PANDEMIA

Covid-19: variante Delta pode dobrar o risco de internação

A vulnerabilidade é duas vezes maior quando comparada à dos infectados pela cepa Alfa, mostra pesquisa com mais de 40 mil pacientes

A covid-19 provocada pela variante Delta do Sars-CoV-2 dobra o risco de hospitalização, se comparada à infecção causada pela cepa Alfa, que foi identificada antes por cientistas. Pesquisadores britânicos chegaram a essa conclusão após avaliar dados médicos de mais de 40 mil pessoas que testaram positivo para a enfermidade.

Segundo os autores do trabalho publicado na revista The Lancet, os dados obtidos reforçam a necessidade de vacinação da população e da atenção aos possíveis impactos na estrutura de saúde em decorrência do avanço da forma mais transmissível do coronavírus.

A equipe analisou informações médicas de 43.338 infectados na Inglaterra, entre o período de 29 de março e 23 de maio de 2021, incluindo informações sobre o estado de vacinação, a necessidade de atendimento de emergência e a admissão hospitalar. Os pesquisadores colheram amostras sanguíneas de todos os voluntários e submeteram o material a um sequenciamento do genoma completo para confirmar a variante responsável pela infecção.

Observou-se uma taxa mais alta de casos provocados pela variante Alfa (80%), identificada, pela primeira vez, no Reino Unido, em comparação à Delta (20%), cujos primeiros casos surgiram na Índia. “Embora a proporção de casos Delta na época em que fizemos o estudo tenha sido de apenas 20%, ela cresceu nos meses seguintes e passou a representar cerca de dois terços dos novos casos de covid-19 registrados no país, ultrapassando a Alfa e se tornando a variante dominante na Inglaterra”, detalham os autores.

Após uma análise estatística ampla — que levou em conta os fatores já conhecidos por afetar a suscetibilidade à forma grave da covid-19, incluindo idade, etnia e estado de vacinação —, os pesquisadores descobriram que o risco de ser internado em um hospital era mais do que o dobro em decorrência da infecção pela Delta, em comparação à Alfa (aumento de 2,26 vezes). Considerando o risco de internação e o de necessidade de um atendimento de emergência, o risco é 1 vez e meia maior.

“Esse estudo confirma suspeitas de que as pessoas infectadas com Delta são, significativamente, mais propensas a necessitar de hospitalização do que aquelas com Alfa, algo que ainda não havia sido observado em um estudo detalhado”, enfatiza, em comunicado, Gavin Dabrera, um dos principais autores do estudo e epidemiologista consultor do Serviço Nacional de Infecção e Saúde Pública da Inglaterra.

Não vacinados

Outro dado interessante obtido na análise reforça a necessidade de completar a vacinação contra a covid-19 para evitar a infecção por qualquer variante do Sars-CoV-2. No estudo, apenas 1,8% dos casos de covid-19 (com qualquer uma das cepas) havia recebido o regime completo da vacina. Por outro lado, 74% dos casos não foram vacinados e 24% foram parcialmente vacinados.

“Já sabemos que a vacinação oferece excelente proteção contra a Delta e, como essa variante é responsável por mais de 98% dos casos de covid-19 no Reino Unido atualmente, é vital que aqueles que não receberam duas doses do imunizante o façam o mais rápido possível”, frisa Dabrera. “Também é importante que, ao apresentar sintomas da doença, a pessoa fique em casa e faça um teste de PCR o mais rápido possível”, completa.

Os autores ponderam que há limitações no estudo. Eles não tiveram acesso a informações sobre as condições de saúde preexistentes dos pacientes, o que afeta a vulnerabilidade à covid-19. Além disso, há o risco de ocorrência de variáveis não controláveis, como a ocorrência de mudanças na política de internação em hospitais durante o período de análise.

Apesar dos entraves, eles enfatizam que a pesquisa é mais uma prova da importância da vacinação. “Nossa análise destaca que, na ausência de vacinas, qualquer surto Delta representará um fardo maior para a saúde do que uma epidemia Alfa. A imunização completa é crucial para reduzir o risco de um indivíduo ser internado. É essencial reduzir as chances de doença grave provocada pela variante Delta, e nós vamos conseguir isso com a vacina”, afirma Anne Presanis, uma das autoras do estudo e pesquisadora da Unidade de Bioestatística da Universidade de Cambridge.

