Extrato de planta pode aliviar malária, mostra estudo

Efeito é constatado em ratos após uso da anemonina, produzida a partir de uma espécie conhecida como botão de ouro. Segundo cientistas, com o tratamento, as cobaias perderam menos peso e mantiveram a temperatura corporal

Correio Braziliense
postado em 30/12/2021 06:00
A Ranunculus multifidus já é usada em alguns países africanos para tratar a malária: chancela científica -  (crédito:  crédito: Prof. Dr. Kaleab Asres )
A Ranunculus multifidus já é usada em alguns países africanos para tratar a malária: chancela científica - (crédito: crédito: Prof. Dr. Kaleab Asres )

Uma planta conhecida entre biólogos pode ajudar no tratamento da malária, mostra um grupo de cientistas internacionais. No estudo, os especialistas constataram que extratos de anemonina, presente na planta Ranunculus multifidus. conhecida popularmente como botão de ouro, aliviaram significativamente os sintomas em ratos com a enfermidade tropical. Os dados foram publicados na última edição da revista especializada Molecules.

No artigo, os autores relatam que a Ranunculus multifidus é usada em alguns países africanos, como uma planta medicinal, para tratar a malária. Mas não existiam confirmações científicas desse poder curativo. "Até agora, não se sabia quais ingredientes a planta tinha e quais deles poderiam ter um efeito positivo no tratamento dessa enfermidade", afirma, em comunicado, Kaleab Asres, pesquisador da Universidade de Addis Ababa, na Etiópia, e um dos autores do estudo.

A equipe retirou extratos das folhas da planta e os testou em camundongos: "Nós infectamos os animais com o parasita Plasmodium berghei, que causa malária em alguns roedores. Em humanos, a malária é causada por espécies aparentadas de plasmódio", explica Betelhem Sirak, coautor do trabalho e pesquisador da Universidade Arba Minch, também na Etiópia.

Algumas cobaias receberam cloroquina, um medicamento estabelecido e eficaz para o tratamento da malária. Outras foram tratadas com diferentes doses do extrato da planta. As análises renderam resultados promissores, avaliou o grupo. "Embora os extratos não funcionassem tão bem quanto a cloroquina, eles tiveram um efeito claramente positivo no curso da doença. Por exemplo, os ratos perderam significativamente menos peso, e a temperatura corporal também ficou mais estável do que sem o tratamento", detalha Peter Imming, coautor do estudo e professor da Universidade Arba Minch.

Em uma análise molecular extremamente apurada, constatou-se que o poder curativo só poderia ser desencadeado pelo ingrediente ativo anemonina, presente nos extratos do botão de ouro. "Na verdade, o Ranunculus multifidus não contém essa substância em sua forma original. A anemonina é formada quando a planta é ferida — por exemplo, quando é esmagada — e o interior de suas células entra em contato com o ar. É provavelmente por isso que os extratos funcionaram tão bem. Possivelmente, não veríamos a mesma melhora sem alterar as folhas", explica Imming.

Resistência

A equipe suspeita que, assim como a cloroquina, a anemonina afeta o metabolismo do parasita, embora, provavelmente, o ataque em um local diferente. Isso seria uma boa notícia, porque os plasmódios desenvolveram resistência à cloroquina em algumas áreas da África Oriental e Ocidental, ressaltaram os responsáveis pela pesquisa. "A anemonina pode ter o potencial de contornar essa resistência", aposta Imming.

O grupo pondera, porém, que o uso dessa substância como um novo tratamento para a malária requer uma série de estudos adicionais, a fim de decifrar o mecanismo exato de ação, o que poderá, inclusive, aumentar sua eficácia. "Se esses testes forem bem-sucedidos, estudos clínicos serão realizados por vários anos para confirmar a eficácia em pacientes", preveem.

Os cientistas também testaram os efeitos do extrato da planta com outros patógenos — dessa vez, em tubos de ensaio. A substância teve resultados positivos nas análises feitas com parasitas comuns, como a leishmania e schistosoma, mas não no caso da tuberculose. A equipe também comemorou esses dados. "Uma substância que ataca todos os tipos de células também ataca as células humanas — e, portanto, é um veneno", justifica Imming.

 


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