PANDEMIA

Covid-19: vacina da Pfizer é mais eficaz contra a delta, mas menos duradoura

Estudo britânico mostra que, embora maior, a proteção oferecida pela vacina contra a variante cai num prazo inferior ao do imunizante da AstraZeneca. Argumento embasa decisão dos EUA de aplicar terceira dose na população

Vilhena Soares
postado em 20/08/2021 06:00
 (crédito: Alain Jocard/AFP)
(crédito: Alain Jocard/AFP)

A vacina contra a covid-19 desenvolvida pela empresa Pfizer gera maior proteção contra a variante delta, porém sua eficácia diminui mais rapidamente. Estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Oxford também mostrou que o imunizante da AstraZeneca apresenta igualmente queda de eficácia com o passar do tempo, mas seu déficit é mais gradual. Apesar disso, os cientistas garantem que as duas substâncias mantêm a eficiência contra o novo coronavírus.

As descobertas vão ao encontro de informações divulgadas, na véspera, por especialistas dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDCs), que apontaram perda de efetividade nos imunizantes da Pfizer e da da Moderna, ambos feitos à base de mRNA — o país aplica ainda o fármaco da Janssen, em dose única. A ideia de aplicação extra antes que se complete um ano da segunda dose não agrada a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A pesquisa britânica foi feita entre dezembro de 2020 e este mês, período em que os especialistas examinaram amostras sanguíneas de quase 700 mil pessoas. O estudo revelou que 30 dias após a aplicação da segunda dose da vacina da Pfizer, os indivíduos imunizados estavam 90% mais protegidos contra a variante delta do que uma pessoa não vacinada. O percentual caiu para 85% após dois meses, e 78%, três meses depois.

Já as pessoas que receberam as duas doses da AstraZeneca estavam 67% protegidas no mês seguinte. Após dois meses, a eficácia caiu para 65% e chegou a 61% no terceiro mês. Após quatro ou cinco meses, o nível de proteção oferecido pelos dois imunizantes é similar, concluiu a pesquisa, que ainda não foi revisada e nem publicada em revistas especializadas.

Retrocesso

Comunicado divulgado pelo pesquisador Koen Pouwels, principal autor do estudo, assinala que os dados vistos “representam um retrocesso” da eficácia da vacina da Pfizer, enquanto que, para o imunizante da AstraZeneca, “as diferenças (entre um mês e outro) são mínimas, ou seja, pode não existir nenhuma mudança na proteção”.

Os especialistas destacaram que, apesar da leve queda do nível de proteção, a eficácia global dos dois imunizantes continua sendo “muito elevada”. “Ambas as vacinas, em duas doses, ainda estão indo muito bem contra a nova cepa delta (...) Você começa com um nível muito, muito alto, mas tem um longo caminho a percorrer, então, essa redução é algo esperado”, opinou, em nota, a professora Sarah Walker, coautora do estudo.

A Pfizer já havia comunicado que a eficácia de sua vacina cai com o tempo. No mês passado, a empresa AstraZeneca informou que ainda estava investigando quanto tempo duraria a proteção de sua vacina e avaliava, também, a necessidade de uma dose de reforço para manter a imunidade.

O estudo evidenciou ainda que pessoas infectadas após receberem duas doses da vacina Pfizer ou AstraZeneca tendem a ter uma carga viral semelhante à dos indivíduos não imunizados que contraíram a covid — isso significa que eles ainda transmitem a doença apesar de protegidos.

“O que merece mais destaque é o fato de que a imunidade coletiva pode se tornar mais desafiadora por causa disso”, ressaltou Pouwels. “As vacinas são, provavelmente, melhores na prevenção de doenças graves e um pouco menos (eficazes) na prevenção da transmissão”, complementou.

Outra constatação dos pesquisadores é que o tempo entre a administração das duas doses não afeta a eficácia na prevenção de novas infecções. Além disso, confirmou-se que as pessoas mais jovens têm uma resposta imune maior que as mais velhas, o que já era esperado pelos especialistas.

Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri destacou que as conclusões ajudam a determinar a melhor forma de gerenciar o uso dos imunizantes. “Essas avaliações precisam ser feitas periodicamente no uso de medicamentos, como as vacinas, principalmente, no caso desses fármacos contra covid-19, pois como combatem uma enfermidade totalmente nova, é difícil prever o nível da sua proteção e a duração dessa eficácia. Essa é, infelizmente, uma limitação que temos”, opinou, ressaltando que, até o momento, o desempenho é muito positivo.

Preocupação mundial

O estudo britânico coincide com a decisão de alguns países de aplicar uma terceira dose da vacina contra a covid-19, ainda que em situações específicas. Israel começou a administrar o reforço do imunizante da Pfizer no mês passado. De acordo com as autoridades responsáveis, a medida era necessária para enfrentar um aumento nas infecções desencadeadas pela propagação da variante delta.

