O setor de agropecuária e uso da terra responde por um terço do aquecimento global, porque florestas são derrubadas para plantio e pastagens, liberando, na atmosfera, o estoque de carbono armazenado pelas árvores. Além disso, o gado é produtor de gás de efeito estufa. Um estudo publicado na revista Nature aponta que parte da solução está na biotecnologia. Segundo a pesquisa, ao substituir 20% do consumo individual de carne por um tipo de proteína produzida por micróbios, como fungos de fermentação, é possível evitar 50% do desmatamento.
"A substituição da carne de ruminantes por proteína microbiana, no futuro, pode reduzir consideravelmente a pegada de gases de efeito estufa do sistema alimentar", disse, em comunicado, Florian Humpenöder, principal autor do estudo e pesquisador do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK). "A boa notícia é que as pessoas não precisam ter medo de comer apenas verduras no futuro. Eles podem continuar comendo hambúrgueres e afins, só que esses hambúrgueres serão produzidos de uma maneira diferente."
A proteína microbiana é produzida em culturas específicas, assim como cerveja ou pão. Os micróbios vivem de açúcar e a uma temperatura constante, obtendo um produto muito rico em proteínas que pode ter gosto, sensação e ser tão nutritivo quanto a carne vermelha, afirmam os autores. Com base no método secular de fermentação, foi desenvolvido na década de 1980. A agência sanitária dos EUA, Food and Drug Administration (FDA), determinou, em 2002, que a micoproteína é segura.
Simulação
A equipe de pesquisadores da Alemanha e da Suécia incluiu a proteína microbiana em um modelo de simulação computacional para detectar os efeitos ambientais no contexto de todo o sistema alimentar e agrícola. Os cenários vão até 2050 e levam em conta o crescimento futuro da população, os padrões alimentares, e dinâmica do uso da terra. Como o consumo de carne provavelmente continuará aumentando, mais florestas e vegetação natural podem estar fadadas à extinção para dar lugar a pastagens e terras agrícolas, afirma Humpenöder.
O cenário, porém, pode mudar. "Descobrimos que, se substituíssemos 20% da carne de ruminantes per capita até 2050, o desmatamento anual e as emissões de CO2 decorrentes da mudança no uso da terra seriam reduzidos pela metade em comparação com um cenário de negócios usual (o modelo atual de desenvolvimento)", diz o pesquisador. "Menos gado não apenas reduz a pressão sobre a terra, mas também as emissões de metano do rúmen do rebanho, além das emissões de óxido nitroso da fertilização da ração ou do manejo de esterco. Então, substituir carne vermelha por proteína microbiana seria um ótimo começo para reduzir os impactos prejudiciais da produção de carne bovina atual."
"Qualquer redução no consumo de carne de ruminantes trará benefícios ambientais, éticos e para a saúde humana", comenta Tilly Collins, do Centro de Políticas Ambientais do Imperial College de Londres. "Não há dúvida de que a eficiência das alternativas fornecidas pela biotecnologia oferece um enorme potencial futuro para a obtenção mais sustentável de alimentos mais sustentável", diz. Segundo Collins, "governos e as empresas de produção de alimentos precisam se coordenar para desenvolver padrões apropriados e, portanto, a confiança pública futura" nessas novas tecnologias. (PO)
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