Pandemia

Pesquisa reforça que grávidas correm mais risco de morrer de covid-19

Pesquisas reforçam a tese de que gestantes e bebês são mais vulneráveis à infecção pelo Sars-CoV-2. Mães com covid-19, por exemplo, têm probabilidade 15 vezes maior de morrer. Um dos estudos também atesta o efeito protetivo das vacinas

Paloma Oliveto
postado em 14/01/2022 06:00
 (crédito: JOAQUIN SARMIENTO)
(crédito: JOAQUIN SARMIENTO)

Três estudos divulgados nesta semana reforçam a necessidade de gestantes se vacinarem contra a covid-19. Realizados de forma independente em diferentes populações, todos apresentam resultados semelhantes: a infecção por Sars-CoV-2 durante a gravidez aumenta significativamente o risco de morte da mãe e do bebê, além de outros desfechos negativos, como parto prematuro e baixo peso ao nascer. Uma das pesquisas, com dados de 870 mil mulheres que deram à luz nos EUA, encontrou uma probabilidade 15 vezes maior de óbito e 14 de intubação de infectadas, comparado às não afetadas pelo vírus.

A boa notícia é que um dos artigos avaliou o efeito das vacinas: elas não só se mostraram seguras como evitaram desfechos negativos. Estatisticamente, não houve aumento na probabilidade de aborto, parto prematuro e defeitos congênitos. "Embora gestantes não tenham risco maior de pegar covid, elas têm risco maior de complicações do que outras mulheres, incluindo de morrer ou necessitar de terapia intensiva. E, mesmo se não precisarem de hospitalização, estão mais propensas a perder seus bebês", comenta o virologista Peter English, ex-diretor da revista Vacinas em Prática. "Isso enfatiza a questão de que gestantes devem ser vacinadas, e que estar grávida é uma razão extra para se imunizar, e não uma contraindicação."

O estudo norte-americano, publicado, na quarta-feira, na revista Jama, comparou ocorrências adversas entre gestantes que tiveram ou não covid entre março de 2020 e fevereiro de 2021. Dessas, 2,2% haviam sido infectadas durante a gestação. O risco de parto prematuro no grupo das que testaram positivo para Sars-CoV-2 foi 42% mais elevado. Além disso, entre essas últimas, a probabilidade de ser admitida na unidade de terapia intensiva (UTI) foi seis vezes maior.

Divulgada ontem na revista The Lancet Digital Health, outra pesquisa mostrou que a infecção por Sars-CoV-2 durante a gravidez aumenta o risco de parto prematuro, baixo peso ao nascer e de óbito do bebê, especialmente quando o contágio ocorre no segundo e no terceiro trimestre. Baseado nos prontuários médicos de mais de 18 mil gestantes que testaram positivo para Sars-CoV-2, o estudo, liderado pelo Instituto de Sistemas Biológicos, nos EUA, constatou risco aumentado de complicações mesmo em mulheres com as formas leve e moderada da doença. "A covid-19 coloca em risco tanto a saúde materna quanto a fetal. Isso reforça a necessidade de proteger as gestantes", diz Jennifer Hadlock, autora correspondente do artigo.

Hadlock conta que outros fatores associados a desfechos negativos na gestação e no parto, como a idade gestacional mais avançada, foram ajustados, no estudo, para se ter certeza da associação com a infecção por covid-19. Ela observa que os dados foram coletados quando a vacina ainda não estava amplamente disponível nos Estados Unidos e diz que pesquisas futuras devem indicar se a imunização pode prevenir os riscos em mulheres infectadas, ainda que vacinadas.

Duas doses

Foi isso que fizeram pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia. A equipe analisou dados relativos a todas as gestações no país, entre dezembro de 2020 e outubro de 2021. Até aquele mês, 32% das grávidas haviam recebido duas doses da vacina para covid, um percentual expressivamente menor quando comparado à população em geral (77%). Diferentemente do estudo norte-americano, o risco maior de prematuros, natimortos e morte do recém-nascido foi mais comum em mulheres que contraíram o Sars-CoV-2 no fim da gestação, por volta de 28 dias antes do parto. A maioria das complicações, incluindo internação em UTI, ocorreu entre pessoas não vacinadas. O estudo foi publicado ontem, na revista Nature Medicine.

