Pandemia

Estudo mostra que síndrome rara atinge mais crianças com covid-19 do que vacinadas

Estudo com crianças e jovens mostra que a MIS-C, uma doença inflamatória potencialmente letal, ocorreu à taxa de 0,3 caso por 1 milhão entre os imunizados. A complicação pediátrica é associada à infecção pelo coronavírus

Correio Braziliense
postado em 23/02/2022 06:00
 (crédito: Carlos Vieira/CB)
(crédito: Carlos Vieira/CB)

Os casos relatados de síndrome inflamatória multissistêmica (MIS-C) em crianças e adolescentes que receberam pelo menos uma dose de vacina para covid-19 foram raros — estimados em uma ocorrência por 1 milhão de pessoas imunizadas nesta faixa etária. Já a taxa de notificação de infecções assintomáticas por Sars-CoV-2 foi de 0,3 por 1 milhão de vacinados, com idades entre 12 e 20 anos, de acordo com um estudo observacional publicado na revista The Lancet Child & Adolescent Health.

A pesquisa norte-americana descobriu que a taxa de MIS-C em crianças e adolescentes é substancialmente menor do que as estimativas publicadas anteriormente e relativas a pessoas desta faixa etária que não foram vacinadas. O período de estudo foi de abril a junho de 2020.

A MIS-C, também conhecida como síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica, é uma condição rara associada à infecção por Sars-CoV-2, que foi reconhecida pela primeira vez em abril de 2020. Acredita-se que se trate de uma reação imunológica exagerada, que ocorre aproximadamente entre duas e seis semanas após o contágio pelo coronavírus em crianças e adolescentes. Os sintomas incluem febre, erupção cutânea, vermelhidão nos olhos e condições gastrointestinais (por exemplo, diarreia, dor de estômago e náusea) e podem levar à falência de múltiplos órgãos.

Segurança

"Como parte do esforço abrangente para monitorar a segurança da vacina, o CDC tem monitorado de perto os casos de MIS-C em crianças vacinadas", explica Anna R. Yousaf, pesquisadora dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. "Nossos resultados sugerem que os casos são raros e que a probabilidade de desenvolver a síndrome é muito maior em crianças que não são vacinadas e contraem covid-19."

O estudo investigou relatos de MIS-C em crianças e adolescentes de 12 a 20 anos ocorridos durante os primeiros nove meses da implementação da vacinação nos EUA (14 de dezembro de 2020 a 31 de agosto de 2021). Uma equipe de médicos especialistas e epidemiologistas examinou 47 casos suspeitos registrados em pessoas da faixa etária analisada, a qualquer momento após uma dose de vacina para covid.

Destes, 21 se enquadram nos critérios de MIS-C estabelecidos pelo CDC. Em seguida, os pesquisadores separaram esses casos em dois grupos: com ou sem evidência de uma infecção passada ou por Sars-CoV-2, detectada em testes de laboratório. Eles, então, calcularam as taxas de notificação usando dados de vigilância nacional de vacinas do CDC sobre o número de indivíduos entre 12 e 20 anos nos EUA que receberam uma ou mais doses da vacina.

Os cientistas descobriram que, dos 21, 15 tinham evidências de infecção passada ou recente por Sars-CoV-2, enquanto seis não. Como mais de 21 milhões de crianças e adolescentes receberam uma ou mais doses da vacina nos EUA, a taxa de notificação da síndrome foi de 1 caso por 1 milhão de indivíduos vacinados, sendo que, após a exclusão de pacientes que haviam sido infectados previamente pelo coronavírus, esse índice caiu para 0,3 por 1 milhão.

Os autores enfatizam, ainda, que, mesmo nesses casos raros, não se pode determinar se a vacinação contribuiu para o desenvolvimento da síndrome. Como a MIS-C foi identificada pela primeira vez durante a pandemia, não existe nenhuma taxa de base pediátrica, com causa não identificada, para estimar um número de referência, independentemente da infecção por covid-19 ou vacinação. É possível que algumas das ocorrências identificadas tenham outras condições inflamatórias não reconhecidas que, coincidentemente, ocorreram após a imunização.

Teste

Dos 15 indivíduos com infecção anterior por Sars-CoV-2, três foram diagnosticados com MIS-C fora do período típico de duas a seis semanas (1442 dias), quando a doença subsequente é mais provável de ocorrer. O início da síndrome se deu, respectivamente, 105, 191 e 238 dias após o teste positivo para o coronavírus.

Os 21 pacientes de MIS-C foram hospitalizados, sendo 12 internados em unidade de terapia intensiva (UTI) e todos receberam alta hospitalar. A idade mediana foi de 16 anos; 13 eram do sexo masculino e oito do feminino.

Todos os indivíduos com MIS-C no estudo receberam a vacina Pfizer-BioNTech, a única autorizada nos EUA para uso em menores de 18 anos durante o período do estudo. Onze tomaram uma única dose, e 10 foram imunizados também com reforço antes do início da síndrome. O tempo médio da imunização até a internação foi de oito dias para aqueles do primeiro grupo e de cinco para o segundo. "Os médicos e pesquisadores ainda estão aprendendo sobre a MIS-C. Nossa investigação destaca os desafios no diagnóstico da síndrome, a importância de considerar diagnósticos alternativos e a necessidade de monitorar a doença MIS-C", diz Yousaf.

Os autores observam algumas limitações adicionais do estudo. É possível que alguns dos casos de MIS-C identificados tenham outra doença inflamatória com sintomas semelhantes, pois não há teste definitivo para o diagnóstico da síndrome. Dado que os testes de laboratório para covid-19, incluindo de anticorpos, são imperfeitos, também há chance de alguns relatos terem sido classificados incorretamente.

As crianças, geralmente, apresentam infecção leve ou assintomática, que podem gerar menos anticorpos, os quais podem, inclusive, resultar de contágios anteriores não detectados. Também é possível que nem todos os casos de MIS-C após a vacinação tenham sido notificados no sistema de vigilância, potencialmente levando à subnotificação. "As descobertas do estudo, em geral, são bastante tranquilizadoras. Relatos de MIS-C após a vacinação ocorreram em apenas 1 por milhão de indivíduos com idades entre 12 e 20 anos que receberam uma ou mais doses da vacina, e 15 (71%) de 21 pessoas com a síndrome tiveram exames laboratoriais com evidência de infecção antecedente por Sars-CoV-2, lançando dúvidas sobre a atribuição (à vacina)", comentou Mary Beth Son, pediatra do Hospital Infantil de Boston, EUA, que não esteve envolvida na pesquisa.

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