INOVAÇÃO

Cientistas querem desenvolver "torpedos digitais" com conotação afetiva

Cientistas desenvolvem dispositivos que ajudam na expressão de emoções, o que poderá melhorar a qualidade das comunicações digitais. Há ainda a expetativa de que essas máquinas sejam instrumentos de bem-estar para os usuários

Vilhena Soares
postado em 21/03/2022 06:00
 (crédito:  Universidade de Tsukuba/Divulgação)
(crédito: Universidade de Tsukuba/Divulgação)

Além de auxiliar em tarefas industriais diversas, como confecção de roupas e montagem de carros, os robôs poderão ser usados para dar apoio e segurança emocional aos humanos. Há em desenvolvimento um dispositivo eletrônico que transmite emoções de acordo com o conteúdo de mensagens de texto trocadas e máquinas capazes de replicar a sensação de um abraço. A expectativa dos criadores é de que as invenções melhorem as interações interpessoais digitais e funcionem como instrumentos que ajudem a reduzir sintomas de estresse e ansiedade.

Foco de uma das soluções tecnológicas em desenvolvimento, as mensagens de texto se tornaram a forma de comunicação favorita da atualidade, desbancando as ligações telefônicas pela rapidez e pela facilidade de uso. Apesar dessas vantagens, esse tipo de troca de informações tem problemas. É desprovido de emoções, por exemplo, o que pode gerar ruídos interpretativos.

Para driblar esses transtornos, pesquisadores do Japão trabalham no desenvolvimento de uma máquina capaz de entregar "torpedos" digitais providos de conotação emotiva. "O nosso robô mediador foi projetado para evitar uma falha comum, que é uma conotação de raiva que se torna presente na maioria das mensagens, e, assim, suprimir uma possível negatividade dos usuários", afirma, em comunicado, Fumihide Tanaka, professor da Universidade de Tsukuba e um dos autores do estudo.

O dispositivo portátil, batizado de OMOY, funciona por meio de um programa de inteligência artificial. Seu software faz com que ele consiga avaliar a natureza das mensagens de texto recebidas pelo usuário do telefone e, em seguida, leia o conteúdo em voz alta e de forma menos agressiva.

Alertas

O robô também indica ao dono a melhor forma de agir caso o teor da mensagem escrita não seja totalmente amigável. "Um texto com notícias indesejadas ou frustrantes poderia ser seguido de uma exortação de OMOY para não gerar aborrecimento ao usuário", detalham os criadores da solução tecnológica, apresentada na revista especializada Frontiers in Robotics and AI.

Em testes com 94 voluntários, que usaram o dispositivo para ouvir frases como "Desculpe, estou atrasado", "A nomeação escapou da minha mente" e "Você pode esperar mais uma hora?", o robô conseguiu transmitir as mensagens aos voluntários sem despertar emoções negativas. "Os testes também mostraram que nosso robô mediador pode transmitir uma mensagem frustrante seguida de sua opinião. Isso auxiliou o usuário a se acalmar, evitando, assim, sentimentos de raiva", revela Tanaka.

A tecnologia tem um design diferente, sem componentes externos que ajudam a montar a imagem de um robô tradicional, como braços e pernas. A escolha pelo formato enxuto tem como razão facilitar o transporte da tecnologia. A equipe também acredita que esses elementos extras poderiam gerar falhas de interpretação da mensagem recebida, já que movimentos intensos de braços estão relacionados a emoções negativas, por exemplo.

Bruno Luis Soares de Lima, coordenador do curso de engenharia elétrica da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, destaca que a tecnologia japonesa segue uma nova tendência. "A interação entre homens e máquinas sempre foi um desafio, mas, nos últimos anos, temos mais ferramentas que tornam essa relação um pouco mais fácil, como aplicativos de celulares e videogames cada dia mais interativos, o que faz esse convívio mais simples e agradável", diz. "Esse robô cumpre a tarefa de dar uma experiência mais emotiva a nossa relação com as máquinas, algo que tem um peso grande para o cotidiano. Vimos isso principalmente durante a pandemia."

Para o professor, o design de OMOY também merece destaque. "É interessante que os especialistas criaram um acessório pequeno e portátil. Eles não incluíram seu programa de inteligência artificial em celulares, o que também poderia ter acontecido", justifica. Lima acredita que outros dispositivos semelhantes surgirão nos próximos anos. "É um caminho que deve ser seguido. Temos visto também muitos estudos de robôs que imitam animais, e acredito que, em pouco tempo, teremos a possibilidade de ter pets eletrônicos", aposta.

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