Pandemia

Sistema de defesa resiste a mutações no vírus da covid-19, indica pesquisa

As alterações que levaram ao surgimento da variante ômicron não anulam a imunidade adquirida por quem foi vacinado contra a covid-19 ou infectado pela cepa original do novo coronavírus, indica pesquisa americana

Correio Braziliense
postado em 12/03/2022 06:00
 (crédito: ALAIN JOCARD)
(crédito: ALAIN JOCARD)

As pessoas que ganharam imunidade — seja por vacinação, seja por exposição — contra a cepa original do Sars-CoV-2, o vírus que causa a covid-19, também terão alguma proteção contra a variante ômicron do patógeno. Isso porque as mutações que levaram ao surgimento da versão não são encontradas nas regiões do micro-organismo que estimulam um tipo de resposta imune celular, diz uma equipe internacional de pesquisa coordenada pela Johns Hopkins Medicine, em colaboração com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos EUA.

No entanto, os pesquisadores alertam que a descoberta se refere apenas a um tipo de imunidade mediada por células — a defesa do corpo contra invasores, que não envolve anticorpos circulantes — e que pode ser a resposta imune relacionada a anticorpos (conhecida como imunidade humoral). O estudo foi publicado na mBio, revista da Sociedade norte-americana de Microbiologia.

"Em janeiro de 2021, descobrimos que, em pessoas previamente infectadas com a cepa original da covid, epítopos específicos (porções de uma proteína que provocam uma resposta imune) do vírus são reconhecidos por células do sistema imunológico conhecidas como linfócitos T CD8 ou T assassinas, e que esse reconhecimento permite um ataque mediado por células à covid", diz o autor principal do estudo, Andrew Redd, professor-assistente de medicina na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e cientista da equipe do NIAID.

Reed conta que, no trabalho mais recente, ele e a equipe descobriram que esses epítopos permaneceram praticamente intocados pelas mutações encontradas na variante ômicron. "Portanto, a resposta das células T CD8 à variante deve ser praticamente tão forte quanto à forma inicial do Sars-CoV-2", diz. Outros grupos de pesquisa nos Estados Unidos e na África do Sul demonstraram resultados muito semelhantes para pessoas previamente infectadas ou vacinadas contra a cepa original do coronavírus.

Antígenos

As células T CD8 são apelidadas de T assassinas por sua capacidade de eliminar invasores estranhos, como bactérias e vírus. As usadas no estudo recente foram de amostras de sangue coletadas em 2020 de 30 pacientes que se recuperaram de casos leves a moderados de covid-19. Os doadores de plasma convalescentes tinham seis antígenos leucocitários humanos (proteínas de superfície celular que regulam o sistema imunológico e fazem parte do perfil genético de cada pessoa), diz Redd, que representam mais de 73% da população dos EUA.

"Isso sugere que uma parcela significativa dos americanos que foram vacinados ou expostos à cepa original do Sars-CoV-2 pode ter células T citotóxicas que podem produzir uma resposta imune à ômicron", explica o autor sênior do estudo, Aaron Tobian, diretor da divisão de medicina transfusional e professor de patologia da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins. As amostras de sangue usadas nesse estudo foram coletadas de 26 a 62 dias após os doadores pararem de apresentar sintomas. Isso permitiu que a resposta imune ao vírus fosse totalmente madura e produzisse células T CD8 preparadas contra ele.

As amostras de doadores foram enviadas ao ImmunoScape, companhia biotecnológica em Singapura, para a difícil tarefa de identificar quais células T haviam respondido ao vírus. Mais especificamente, o método da empresa mostrou quais proteínas virais provocaram uma reação direcionada às células T — dados que podem fornecer informações valiosas sobre as propriedades funcionais dessas estruturas.

Na análise original, as amostras de sangue foram sondadas com 408 epítopos diferentes de Sars-CoV-2 da proteína spike, da cápsula do vírus e de proteínas não estruturais dentro do micro-organismo. Os pesquisadores descobriram que as células T dos doadores convalescentes reconheceram 52 dos 408 epítopos.

Redd diz que, no último estudo, os pesquisadores examinaram os 52 epítopos previamente identificados nas amostras de sangue convalescentes para determinar se eles foram alterados por mutações de escape — mudanças genéticas que permitiriam ao vírus evitar ser suscetível à imunidade mediada por células. "Encontramos apenas um epítopo de baixa prevalência da proteína ômicron spike que teve uma pequena alteração em relação ao seu antecessor no vírus original", diz Redd. "No geral, a variante ômicron é conhecida por ter mais de 50 diferenças mutacionais entre ela e a cepa original de Sars-CoV-2, mas parece que o vírus não desenvolveu a capacidade de evitar o reconhecimento de células T."

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Exercícios e covid longa

Embora não exista tratamento medicamentoso para a covid longa, o exercício físico é capaz de quebrar o ciclo vicioso de inflamação que pode levar ao desenvolvimento de diabetes e depressão meses após a pessoa se recuperar do vírus. A condição é descrita pelos Centros de Controle de Doenças dos EUA como "uma constelação de outros sintomas debilitantes, incluindo nevoeiro cerebral, dor muscular e fadiga que podem durar meses depois que uma pessoa se recupera da infecção inicial" e pode atingir até 80% dos sobreviventes.

"Sabemos que a covid longa causa depressão e que pode aumentar os níveis de glicose no sangue a ponto de as pessoas desenvolverem cetoacidose diabética, uma condição potencialmente fatal, comum entre pessoas com diabetes tipo 1", disse Candida Rebello, pesquisadora do Pennington Biomedical Research Center. "O exercício pode ajudar. Ele trata a inflamação que leva à elevação da glicose no sangue e ao desenvolvimento e progressão do diabetes e da depressão clínica."

Rebello indica como adotar a medida protetiva."Você não tem que correr um quilômetro ou mesmo caminhar um quilômetro em ritmo acelerado. Andar devagar também é se exercitar. Idealmente, você faria uma sessão de 30 minutos de atividade física. Se você puder fazer apenas 15 minutos de cada vez, tente fazer duas sessões de 15 ao dia. Se você só pode caminhar 15 minutos uma vez por dia, faça isso. O importante é tentar. Não importa onde comece. Gradualmente atinge-se o nível recomendado." Resultados do trabalho foram publicados na revista Exercise and Sports Review.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação