Pandemia

Com reação do sistema imunológico, ômicron aumenta proteção contra delta

Em laboratório, a infecção pela nova cepa do Sars-CoV-2 aumenta a reação do sistema de defesa à antiga. Se confirmado, efeito pode ser considerado um importante indício de que a pandemia começa a perder forças, segundo especialistas

Vilhena Soares
postado em 29/12/2021 06:00
 (crédito: AFP)
(crédito: AFP)

A infecção provocada pela variante ômicron do Sars-CoV-2, causador da covid-19, pode aumentar a imunidade contra a variante delta, sugere um estudo sul-africano. Em experimentos laboratoriais, os cientistas identificaram, em amostras de sangue de infectados pela cepa mais recente, uma reação de defesa maior à invasão da forma genética anterior. Para os pesquisadores, a notícia é positiva, pois pode significar um arrefecimento da pandemia — isso considerando que a ômicron, cujos indícios são de que é mais transmissível e menos agressiva ao corpo humano, se torne dominante no mundo. Mais análises, porém, precisam ser conduzidas, e os resultados obtidos, agora, analisados por outros pesquisadores. O trabalho, ainda não revisado por pares, foi publicado na plataforma digital MedRxiv.

A equipe selecionou 13 pessoas — parte delas vacinadas e outra, não — e as expuseram à cepa mais recente do Sars-CoV-2. Amostras de sangue dos voluntários foram expostas às variantes ômicron e delta 14 dias depois de eles testarem positivo para a infecção. Análises do material indicaram aumento de 14 vezes na capacidade de neutralizar a ômicron e 4,4 vezes maior para conter a delta. "O aumento de proteção contra a ômicron era esperado. Esse é o vírus com o qual esses indivíduos foram infectados. No entanto, também vimos que as mesmas pessoas, especialmente aquelas que foram vacinadas, desenvolveram imunidade aprimorada à variante delta", explica, em seu twitter, Alex Sigal, líder do estudo e pesquisador do Africa Health Research Institute.

Sigal e sua equipe avaliam que os dados apontam para uma predominância de casos da cepa ômicron, lugar ocupado atualmente pela delta, o que traria um cenário mais animador, já que, até agora, as infecções provocadas pela mais recente variante do coronavírus têm sido menos graves. "Se os dados se confirmarem, os danos que a covid-19 causou em nossas vidas podem diminuir. O esperado grande número de pessoas infectadas com ômicron pode aumentar, significativamente, o nível de imunidade de toda a população e ajudar a erradicar a delta e pelo menos algumas das outras variantes", tuitou Segal.

Os autores ponderam que, como alguns dos participantes haviam sido vacinados e muitos, provavelmente, também tinham sido infectados por outras cepas do vírus que não as duas testadas, não se pode dizer que a neutralização da delta pode ser totalmente atribuída à infecção pela ômicron. Análises mais amplas e com um número maior de infectados poderão ajudar a responder a essa questão. "Não está claro se o que observamos é uma neutralização cruzada eficaz do vírus delta por anticorpos produzidos pela ômicron ou se é uma ativação da imunidade de anticorpos de infecção anterior e/ou vacinação", detalham.

Reação esperada

Segundo Marcelo Cecilio Daher, médico infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), os dados constatados pela equipe sul-africana eram esperados. "O que sabemos da ômicron? Ela é uma variante que acumula mutações de várias outras cepas, como a delta, a gama e a alfa. Isso acontece já que o vírus tenta sobreviver a todo o custo. É justamente por esse motivo que as ações dos anticorpos contra ela são maiores, o corpo precisa aumentar essa defesa", explica.

Apesar dessa proteção maior, o médico ressalta que é preciso ser prudente, já que a ômicron parecer ser mais transmissível que as cepas anteriores. "Como o poder de propagação é maior, mesmo que os casos leves sejam mais frequentes, nós ainda teremos um número alto de casos graves, já que muitas pessoas estarão com o vírus, principalmente grupos mais vulneráveis, como os idosos. É um cenário que ainda é prejudicial para os hospitais e para outros serviços de saúde, que podem ficar sobrecarregados", explica.

Para Daher, a melhor opção é se proteger contra o vírus com todos os recursos disponíveis, até porque não se pode, ainda, confirmar a menor gravidade dos casos gerados pela ômicron. "Vemos que em países como o Japão, que sofreu com surtos de delta, logo em seguida a onda de ômicron desencadeou casos bem mais leves. Isso é uma boa notícia, mas não temos como confirmar antes de mais análises. É possível que o vírus esteja ficando mais manso, mas não podemos relaxar", enfatiza. "Por isso, também é importante frisar que a vacina é o que vai nos blindar de todas as cepas. Quanto mais seguirmos o regime de reforços corretamente, mais estaremos protegidos."

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Sintomas atualizados

Pesquisadores britânicos revelaram novos sintomas causados pela variante ômicron. Com a ajuda de um aplicativo de celular, eles coletaram dados médicos de mais de 10 mil infectados e constataram sinais semelhantes aos de um resfriado, como coriza e espirros. Inicialmente, relatam, as pessoas sofrem com cansaço, coceira na garganta, dores musculares, tosse seca e febre baixa. Com o tempo, surgem outras complicações, como coriza, espirros e dor de cabeça.
Metade dos indivíduos que testaram positivo para a doença apresentou os sintomas clássicos da enfermidade — perda do olfato ou paladar e tosse. Os especialistas também relataram ter registrado casos de enjoo e perda de apetite em pessoas já vacinadas. “A ômicron é, provavelmente, muito menos agressiva que variantes anteriores, com efeito semelhante à infecção por delta em pessoas que foram vacinadas. Por isso, produz sintomas semelhantes aos do resfriado”, explica Tim Spector, pesquisador e líder do estudo ZOE Covid, em entrevista ao jornal britânico Daily Record.

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