A sonda fez a imagem logo depois de sobrevoar o pequeno planeta a uma altitude de apenas 200 quilômetros.
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Os controladores planejam mais cinco sobrevoos, e querem usar cada vez mais a força da gravidade de Mercúrio para ajudar a controlar a velocidade da espaçonave.
O objetivo é que a BepiColombo se mova devagar o suficiente para, eventualmente, assumir uma órbita estável ao redor do planeta.
Esse objetivo deve ser alcançado até o final de 2025.
A primeira foto da missão para Mercúrio foi tirada por uma câmera de monitoramento de baixa resolução localizada na lateral da sonda. No atual estágio, a Bepi ainda não está pronta para implantar e utilizar as suas câmeras científicas de alta resolução — esses equipamentos estão "escondidos" dentro da estrutura da espaçonave.
A Bepi é essencialmente duas espaçonaves em uma.
A primeira parte foi desenvolvida pela Agência Espacial Europeia (ESA). Já a segunda vem da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (Jaxa). A forma como esses dois componentes foram "embalados" para a viagem a Mercúrio obstrui, por ora, as aberturas por onde as câmeras fotográficas principais operam.
Isso significa que as primeiras imagens da missão a Mercúrio foram adquiridas por um par de câmeras de monitoramento, ou de engenharia, montadas na parte externa da nave — é como se fossem "câmeras de selfie" — que são boas o suficiente para já detectar algumas características da superfície do planeta.
Essas fotos simples, em preto e branco, começaram a chegar de volta à Terra no sábado (2/10), e a ESA deve liberar novas imagens ao longo dos primeiros dias de outubro. Na segunda-feira (4/10), é provável que a agência europeia tenha imagens suficientes para fazer um pequeno vídeo.
Embora a Bepi esteja muito longe de iniciar as operações científicas adequadas, alguns dos instrumentos da sonda foram ligados para realizar o sobrevôo. Fenômenos como campos magnéticos e algumas partículas já puderam ser detectados, mesmo na configuração atual da espaçonave.
"Vamos analisar os dados", disse Suzie Imber, pesquisadora da Universidade de Leicester, no Reino Unido, "mas o objetivo do sobrevôo atual, e dos seis outros que serão realizados, é nos ajudar a mudar a trajetória [da espaçonave] e diminuir a velocidade."
"Eventualmente, até dezembro de 2025, tanto a espaçonave quanto Mercúrio estarão no mesmo lugar e na mesma direção. A partir daí, finalmente, poderemos separar nossa espaçonave em duas partes e entrar em órbita", disse a cientista que integra a missão à BBC.
Mas, mesmo neste estágio inicial da série de sobrevoos, já é possível realizar uma coleta inicial de dados.
Para os cientistas por trás do Espectrômetro de Raios-X Mercury Imaging, ou MIXS na sigla em inglês, do Reino Unido, essa foi uma oportunidade de entender melhor o desempenho de seus instrumentos.
Os detectores do MIXS captaram um ruído geral de partículas energéticas conhecidas como raios cósmicos.
"À medida que nos aproximamos muito de Mercúrio e parte do céu está bloqueado pelo planeta, devemos ter uma queda em parte desse ruído que recebemos, e isso nos ajudará a identificar melhor o que são esses raios cósmicos galácticos que detectamos", explicou Imber.
O exercício irá garantir que a equipe da missão obtenha o máximo do MIXS quando, eventualmente, começar a observar o planeta no final da década.
Este primeiro sobrevôo terá colocado a Bepi em uma ressonância de 2-3 com Mercúrio. Em outras palavras, isso significa que Mercúrio dará três voltas em torno do Sol, enquanto a Bepi dará duas.
Vale destacar aqui que um ano de Mercúrio, ou o tempo que ele leva para dar uma volta completa em torno do Sol, é o equivalente a 88 dias na Terra.
O próximo sobrevoo, marcado para junho do ano que vem, vai desacelerar essa taxa mais uma vez. Ela ficará, então, numa ressonância de 3-4: a Bepi vai completar três voltas ao redor do Sol, enquanto Mercúrio fará essa trajetória quatro vezes.
Os demais sobrevoos, que ocorrerão em junho de 2023, setembro de 2024, dezembro de 2024 e janeiro de 2025, devem colocar a Bepi finalmente na mesma ressonância de Mercúrio. Assim, será possível iniciar as operações científicas completas a partir de 2026.
Que investigações a BepiColombo fará em Mercúrio?
As duas estruturas da espaçonave desenvolvidas por europeus e japoneses vão se separar quando entrarem em órbita no planeta mais próximo do Sol. A partir dali, elas desempenharão funções diferentes.
O Mercury Planetary Orbiter (MPO), da Europa, foi projetado para mapear o terreno de Mercúrio, gerar perfis de altura da superfície, coletar dados sobre a estrutura e a composição do planeta e detectar o que há no interior dele.
O Mercury Magnetospheric Orbiter (MMO), do Japão, terá como prioridade o estudo do campo magnético de Mercúrio. Ele investigará o comportamento do campo e sua interação com o "vento solar", a massa ondulante de partículas que fluem do Sol. Esse vento interage com a atmosfera de Mercúrio, lançando átomos em uma cauda que se estende pelo espaço.
Espera-se que as observações paralelas dos satélites possam finalmente resolver os muitos quebra-cabeças sobre este planeta.
Uma das principais questões diz respeito ao núcleo de ferro superdimensionado, que representa 60% da massa de Mercúrio. A ciência ainda não consegue explicar os motivos que fazem este planeta ter apenas uma fina camada rochosa.
"Quando entrarmos em órbita, começaremos a estudar o campo magnético e a superfície de Mercúrio, que alcança temperaturas de até 450 °C (o equivalente a um forno de pizza), e ainda tem água na superfície em alguns lugares", conta Mark McCaughrean, consultor sênior da ESA para ciência e exploração, à BBC News.
"Mercúrio possui um enorme núcleo de metal. Ele é muito mais denso do que o esperado para o seu tamanho. Nós simplesmente não entendemos como esse planeta ficou do jeito que é. Existem enormes mistérios sobre a origem dele e é isso que a BepiColombo pretende estudar", completa o pesquisador.
O MPO, da Europa, foi montado em grande parte no Reino Unido, pela empresa Airbus.
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