"Gene da covid" protege contra HIV

Correio Braziliense
postado em 22/02/2022 00:01
 (crédito:  MPI EVAN)
(crédito: MPI EVAN)

Durante a pandemia de covid-19, pesquisadores notaram que algumas pessoas ficam gravemente doentes quando infectadas com o Sars-CoV-2, enquanto outras apresentam sintomas leves ou até nenhum sinal da enfermidade. Além de fatores de risco, como idade avançada e doenças crônicas, os especialistas descobriram que a diferença também poderia estar relacionada a uma variante genética. Em um estudo publicado na última edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), cientistas do Instituto Karolinska, na Suécia, revelam que essa peça de DNA também é responsável por proteger o corpo humano do HIV.

Em 2020, os mesmos pesquisadores revelaram que o principal fator de risco genético para a forma grave da covid-19 foi herdado dos neandertais, parentes antigos do Homo sapiens, extintos por volta de 50 mil anos. Já em 2021, o grupo observou que essa variante no DNA humano antigo aumentou significativamente desde a última era glacial, o que despertou ainda mais interesse pela mutação. "Esse fator de risco genético para o novo coronavírus é tão comum que comecei a me perguntar se ele poderia realmente ser bom para algo, como fornecer proteção contra outra doença infecciosa", explicou Hugo Zeberg, autor do estudo.

Receptor

No trabalho, o especialista esclarece que o fator de risco genético para covid-19 está localizado em uma região nomeada de cromossomo 3, local onde também estão presentes genes que codificam receptores do sistema de defesa do organismo. Um deles, o CCR5, é usado pelo vírus HIV para infectar os glóbulos brancos. Zeberg descobriu que as pessoas com a mutação que pode agravar a covid têm menos estruturas do tipo. A informação fez o cientista testar se esses indivíduos também apresentavam um risco reduzido de se infectar com o micro-organismo causador da Aids.

Ao analisar dados de pacientes de três grandes biobancos (FinnGen, UK Biobank e Michigan Genomic Initiative), o especialista descobriu que os portadores da variante de risco para covid-19 tinham uma probabilidade 27% menor de contrair o HIV. "Isso mostra como uma variante genética pode ser uma boa e uma má notícia: más notícias se uma pessoa contrair o novo coronavírus, uma boa notícia porque oferece proteção contra a infecção pelo HIV", detalhou Zeberg.

No entanto, como o HIV surgiu apenas durante o século 20, a proteção contra essa doença infecciosa não pode explicar por que a variante de risco genético para covid-19 se tornou tão comum entre os humanos há 10 mil anos. "Agora, sabemos que a mutação oferece proteção contra o HIV. Mas, provavelmente, ela foi usada como um escudo contra mais uma outra doença, que se tornou mais frequente após a última era glacial", detalhou Zeberg.

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