Saiba Mais

Tubo de ensaio / Fatos científicos da semana

Segunda-feira, 23
Chuva incomum na Groenlândia
O instituto meteorológico dinamarquês divulgou um fenômeno raro na calota polar da Groenlândia, ocorrido no meado do mês. Segundo o monitoramento, choveu na área, a mais de 3 mil metros acima do nível do mar. Segundo o Centro de Dados de Neve e Gelo dos Estados Unidos (NSIDC), a precipitação foi observada por várias horas em 14 de agosto na estação americana Summit. “A chuva pode cair apenas se a temperatura estiver acima, ou ligeiramente, abaixo de 0°C. Portanto, essa é uma situação extrema, porque pode ser que nunca tenha acontecido”, disse Martin Stendel, pesquisador do DMI. “É provável que seja um sinal do aquecimento global”, acrescentou. As temperaturas estavam um pouco acima de 0°C, o que significa que a neve está derretendo e volta a congelar para virar gelo. De acordo com o especialista, esse fenômeno aconteceu apenas nove vezes nos últimos 2 mil anos e, dessas, três ocorreram na última década (2012, 2019 e 2021).

 

Terça-feira, 24
Rússia adia missão espacial
A Rússia anunciou o adiamento do lançamento de sua sonda Luna-25 por causa de um problema com o sistema de descida. Inicialmente programada para acontecer em outubro e depois reprogramada para 2022, a missão será a primeira do tipo, por parte de Moscou, desde os anos 1970. Segundo especialistas, trata-se de um golpe muito duro para as ambições russas no páreo na nova corrida à Lua. A agência espacial americana (Nasa) planeja enviar astronautas para o satélite terrestre em 2024. Alexander Shirkhakov, diretor da NPO Lavochkin, empresa que desenvolve a sonda Luna-25, explicou que o adiamento se deve a “certos problemas detectados durante os testes”. Ele mencionou, especificamente, a necessidade de “desenvolver um sistema de aterrissagem lunar com segurança absoluta”. O projeto Luna-25 é o primeiro passo de uma série de missões russas, que têm como objetivo instalar uma eventual base em órbita, ou mesmo sobre a superfície lunar, construída em conjunto com a China.

 

Quarta-feira, 25
Pterossauro brasileiro de 115 milhões de anos
Apreendido numa operação da Polícia Federal em 2013, quando estava prestes a ser levado para a Europa e negociado com colecionadores, um fóssilde pterossauro, após oito anos de estudo, mostrou-se um dos mais completos da família Tapejaridae em todo o mundo.. O Tupandactylus navigans, segundo os especialistas, viveu há aproximadamente 112 milhões de anos (no período do Cretáceo), na área onde se localiza a Bacia do Araripe, entre Ceará, Pernambuco e Piauí. O fóssil foi descrito por uma equipe liderada pelo paleontólogo Victor Beccari, da Universidade de são Paulo, em um artigo científico publicado na revista americana Plos One. O trabalho foi realizado em parceria com a Universidade Federal do Pampa, Universidade Estadual Paulista, Universidade Federal do ABC e da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal. Para o estudo, os especialistas usaram uma tomografia do fóssil e construíram um modelo 3D do animal, que tinha uma grande crista na cabeça. Acredita-se que, por esse motivo, o T navigans era incapaz de voos longos.

 

Quinta-feira, 26
Oceanos modificados
Entre 35,6% e 95% dos climas superficiais dos oceanos do século 20 — definidos pela temperatura das águas superficiais, pH e concentração do mineral aragonita — podem desaparecer até 2100. Isso dependerá das emissões de gases de efeito estufa no século 21, segundo a um estudo publicado em Scientific Reports. Os autores, da Universidade do Nordeste de Boston, modelaram climas oceânicos por três períodos: início do século 19 (1795–1834), fim do século 20 (1965–2004) e o fim do século 21 (2065–2104). Então, compararam esses climas modelados em vários locais usando dois cenários de emissão: o primeiro, com o pico de emissões em 2050; e o segundo, em 2100. Nos dois casos, o ápice é seguido por aumentos lentos. As comparações mostraram que alguns climas oceânicos dos séculos 19 e 20 não poderão mais ser encontrados em meados do 21. Em 2100, 10% a 82% da superfície do oceano pode experimentar temperaturas mais altas, pH mais ácido e menor saturação de aragonita, um mineral que os corais e outros organismos marinhos usam para formar conchas.