Perigo escondido

Uso frequente de analgésico solúvel aumenta risco de doenças cardiovasculares

Pesquisadores descobrem aumento da mortalidade e de doenças cardiovasculares em pessoas que usam analgésico solúvel frequentemente. A versão efervescente contém níveis elevados de sódio, associado aos efeitos negativos observados

Paloma Oliveto
postado em 02/03/2022 06:00
 (crédito: Nenad Stojkovic/Divulgação)
(crédito: Nenad Stojkovic/Divulgação)

O uso regular de paracetamol solúvel está associado a um risco elevado de eventos cardiovasculares e óbitos, especialmente em pessoas com hipertensão, quando comparado a pacientes que utilizam a versão em comprimido da droga. Um estudo publicado no European Heart Journal, da Sociedade de Cardiologia Europeia, com dados de 300 mil pessoas, constatou que a quantidade de sódio no medicamento efervescente ultrapassa a dose diária recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2g, o que eleva a probabilidade de ocorrência de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca e morte. O consumo esporádico, porém, não está associado a intercorrências negativas, ressaltam os pesquisadores.

A ingestão exagerada de sal é um importante fator de risco para doenças cardíacas e circulatórias. O sódio, um dos principais componentes da especiaria, é frequentemente usado para ajudar medicamentos efervescentes a se dissolver na água. Os pesquisadores da Universidade Central Sul, na China, analisaram dados de cerca de 300 mil pessoas com idades entre 60 e 90 anos, com registros médicos no sistema de saúde da Inglaterra. Cerca de metade deles tinha pressão alta. Todos receberam prescrição de uso do paracetamol — alguns na forma com sódio, e outros sem o elemento. Os cientistas os acompanharam por um ano.

Nos hipertensos que usaram a versão efervescente, o risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou insuficiência cardíaca após um ano foi de 5,6%, e de morte foi de 7,6%. Naqueles com pressão alta tomando paracetamol sem sódio, esses percentuais foram de 4,6% e 6,1%, respectivamente. Mesmo em pessoas sem pressão alta, a probabilidade de sofrer de infarto, derrame ou insuficiência cardíaca no prazo do estudo foi de 4,4%, enquanto o índice de óbitos foi de 7,3%. Já nos indivíduos do grupo de controle, que usaram o medicamento em forma de comprimido, as chances foram de 3,7% e 5,9%, respectivamente.

"O risco de doença cardiovascular aumentou em um quarto para pacientes com pressão alta que tiveram uma prescrição de paracetamol contendo sódio, e aumentou quase pela metade para pacientes que tiveram cinco ou mais prescrições do medicamento. Vimos aumentos semelhantes em pessoas sem pressão alta. O risco de morte também aumentou com a elevação das doses em pacientes com e sem pressão alta", disse, em nota, Chao Zeng, do Hospital Xiangya, um dos autores do estudo. O pesquisador alerta que o uso desse tipo de medicamento não é incomum. "O sódio é amplamente utilizado em preparações de medicamentos para aumentar a solubilidade e a desintegração (do remédio). Em 2018, 170 pessoas por 10 mil, no Reino Unido, usavam medicamentos com sódio, com maior proporção entre as mulheres."

Alerta

Para Zeng, médicos e pacientes devem estar alertas quanto aos riscos associados ao medicamento que contém sódio, e evitar o consumo desnecessário, principalmente quando o remédio é prescrito por um longo período. "Dado que o efeito de alívio da dor do paracetamol sem sódio é semelhante ao do com sódio, os médicos podem prescrever o primeiro para minimizar o risco de doença cardiovascular e morte. As pessoas devem prestar atenção não apenas à ingestão de sal em seus alimentos, mas também não negligenciar a ingestão oculta de sal dos medicamentos que estão em seus armário", disse.

