MATERNIDADE

Campanha Maio Furta-Cor fomenta ações em prol da saúde mental materna

A campanha tem o objetivo de ampliar a visibilidade e a consciência sobre a saúde mental materna; saiba como participar da programação de eventos

Jéssica Andrade
postado em 05/05/2022 16:58 / atualizado em 05/05/2022 19:33
A psicóloga parental Camila Barros é uma das representantes do Maio Furta-Cor em Brasília -  (crédito: Camila de Magalhães - Acolhendo o Puerpério/Divulgação)
A psicóloga parental Camila Barros é uma das representantes do Maio Furta-Cor em Brasília - (crédito: Camila de Magalhães - Acolhendo o Puerpério/Divulgação)

No mês das mães, uma iniciativa busca sensibilizar a sociedade em relação à saúde mental materna. A campanha Maio Furta-Cor tem o objetivo de ampliar a visibilidade e a consciência sobre o tema e fomentar discussões em torno desse assunto e dos aspectos que envolvem os crescentes índices de depressão, ansiedade, esgotamento e até suicídio após a maternidade.

De acordo com a psicóloga perinatal e representante do Maio Furta-Cor em Brasília, Camila Barros, atualmente existem inúmeros exames em termos de saúde física na pós-gestação. A saúde mental, no entanto, ainda é um tabu, especialmente no que se refere às mães.

Segundo ela, por ser um assunto envolto em preconceitos infundados, as mães acabam sofrendo sozinhas. Sem ajuda, encontram dificuldades em serem diagnosticadas ou receberem tratamento adequado. "Com a campanha, queremos dar voz e lugar a essas mulheres que estão sofrendo, para que busquem ajuda e façam seus tratamentos para que estejam inteiras para as crianças", explica Camila Barros.

A psicóloga destaca ainda que o ciclo que vai da gravidez até o puerpério (período que compreende desde o nascimento e, segundo estudos recentes, pode se estender até os 3 anos de vida da criança) é o de maior vulnerabilidade para a saúde mental da mulher, o que a inclui no grupo de risco para adoecimentos mentais. “Inclusive para o suicídio, que é a primeira causa de morte materna até o primeiro ano após o parto, superando as mortes por hemorragia”, destaca a profissional.

"Isso é um dado assustador, a que as pessoas infelizmente não têm muito acesso nem no pré-natal, muito menos no pós-parto. É fundamental que se fale sobre isso para que a gente ajude a preservar vidas femininas. Detectando esse tipo de adoecimento o mais cedo possível, facilita o tratamento, é possível preservar as relações com o próprio filho, com familiares e o bem de toda a sociedade, até nas relações de trabalho."

Camila Barros alerta ainda para a alta incidência de adoecimentos como depressão e ansiedade no Brasil e a falta de diagnóstico e tratamento adequado para mulheres.

“A depressão perinatal, por exemplo, atinge 25% de mulheres. Já a ansiedade atinge 19% das mulheres até o primeiro ano de vida do bebê. Sabe-se que o risco de suicídio em puérperas aumenta em 70 vezes quando comparado ao restante da população, sendo a principal causa de morte materna direta no pós-parto (até o primeiro ano após o parto)”, destaca Barros.

Nesse sentido, nasce um dos slogans da campanha: "Só é possível mudar o mundo cuidando de quem cuida de todo mundo". O Maio Furta-cor também chama atenção para a solidão na maternidade, que torna essa fase da vida da mulher ainda mais sensível, e convida a sociedade a se importar e apoiar uma mãe. "Maternar é coletivo", prega o projeto.

Sobre o Maio Furta-Cor

A campanha acontece em todo o país e busca parceiros para promover palestras, rodas de conversa, entrevistas, lives, marchas, caminhadas, "mamaços", rodas de dança mãe-bebê e ações gratuitas ao longo de todo o mês de maio, visando alcançar pessoas nos mais variados espaços.

Nicole Cristino, psicóloga clínica e perinatal, e Patrícia Piper, médica psiquiatra e psicoterapeuta com atuação na perinatalidade, criaram o Maio Furta-cor em 2021, com o objetivo de "mudar o forte estigma social em torno de temas ligados à saúde emocional de mulheres".
Nicole Cristino, psicóloga clínica e perinatal, e Patrícia Piper, médica psiquiatra e psicoterapeuta com atuação na perinatalidade, criaram o Maio Furta-cor em 2021, com o objetivo de "mudar o forte estigma social em torno de temas ligados à saúde emocional de mulheres". (foto: Maio Furta-Cor/Divulgação)

Nicole Cristino, psicóloga clínica e perinatal, e Patrícia Piper, médica psiquiatra e psicoterapeuta com atuação na perinatalidade, criaram o Maio Furta-cor em 2021, com o objetivo de “mudar o forte estigma social em torno de temas ligados à saúde emocional de mulheres”.

“Quando se estende ao campo materno, esse estigma é ainda mais reforçado. Por outro lado, observa-se um alarmante crescimento dos casos de depressão, ansiedade e suicídio entre as mães”, alertam as idealizadoras.

