Pandemia

Estudo de detecção do Sars-CoV-2 identifica que vírus fica ativo por 10 dias

A pesquisa britânica identificou que o potencial infeccioso do micro-organismo por um período superior ao que se imaginava em 13% das amostras coletadas em pacientes de covid

Paloma Oliveto
postado em 18/01/2022 06:00
 (crédito: Niklas HALLE'N / AFP)
(crédito: Niklas HALLE'N / AFP)

À medida que países como Brasil e Reino Unido reduzem o prazo de quarentena para infectados pelo Sars-CoV-2, aumenta o interesse de pesquisadores sobre o prazo para o retorno seguro às atividades. Estudo da Universidade de Exeter, no Reino Unido, publicado no International Journal of Infectious Diseases mostrou que uma em cada 10 pessoas que tiveram covid-19 permanecem com níveis de vírus ativo depois de 10 dias da detecção do micro-organismo. Isso significa que continuam potencialmente capazes de transmiti-lo.

Para fazer o estudo, os pesquisadores utilizaram um teste adaptado, que identifica o RNA subgenômico, usando a técnica do PCR. Esse material é produzido por vírus que se replicam ativamente e, portanto, podem ser considerados vivos e com potencial infeccioso. Embora a metodologia do PCR padrão seja muito precisa para identificar o genoma do Sars-CoV-2, ela não distingue os micro-organismos vivos daqueles que são incapazes de contaminar outras pessoas. É por isso que muitos dos resultados positivos tempos depois do primeiro diagnóstico podem ser falsos.

Usando o PCR adaptado, a equipe analisou amostras de 176 pessoas que testaram positivo pelo método padrão. Os cientistas analisaram os swabs (cotonetes usados no exame) dos pacientes sintomáticos, colhidos ao longo de oito meses, e constataram que 13% deles ainda exibiam níveis clinicamente relevantes de vírus ativo após 10 dias, o que significa que tinham potencial de continuar infecciosos.

No período de cinco dias, estabelecido por Brasil e Reino Unido como fim da quarentena, uma em três pessoas ainda apresentava vírus ativos, ainda que não tivesse mais sintomas. "Não havia nada clinicamente notável sobre essas pessoas, o que significa que não poderíamos prever que podiam ainda ter o vírus replicante", observa Lorna Harries, professora de Genética Molecular de Exeter e coautora do estudo.

Para Harries, o estudo aponta para a necessidade de se utilizar testes capazes de detectar o vírus ativo mesmo quando o exame padrão resulta em negativo. "Cuidados especiais devem ser tomados em ambientes vulneráveis, como casas de repouso, pois os idosos vacinados com imunidade em declínio podem estar muito mais em risco. Um teste que pode detectar vírus especificamente ativos, como o nosso, pode ser útil nesses casos especializados", diz.

Contudo, especialistas acreditam que seria necessário aprimorar ainda mais a tecnologia, permitindo a detecção do vírus ativo sem a necessidade do PCR, que ainda requer instalações laboratoriais complexas. O ideal, dizem, é que os testes rápidos, semelhantes aos de fluxo lateral utilizados atualmente — aqueles portáteis, que apresentam o resultado em 15 minutos mas que, por enquanto, não são tão precisos. "A capacidade de identificar os vírus replicantes e potencialmente infecciosos seria muito útil para determinar se é seguro para os indivíduos encerrar seu período de isolamento, particularmente quando se trata de pessoas que trabalham com populações vulneráveis no setor de saúde e assistência e aqueles indivíduos que desejam visitar familiares vulneráveis", afirma Nathalie MacDermott, do Centro de Pesquisas Biomédicas do King's College de Londres.

Incertezas

Para o infectologista Paul Hunter, professor de medicina da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, os resultados obtidos pela pesquisa de Exeter, porém, não comprovam que ter o vírus ativo torna uma pessoa infectante. "O artigo relata a detecção do RNA subgenômico do Sars-CoV-2 por algum tempo após o início da infecção e, como sugerido, as pessoas podem permanecer infecciosas por mais tempo do que se pensa. No entanto, como afirmado pelos autores, 'a correlação entre a infectividade e a positividade do sgRNA derivado do gene e nem sempre é bem conservada' ou, em outras palavras, mesmo que as pessoas permaneçam positivas, elas ainda podem não ser infecciosas", destaca.

Segundo Hunter, sabe-se, por estudos anteriores, que o vírus pode ser eliminado desde quatro dias antes até várias semanas após o início dos sintomas. "Isso não significa, necessariamente, infecciosidade. Muito poucos estudos tentaram medir quando os casos infectam outros. Um desses estudos sugeriu que a maioria das infecções foi transmitida entre dois dias antes e três dias após o início dos sintomas", afirma. Isso sugeriria, diz o professor, que confiar no RNA subgenômico superestimaria o risco de transmissão após esse período.

"Esse trabalho também se refere a infecções pré-ômicron", destaca Hunter. "Existem algumas evidências de que a ômicron atinge o pico de disseminação viral dois ou três dias depois das variantes anteriores, mas ainda não há evidências epidemiológicas realmente boas sobre quando os pacientes com ômicron têm maior probabilidade de infectar outros." Ainda assim, o médico lembra que, no momento, provavelmente, o mundo está detectando apenas um terço de todas as infecções ativas, o que significa que 75% das pessoas contaminadas pelo Sars-CoV-2 estão circulando livremente, com potencial de transmiti-lo. Por isso, ele defende que, independentemente de se afrouxar ou intensificar regras de distanciamento social, o mais importante é continuar vacinando a população e dar continuidade às medidas de higiene e de proteção, como uso de máscara.

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