"Reduzir o sal em nossas dietas é uma maneira importante de ajudar a manter nossa pressão arterial sob controle, e diminuir o risco de ter um ataque cardíaco ou derrame. No entanto, essa grande análise sugere que as pessoas que tomam alguns tipos de paracetamol podem estar consumindo inadvertidamente muito sódio, um dos principais componentes do sal", comenta o médico Nilesh Samani, diretor médico da Sociedade Europeia de Cardiologia. Ele ressalta, porém, que estudos observacionais, como esse, mostram uma associação, mas não podem provar a relação de causa e efeito, o que deve ser feito utilizando outras metodologias de pesquisa.

Em um editorial publicado na mesma edição do European Heart Journal, Alta Schutte, professora da do Instituto George para Saúde Global, na Austrália, e Bruce Neal, professor de epidemiologia clínica do Imperial College London, no Reino Unido, alertaram que, com o aumento da popularidade de medicamentos efervescentes, que prometem uma ação mais rápida, os efeitos adversos da ingestão de sódio parecem aumentar.

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Eficácia reduzida em crianças

 (crédito:  JOSEPH PREZIOSO/AFP)
crédito: JOSEPH PREZIOSO/AFP

A versão de baixa dose da vacina Pfizer-BioNTech para covid-19 é muito menos eficaz na proteção de crianças pequenas, comparada à administrada em meninas e meninos mais velhos e em adultos, segundo um estudo norte-americano. Ainda assim, a substância fornece proteção robusta contra adoecimento grave na faixa dos 5 aos 11 anos, afirma o artigo, publicado em uma plataforma de pré-impressão.

O estudo analisou dados coletados de mais de 1,2 milhão de crianças e adolescentes totalmente vacinados, com idades entre 5 e 17 anos, entre dezembro e janeiro de 2022. Os pesquisadores, do Departamento de Saúde do Estado de Nova York, descobriram que, em um mês, a capacidade da vacina de proteger da infecção os pequenos de 5 a 11 anos caiu de 68% para 12%. Esses imunizados receberam uma injeção contendo 10mg da substância, um terço da dose administrada em pessoas acima de 18 anos.

Enquanto isso, a eficácia em adolescentes de 12 a 17 anos, que receberam a mesma dose de 30mg que os adultos, mostrou um declínio menor, caindo de 66% para 51% no período do estudo. "Esses resultados destacam a potencial necessidade de estudar a dosagem alternativa de vacinas para crianças e a importância contínua de medidas de proteção individual, incluindo o uso de máscaras, para prevenir infecções e transmissão", afirmou o estudo.

Os resultados do estudo vêm apenas alguns dias depois que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças facilitaram as diretrizes sobre uso de máscaras em muitas localidades norte-americanas. Vários distritos escolares, incluindo o da cidade de Nova York — o maior do país —anunciaram que o acessório não será mais obrigatório pelos estudantes em breve.

A Pfizer também anunciou um adiamento no pedido de imunização de crianças entre 6 meses e 4 anos. O Food and Drug Administration, dos EUA, pediu mais tempo para analisar dados sobre o estudo que avaliou a eficácia nessa faixa.

Evidências convincentes

"Como este não foi um estudo randomizado — onde as pessoas são alocadas para tomar paracetamol contendo sódio ou sem sódio —, não é possível concluir com firmeza que as versões contendo sódio aumentam diretamente o risco de morte e doenças cardíacas. No entanto, as evidências circunstanciais fornecidas levantam uma preocupação real de que eles possam provocar esse efeito. Faz sentido imaginar que tomar regularmente paracetamol contendo sódio por longos períodos de tempo aumente o risco de doenças cardíacas e morte, com base em evidências de outros estudos, que comparam a ingestão de sal com os prognósticos de saúde. A menos que haja uma boa razão pela qual as pessoas só podem engolir formas solúveis do medicamento, elas devem evitá-las."

Tim Chico,
professor de Medicina Cardiovascular da Universidade de Sheffield, na Inglaterra

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