De acordo com os dados, a taxa de mortalidade perinatal estendida relativa a mulheres que tiveram covid-19 foi 23 por mil nascimentos. O índice mede a morte do bebê, no útero, após 24 semanas de gravidez ou nos primeiros 28 dias após o nascimento. No período analisado, todos os óbitos do tipo ocorreram entre crianças cuja mãe não havia se vacinado. Estatísticas anteriores à pandemia mostram que, no país, essa taxa era de 6 por mil nascimentos.

A internação hospitalar também foi significativamente mais comum em gestantes com covid-19 que não foram vacinadas no momento do diagnóstico do que em grávidas imunizadas. Segundo o estudo, 98% das infectadas pelo Sars-CoV-2 na gestação que precisaram ser hospitalizadas nas unidades intensivas não haviam tomado a vacina.

Por fim, os pesquisadores monitoraram as taxas de complicações em mulheres que receberam a vacina para covid durante a gravidez. A mortalidade perinatal e as taxas de parto prematuro dentro de 28 dias após o recebimento da vacina foram muito semelhantes às estatísticas de base, fornecendo mais garantias sobre a segurança da vacinação durante a gravidez. "Nossos dados reforçam a evidência de que a vacinação na gravidez não aumenta o risco de complicações, mas a covid- 19, sim", comenta Sarah Stock, obstetra e pesquisadora do Instituto Usher da Universidade de Edimburgo.

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É preciso vacinar

"Com base nesses dados e em outros estudos agora disponíveis que demonstram a segurança das vacinas em todas as fases da gravidez, parteiras, obstetras e médicos de família devem instar as gestantes a tomar a vacina e, se elegível, o reforço, para o próprio benefício e de seus bebês. Não há nada mais angustiante para as famílias do que perder uma jovem mãe e/ou seu bebê para uma doença evitável. Vamos agir agora para impedir que isso aconteça."

Penny Ward, professora de medicina farmacêutica no King´s College de Londres

AstraZeneca: reforço funciona

O laboratório britânico AstraZeneca divulgou, ontem, dados preliminares de um estudo em andamento mostrando que a vacina Vaxzevria, para a covid-19, aumentou a resposta imunológica a todas as cepas do Sars-CoV-2, incluindo a ômicron, quando administrada como terceira dose, de reforço. Os resultados foram verificados em pessoas previamente imunizadas com a substância produzida pela companhia ou com uma vacina de mRNA, como a da Pfizer. Anteriormente, um artigo publicado na plataforma de pré-impressão da The Lancet demonstrou que o mesmo acontece em pessoas imunizadas com a CoronaVac.

Em nota, a AstraZeneca informou que enviou os dados às autoridades de saúde de todo o mundo devido à "necessidade urgente de reforços da terceira dose". Segundo o professor Andrew J Pollard, pesquisador-chefe e diretor do Grupo de Vacinas da Universidade de Oxford, "esses estudos importantes mostram que uma terceira dose de Vaxzevria após duas doses iniciais da mesma vacina, ou após (os imunizantes) de mRNA ou de vírus inativados, aumenta fortemente a imunidade contra a covid-19". O ensaio de segurança mostrou que a Vaxzevria continuou a ser bem tolerada, sem efeitos colaterais graves. Outras análises do estudo são esperadas ainda no primeiro semestre. (PO)

Mais atraentes com máscara

Um estudo da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, constatou que os britânicos consideram que as pessoas são mais atraentes fisicamente quando usam máscaras de proteção contra a covid. “Em um momento em que nos sentimos vulneráveis, podemos achar o uso de máscaras médicas reconfortante e, assim, nos sentirmos mais positivos em relação ao usuário”, disse o autor da pesquisa, o psicólogo Michael Lewis, ao jornal The Guardian. A primeira parte contou com o julgamento de 43 mulheres, que avaliaram o rosto de homens com e sem máscara. Segundo Lewis, em breve, um novo artigo mostrará que o público do sexo masculino pensa igual ao feminino.

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