Nos Estados Unidos, o reforço começa na semana de 20 de setembro. “Os dados disponíveis mostram claramente que a proteção contra a infecção por Sars-CoV-2 começa a declinar com o tempo”, justificaram, em nota, Rochelle Walensky, diretora dos CDCs, e Anthony Fauci, assessor da Casa Branca sobre a pandemia.

“Preocupa-nos que essa tendência de declínio continue nos próximos meses, o que poderia levar a uma diminuição da proteção contra casos graves de doença, hospitalizações e mortes”, disse o diretor médico da saúde pública dos EUA, Vivek Murphy.

Numa análise do cenário global, Renato Kfouri estimou que a aplicação de uma terceira dose dos imunizantes contra a covid-19, até agora, parece necessária apenas para grupos mais vulneráveis, como idosos e pessoas com sistemas imunes debilitados.

“As pesquisas nos mostram que existe uma perda de imunidade provocada pela vacina em indivíduos acima de 70 anos, além de outras pessoas com um sistema de defesa mais debilitado, como transplantados. Essa terceira dose é algo que deve ser adotada para esses grupos e para evitar, principalmente, os casos graves, que podem ser mais agressivos nessas pessoas”, assinalou o diretor da SBIm.

 

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Biden na fila do reforço

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse, ontem, que ele e a mulher, Jill, receberão uma vacina reforço contra o coronavírus, em setembro, quando estiver disponível para todos os americanos adultos. “Já é hora”, afirmou o democrata, assinalando que ele e a primeira-dama receberam a primeira dose no início do ano. Levando em consideração estudos que mostram que a eficácia da imunização diminui “com o tempo” e diante da ameaça da variante delta, o governo Biden anunciou que todas as pessoas vacinadas contra o coronavírus com fármacos da Pfizer e Moderna nos Estados Unidos poderão receber uma injeção extra, oito meses depois. A campanha terá início no fim do próximo mês.

 

 

 

Filhotes de morcegos balbuciam como bebês

 (crédito: Michael Stifter/Divulgação)
crédito: Michael Stifter/Divulgação

Filhotes de morcegos aprendem a se comunicar de forma semelhante aos humanos, segundo estudo conduzido por uma equipe de biólogos alemães. Os cientistas observaram que, para conseguir repetir os sons emitidos pelos seus pais, os pequenos animais balbuciam de forma repetitiva durante a infância, numa atividade similar a dos bebês quando começam a falar suas primeiras palavras.

Os autores do estudo, apresentado na última edição da revista especializada Science, explicam que pesquisas comparativas sobre o aprendizado da comunicação são difíceis de serem feitas no reino animal. Isso porque poucos bichos tem um sistema vocal semelhante ao homem, com exceção de alguns pássaros que conseguem imitar vozes. “Embora a pesquisa com determinadas aves tenha nos fornecido importantes insights sobre o desenvolvimento da fala em crianças, é difícil realizar análises mais profundas sobre esse tema, já que as duas espécies apresentam diferenças cerebrais anatômicas — pássaros têm uma siringe, nós temos uma laringe”, destaca um trecho do artigo.

Para ultrapassar essas barreiras, a equipe de especialistas decidiu avaliar o desenvolvimento da comunicação em um mamífero, o morcego Saccopteryx bilineata. “Filhotes dessa extraordinária espécie dedicam toda a sua infância ao aprendizado de sons que repetirão em sua vida adulta”, justificaram os cientistas.

Monitoramento

O grupo de pesquisa estudou o comportamento de 20 filhotes em seu habitat, no Panamá e na Costa Rica. Foram feitas centenas de gravações acústicas e também vídeos dos mamíferos, desde o nascimento até o desmame, sem interferência em suas rotinas. “Essa investigação foi algo único, porque nos permitiu observar e registrar um comportamento complexo em um ambiente totalmente natural e imperturbado”, explicou Ahana Fernandez, uma das autoras do estudo e bióloga do Museum für Naturkunde, em Berlim.

Durante as análises, os pesquisadores observaram que os filhotes Saccopteryx bilineata passam, em média, sete semanas balbuciando diariamente, com longas sequências vocais semelhantes aos barulhos emitidos pelos morcegos adultos. “O balbucio dos filhotes é audível a uma distância considerável do poleiro e dura até 43 minutos. Vimos que é por meio dessa repetição que os filhotes aprendem o repertório de sons que serão propagados por eles durante toda sua vida adulta”, detalhou a pesquisadora Martina Nagy, coautora do estudo.

Os investigadores também constataram que o balbucio dos filhotes apresenta características semelhantes aos sons emitidos por bebês humanos. “Por exemplo, o filhote de morcego repete uma sílaba três vezes, como o ‘dadada’ de crianças”, detalhou Nagy. “É fascinante ver semelhanças entre esses dois mamíferos durante a aprendizagem vocal”, acrescentou.

A equipe pretende dar continuidade ao trabalho por acreditar que o estudo pode ajudar a decifrar mais segredos relacionados ao desenvolvimento da linguagem humana. “Trabalhar com o aprendizado vocal entre espécies nos dará peças novas do nosso quebra-cabeça evolutivo”, ressaltaram os autores no estudo.

 

 

 

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