Cientistas do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, identificaram um paciente com HIV cujo organismo parece ter se livrado naturalmente do vírus. Após analisar mais de 1,5 bilhão de células de sangue e tecido dessa pessoa, que não estava sendo tratada, os pesquisadores não encontraram evidência do genoma intacto do micro-organismo. Esse fenômeno já foi detectado anteriormente, mas é raro.
Durante a infecção, o HIV insere cópias de seu genoma no DNA das células, criando o que é conhecido como reservatório viral. Nesse estado, o vírus efetivamente se esconde dos medicamentos anti-HIV e da resposta imunológica do corpo. Na maioria das pessoas, novas partículas virais são constantemente feitas desse reservatório. A terapia antirretroviral (ART) pode prevenir a produção de novos micro-organismos, mas é incapaz de eliminar o reservatório, necessitando de tratamento diário para suprimir o patógeno.
Algumas pessoas, conhecidas como controladores de elite, têm sistemas imunológicos capazes de suprimir o HIV sem a necessidade de medicamentos. Embora ainda tenham reservatórios virais que podem produzir mais HIV, uma estrutura do sistema imunológico chamada célula T assassina mantém o vírus suprimido sem a necessidade de medicação.
Xu Yu, pesquisadora do MIT, tem estudado os reservatórios de HIV de controladores de elite. O grupo que ela coordena identificou um paciente que não tinha sequência viral do HIV intacta em seu genoma, indicando que o sistema imunológico pode ter eliminado o reservatório de HIV — o que os cientistas chamam de cura esterilizante.
A equipe de Yu sequenciou bilhões de células dessa pessoa, conhecida como Paciente de São Francisco, procurando por qualquer sequência viral que pudesse ser usada para criar um vírus, e não encontrou nenhuma. A descoberta — a primeira incidência conhecida de uma cura esterilizante sem um transplante de células-tronco — foi relatada na revista Nature, no ano passado.
Esperanza
Agora, o grupo de Yu relata um segundo paciente infectado com HIV e não tratado, conhecido como Paciente Esperanza, que, como o Paciente de São Francisco, não tem genomas de HIV intactos em mais de 1,19 bilhão de células sanguíneas e 500 milhões de células de tecido sequenciadas.
O relato, publicado na revista Annals of Internal Medicine, pode representar um segundo exemplo de cura esterilizante. "Essas descobertas, especialmente com a identificação de um segundo caso, indicam que pode haver um caminho acionável para uma cura esterilizante para pessoas que não são capazes de fazer isso por conta própria", disse Yu, que também é médica no Massachusetts General Hospital.
Ela explica ainda que a descoberta pode sugerir uma resposta específica de células T assassinas, comum a ambos os pacientes. Se os mecanismos imunológicos subjacentes a essa resposta forem desvendados pelos pesquisadores, eles poderão desenvolver tratamentos que ensinem o sistema imunológico de outras pessoas a imitar essas abordagens em casos de infecção pelo HIV. "Estamos, agora, olhando para a possibilidade de induzir este tipo de imunidade por meio da vacinação, com o objetivo de educar os sistemas imunológicos para serem capazes de controlar o vírus."
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