A escolha do furta-cor se deu por ser uma tonalidade que se altera de acordo com a luz que recebe, não havendo uma cor absoluta para aquele que lança o olhar. No espectro da maternidade, não é diferente. Nele, cabem todas as cores.

Programação

Em Brasília, diversas profissionais e empresas já aderiram à causa e estão montando uma programação extensa, que inclui um encontro de mães, no dia 15 de maio (domingo), às 9h, Eixão Sul, altura da 108 Sul, com aula gratuita de yoga. O encontro ocorrerá simultaneamente em todo o país.

Confira a programação completa:

Das 9h às 12h: Pintura de amamentação e arte gestacional com Amanda Andrade, Marlene Rocha, Sabrina Zanichelli, Thainá Rodrigues e Aline França.

  • Bate-papos online: Todas as quintas-feiras de maio, o perfil do Instagram da Acolhendo o Puerpério (@acolhendo_puerperio). Por meio de lives, as profissionais vão debater sobre assuntos que envolvem a saúde mental materna, com a psicóloga Camila Barros e a doula pós-parto e consultora de amamentação Aline França.
  • Vivências de dança terapêutica: Dance Mãe e Bebê: dias 24 e 31/5, às 16h, no Parque Olhos d’água, Asa Norte, realizado por Rosa Almeida e Nissa Maiara
    portal.dacor e @nissa_maiara

 

  • Roda de apoio e acolhimento ao pós-parto: 7/5 (sábado), às 10h, no CCBB. Realizada pela Rede Amamente;

 

  • Escutaço de Mães: 14/5, das 9h às 12h, no Parque de Águas Claras. Organizado por Isabela Parente Quadrelli.

 

  • Plantão psicológico: Todas as terças-feiras de maio, pela manhã e à tarde, haverá escuta a mães no consultório da Ciranda Maternidades, oferecido pelas psicólogas Clarissa Cabral e Nara Vieira. Agendamento via direct no Instagram e também pelo WhatsApp (61) 98131-1024.
  • Atendimentos psicológicos: On-line, gratuitos, para mães durante o mês de maio, às segundas e sextas pela manhã. Com a psicóloga Joice Joy. Agendamento via direct no Instagram @joicejoypsi e no WhatsApp (61) 98138-7452.
  • Psicoterapia em grupo para mães: O Instituto Rita Rocha oferecerá 20 vagas para um grupo terapêutico online, para mães de pré-adolescentes, adolescentes e jovens. Serão 12 encontros, sendo um por semana, com duração de 60 minutos, a partir do dia 14 de junho, nas terças-feiras, sempre às 20h. Conduzido pela psicóloga Rita Rocha. Agendamento pelo Whatsapp: (61) 98466-4528.

Projetos de Lei

A campanha Maio Furta-Cor inspirou a redação de dois Projetos de Leis (PLs) que tramitam na Câmara Legislativa dos Distrito Federal, ambos de autoria da deputada distrital Arlete Sampaio (PT-DF).

"Temas como saúde mental e maternidade ainda são bastante estigmatizados. Transformar o mês de maio em um mês de luta em defesa da saúde mental das mães é importante para sensibilizar a sociedade para essa causa", afirma a parlamentar. 

O PL nº 2721/2022 pretende garantir à gestante avaliação psicológica com o intuito de se detectar a propensão ao desenvolvimento de depressão pós-parto, durante a realização do pré-natal. Casa haja fatores de risco, a paciente deve ser imediatamente encaminhadas para aconselhamento e psicoterapia.

Segundo o texto, toda mulher puérpera também deverá ser submetida à avaliação psicológica, antes do recebimento da alta hospitalar. Da mesma forma, as puérperas que apresentarem indícios de depressão pósparto deverão ser imediatamente encaminhadas para acompanhamento adequado, de acordo com as normas regulamentadoras.

Já o Projeto de Lei n ª2726/2022 pretende incluir no calendário oficial de eventos do Distrito Federal, o mês Maio Furta-Cor, dedicado às ações de conscientização, incentivo ao cuidado e promoção da Saúde Mental Materna no âmbito do Distrito Federal.

Se aprovado, a Secretaria de Estado de Saúde poderá organizar debates, palestras, cursos, oficinas, seminários, distribuição de material informativo, dentre outras ações, sobre o tema, sempre priorizando:

  • a conscientização da população sobre a importância da saúde mental materna;
  • o incentivo aos órgãos da administração Pública, empresas, entidades de classe e à sociedade civil organizada para se engajar nas campanhas sobre o tema;
  • as atividades poderão ser em parcerias com outros órgãos do Distrito Federal, setores da iniciativa privada, sociedade civil organizada e organizações não governamentais legalmente constituídas;
  • divulgação das ações concernentes de conscientização, incentivo ao cuidado e promoção da Saúde Mental Materna sejam divulgadas em toda a rede de saúde do Distrito Federal.



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