Evolução locomotiva

Primeiros hominídeos caminhavam como humanos e escalavam como macacos

Os fósseis foram datados em aproximadamente 2 milhões de anos antes do presente

Correio Braziliense
postado em 24/11/2021 06:00
Silhueta do Australopithecus sediba: vértebras fósseis de 2 milhões de anos impulsionaram o estudo  -  (crédito:  Wits University & NYU/Divulgação)
Silhueta do Australopithecus sediba: vértebras fósseis de 2 milhões de anos impulsionaram o estudo - (crédito: Wits University & NYU/Divulgação)

Os primeiros hominíneos usavam os membros superiores para escalar, como os macacos, e os inferiores para andar, como os humanos, segundo uma equipe internacional de pesquisadores. No jornal e-life, os cientistas descreveram como vértebras fósseis de 2 milhões de anos pertencentes à extinta espécie do Australopithecus sediba podem ser o "elo perdido" da evolução locomotiva.

Hominíneos são uma subfamília que inclui o Homo sapiens, seus ancestrais, além dos parentes extintos dos gorilas e chimpanzés. As vértebras lombares discutidas no estudo são de um único indivíduo da espécie Australopithecus sediba, mas os pesquisadores também analisaram porções de outros ossos previamente descobertos.

Os fósseis foram escavados em 2015, durante um trabalho de campo próximo a Malapa, sítio arqueológico que é patrimônio mundial, conhecido como Berço da Humanidade, a noroeste de Joanesburgo, na África do Sul. Foi lá que, em 2008, o professor Lee Berger, da Universidade de Witwatersrand, e seu filho de 9 anos, Matthew, descobriram os primeiros restos do que seria uma nova espécie de um antigo parente humano, chamado Australopithecus sediba.

Os fósseis foram datados em aproximadamente 2 milhões de anos antes do presente. As vértebras descritas agora foram recuperadas em uma rocha consolidada semelhante a um cimento e submetidas a uma varredura com um aparelho de microtomografia computadorizada. Depois de preparadas virtualmente, as vértebras foram reunidas com fósseis recuperados durante trabalhos anteriores no local e se articularam perfeitamente com a coluna vertebral do esqueleto. O número de catálogo do esqueleto é MH 2, mas os pesquisadores apelidaram o fóssil feminino de Issa, que significa protetor em suaíli. A descoberta também estabeleceu que, como os humanos, o sediba tinha apenas cinco vértebras lombares.

"A região lombar é crítica para a compreensão da natureza do bipedalismo em nossos primeiros ancestrais e para a compreensão de como eles estavam bem-adaptados para andar sobre duas pernas", diz o professor Scott Williams das universidades de Nova York e Wits e principal autor do artigo. "Séries associadas de vértebras lombares são extraordinariamente raras no registro fóssil de hominíneos, com apenas três espinhas inferiores comparáveis sendo conhecidas de todo o registro africano inicial", diz.

Lordose

Com a coluna mais completa e excelente preservação dos fósseis, o estudo atual descobriu que a lordose — típica curvatura vista no Homo sapiens e associada ao bipedalismo — do sediba era, de fato, mais extrema do que de qualquer outro australopitecíneo já descoberto. A curvatura da coluna observada só foi excedida pelo observado na do menino Turkana de 1,6 milhão de anos (Homo erectus) e em alguns humanos modernos.

"Embora a presença de lordose e outras características da coluna representem adaptações claras para andar sobre duas pernas, há outra, como os processos transversos grandes e orientados para cima, que sugere uma poderosa musculatura do tronco, talvez para comportamentos arbóreos", diz Gabrielle Russo, da Universidade Stony Brook e coautora do estudo. O estudo anatômico indica que o sediba reteve adaptações claras para escalar e que sua coluna é, claramente, intermediária em forma entre as dos humanos modernos (e neandertais) e os grandes macacos. "Issa caminhava como um humano, mas podia escalar como um macaco", diz Berger.

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