacina e à infecção prévia por Sars-CoV-2, a equipe utilizou amostras de sangue de 53 pessoas imunizadas com a CoronaVac (18 com dose única, 20 com as duas doses no programa nacional de vacinação e 15 com as duas doses, enquanto participantes de um estudo clínico). Os cientistas também fizeram testes com amostras de 21 pessoas que tiveram covid-19 no início da pandemia.
Ao expor, in vitro, as amostras à variante P.1, os pesquisadores observaram que, tanto no caso das pessoas que receberam uma dose quanto nas que não haviam sido vacinadas, mas já tinham tido covid, não houve produção de anticorpos neutralizantes. Por outro lado, a cepa de Manaus ainda era sensível aos anticorpos no plasma daqueles que receberam duas doses, apesar de que a produção foi menor, quando comparada à resposta da variante B, a mais predominante no país antes da P.1.
“Isso significa que a vacina não é eficaz? Não. Mas significa que uma pessoa vacinada ou que já teve covid pode se infectar e transmitir o vírus para outras pessoas”, explica Proença-Módena. “O alerta é claro: em um momento em que só temos uma parte da população vacinada, temos de continuar a adotar as medidas de proteção. Não usar máscara e aglomerar gera um ambiente ótimo para selecionar novas variantes.”
No mesmo congresso, pesquisadores da Turquia atestaram a efetividade da CoronaVac em um grupo de 10.029 adultos. A pesquisa de fase 2, publicada na revista The Lancet, mostrou que a vacina é 83% eficaz para proteger contra as infecções sintomáticas, após duas doses, e previne 100% as hospitalizações.
O ensaio clínico duplo-cego, randomizado e controlado por placebo, envolveu 10.029 adultos de 18 a 59 anos atendidos em 24 centros na Turquia e divididos em grupos para receber duas doses (6.559), com 14 dias de intervalo, ou placebo (3.470). A mediana de idade foi de 45 anos, 57,8% eram do sexo masculino, 36% eram profissionais de saúde e 15,6% eram obesos.
Em menos de 14 dias após a segunda dose, ocorreram 41 casos de covid-19 sintomático: nove no grupo da vacina e 32 no do placebo. Não houve casos fatais. Foram registradas seis hospitalizações no grupo do placebo e nenhuma no da vacina.
Os ensaios imunológicos foram realizados em um subconjunto do grupo de estudo. A análise está em andamento, mas os resultados iniciais mostram que 89,7% dos receptores da CoronaVac desenvolveram anticorpos contra a proteína spike do vírus. Os pesquisadores, da Universidade de Hacettene, em Ancara, destacam que é preciso repetir os testes com as novas variantes do Sars-CoV-2.
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