Pandemia

Estudo indica que ter gripe com covid dobra o risco de morte

Pacientes com quadro de coinfecção também são quatro vezes mais propensos ao uso de suporte respiratório, mostra estudo britânico

Correio Braziliense
postado em 26/03/2022 06:00
 (crédito: Niklas Halle'n/AFP)
(crédito: Niklas Halle'n/AFP)

Adultos hospitalizados com covid-19 e gripe ao mesmo tempo correm um risco significativamente maior de serem acometidos por complicações graves e morrerem, em comparação com pessoas com apenas um tipo de infecção viral, segundo um estudo publicado na revista The Lancet. A pesquisa mostrou que pacientes com coinfecção de Sars-CoV-2 e influenza são quatro vezes mais propensos a necessitar de suporte ventilatório e têm mortalidade 2,4 vezes maior.

Os pesquisadores dizem que as descobertas mostram a necessidade de mais testes de gripe em pacientes hospitalizados em razão da covid-19 e destacam a importância da vacinação completa contra o Sars-CoV-2 e o vírus da influenza. A equipe, das universidades de Edimburgo, Liverpool, Leiden e do Imperial College London, todas no Reino Unido, chegou a essas conclusões em um estudo com mais de 305 mil pessoas.

Os pesquisadores analisaram os dados de adultos que foram hospitalizados com covid-19 no Reino Unido entre 6 de fevereiro de 2020 e 8 de dezembro de 2021. Os resultados dos testes para coinfecções virais respiratórias foram positivos para 6.965 pacientes infectados pelo Sars-CoV-2. Cerca de 227 deles também tinham o vírus da gripe e tiveram prognósticos significativamente mais graves.

"Nos últimos dois anos, testemunhamos frequentemente pacientes com covid-19 ficarem gravemente doentes, às vezes levando a uma admissão na unidade de terapia intensiva (UTI) e ao emprego de um ventilador artificial para ajudar na respiração", relata Maaike Swets, estudante de doutorado da Universidade de Edimburgo e da Universidade de Leiden. "Já se sabia que uma infecção por influenza poderia dar origem a uma situação semelhante, mas pouco se entendia sobre os resultados de uma dupla infecção de Sars-CoV-2 e outros vírus respiratórios."

Novos protocolos

Segundo Kenneth Baillie, professor de medicina experimental da Universidade de Edimburgo, a descoberta é importante particularmente neste momento, quando muitos países diminuíram o uso de medidas de distanciamento e contenção social. "Esperamos que a covid-19 circule com a gripe, aumentando o risco de coinfecções. É por isso que devemos mudar nossa estratégia de teste para pacientes com covid-19 e testá-los para gripe de forma muito mais ampla", argumenta.

Calum Semple, professor de medicina de surtos e saúde infantil da Universidade de Liverpool, lembra que está havendo um aumento na circulação dos vírus respiratórios sazonais habituais à medida que as pessoas voltam ao estilo de vida anterior à pandemia. "Portanto, podemos esperar que a gripe circule ao lado da covid-19. Ficamos surpresos que o risco de morte mais que dobrou quando as pessoas foram infectadas pelos vírus da gripe e da covid-19. Agora, é muito importante que as pessoas sejam totalmente vacinadas e reforçadas contra ambos os vírus."

Professor de medicina experimental do Imperial College London, Peter Openshaw afirma que ser infectado com mais de um vírus não é muito comum. "Mas é importante estar ciente de que as coinfecções acontecem", enfatiza. O especialista lembra que as vacinas que protegem contra a covid-19 e a gripe são diferentes, e as pessoas precisam de ambas. "A maneira como essas duas infecções são tratadas também é diferente. Por isso, é importante testar outros vírus, mesmo quando você tem um diagnóstico em alguém que está hospitalizado com uma infecção respiratória."

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Antirretroviral pode ter efeito protetivo

Um estudo preliminar que será apresentado no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ECCMID) em Lisboa, de 23 a 26 de abril, sugere que pessoas com HIV que estão em tratamento antirretroviral (ART) com inibidores de protease (IP) podem ter um risco menor de infecção por covid-19. A pesquisa é de autoria de Steve Nguala, do Centro Hospitalar Intercomunal de Villeneuve-Saint-Georges e do Hospital Geral de Melun, na França. Seus resultados indicam que medicamentos do tipo teriam potencial de proteger contra o Sars-CoV-2, mas os autores ressaltam que ainda é cedo para tomar as descobertas como evidência conclusiva.

A terapia antirretroviral para pacientes com HIV foi proposta como fator protetor contra a síndrome respiratória aguda grave (Sars) em 2003, mas o pequeno número de casos não permitiu conclusões. Os inibidores de protease, uma classe de medicamentos antivirais, funcionam bloqueando uma enzima crítica, chamada protease, usada por patógenos para se replicar e infectar mais células.

Nguala e colegas realizaram um estudo em seis hospitais em Ile-de-France para avaliar o impacto do uso prolongado de IP em pacientes com HIV na incidência de covid-19. Entre 1º de maio de 2020 e 31 de maio de 2021, eles inscreveram 169 soropositivos que foram tratados com os inibidores de protease e 338 pacientes com HIV tratados sem inibidores de protease no coquetel. Nenhum dos participantes havia sido diagnosticado anteriormente com infecção por Sars-CoV-2.

Ao longo de um ano de acompanhamento, 12% dos participantes que tomaram IPs e 22% dos que não receberam IP contraíram covid. Após o ajuste para fatores relacionados ao aumento do risco — incluindo sexo, idade, contagem de células CD4, número de pessoas que moram na casa e contato com um caso positivo —, os pesquisadores descobriram que os pacientes do grupo de inibidores de protease foram 70% menos propensos a se infectar, em comparação com os outros. "Mais estudos com um número maior de pacientes e em ensaios randomizados em pessoas sem HIV são necessários para confirmar esses resultados preliminares. O desafio será produzir dados robustos em um período limitado que possam inspirar novas estratégias de prevenção ou terapêuticas", disse Ngula.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação