SAÚDE

Obesidade é fator de risco para câncer de próstata

Estudo com mais de 2,5 milhões de homens constatou que obesidade é um fator de risco importante para a forma letal da doença que, no Brasil, mata 15,8 mil por ano. Excesso de peso, segundo pesquisas, eleva o risco de 14 tipos de tumores

A associação entre obesidade e câncer já foi bem estabelecida e, segundo estudos, o excesso de peso aumenta o risco de, ao menos, 14 tipos da doença. Os mais comuns são os que afetam mulheres, como mama, endométrio e útero, ou os localizados no sistema digestivo. Agora, pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, afirmam que a adiposidade tem relação direta com um tipo de tumor de próstata letal. A pesquisa foi apresentada no Congresso Europeu sobre Obesidade (ECO), na Holanda, e publicada na revista BMC Medicine.

Globalmente, o câncer de próstata é um dos mais comuns entre homens. No Brasil, perde apenas para o de pele não-melanoma. Segundo o levantamento mais recente do Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2020, correspondia a 29,2% dos tumores no sexo masculino, com 65.840 novos casos. Embora muitos sejam de crescimento lento, sem provocar maiores danos à saúde ao longo da vida, outros são letais e menos associados aos fatores de risco comuns, como genética, idade e hábitos alimentares. As estatísticas nacionais indicam 15,8 mil mortes anuais pela doença.

Os autores do estudo explicam que pesquisas anteriores sugeriram que a gordura corporal é um fator de risco para o câncer de próstata letal, especialmente quando a adiposidade está localizada ao redor da barriga e da cintura. Porém, o pequeno número de casos incluído em cada um desses levantamentos dificulta uma conclusão mais certeira. Por isso, os cientistas da Unidade de Epidemiologia do Câncer da Universidade de Oxford realizaram uma meta-análise de 19 artigos, incluindo dados de 2,5 milhões de homens. Também entrou um conjunto de dados inédito, relativo a 200 mil participantes.

Os estudos que fazem parte da meta-análise eram prospectivos: no início, nenhum participante tinha câncer de próstata e foram acompanhados por muitos anos, com registro do número de mortes pela doença entre a população avaliada. Maiores quantidades de gordura corporal (adiposidade) foram associadas ao risco aumentado do tipo letal do tumor. Cada 10cm na cintura eleva essa probabilidade em 7%, diz o artigo.

"Saber mais sobre os fatores que aumentam o risco de câncer de próstata é fundamental para preveni-lo", disse, em nota, Aurora Perez-Cornago, que liderou a meta-análise. A pesquisadora observa que idade, histórico familiar e ser negro são fatores de risco conhecidos, porém, imutáveis. "Por isso, é importante descobrir aqueles que possam ser alterados. Cada aumento de cinco pontos no IMC eleva a chance de morrer pela doença em 10%, enquanto um acréscimo de 5% no percentual de gordura corporal total acrescenta 3%.

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Diagnóstico

Em relação à adiposidade central (entre a cintura e a barriga), cada aumento de 0,05 na proporção cintura-quadril aumentou o risco de câncer de próstata letal em 6%. Os pesquisadores também calcularam que haveria cerca de 1,3 mil menos mortes pela doença no Reino Unido, onde fica a Universidade de Oxford, se o IMC médio dos homens fosse cinco pontos menor.

Não está claro o que está por trás da associação, diz Perez-Cornago. Vários mecanismos biológicos têm sido propostos. É possível, no entanto, que as diferenças na detecção também desempenhem um papel. A doença pode ser mais difícil de se diagnosticar em homens com obesidade, fazendo com que seja identificada tardiamente, quando as chances de cura são menores. "Mais pesquisas são necessárias para determinar se a associação é biologicamente motivada ou devido a atrasos na detecção em homens com maior adiposidade. Em ambos os casos, nossos resultados recentes fornecem outra razão para os homens tentarem manter um peso saudável."

O oncologista Paulo Lages, do grupo Oncoclínicas de Brasília, lembra que a obesidade é uma doença multissistêmica, representando um risco para várias patologias, como cardiovasculares, endocrinológicas e até mesmo neurológicas. "Esse paciente tende a ter hipertensão, doença vascular, tende a ter mais placas no corpo, e isso tudo predispõe, também, a outras doenças, inclusive o câncer", destaca.

Ele explica que pessoas com obesidade apresentam resistência à insulina, uma importante substância que o organismo precisa para enviar glicose para as células. Quando há excesso de peso, é necessária uma quantidade maior deste hormônio. "Alguns estudos mostram que existe um fator tumoral, o fator de crescimento derivado da insulina, que pode ser um precursor, um estimulador de células tumorais. Muito provavelmente esse paciente obeso tem um risco tumoral aumentado devido à resistência à insulina", diz.

Lages lembra que a grande maioria dos tumores de próstata não leva à morte do paciente. "O letal é aquele mais agressivo, intimamente relacionado a mutações específicas. Até hoje, não se sabe de uma associação com a obesidade. O que se sabe é que o paciente que é obeso, por ter outras doenças, invariavelmente morre mais, porque já tem o organismo doente. Por conta disso, o risco de ele morrer de câncer de próstata é muito maior que um paciente que não é obeso", acredita. 

Em janeiro, um estudo da Universidade de Bergen, na Noruega, demonstrou que os lipídios associados à obesidade tornam as células cancerígenas mais agressivas e propensas a formar diversos tipos de tumores. "Mesmo na ausência de novas mutações genéticas, a obesidade aumenta o risco de formação de vários cânceres", disse o principal autor, Nils Halberg. 

Adolescentes querem perder peso

Uma nova pesquisa com dados de 10 países apresentada no Congresso Europeu de Obesidade mostra que quase um quarto dos adolescentes que vivem com obesidade (24%) não sabe que têm esta condição. No entanto, a maioria deles (85%) está preocupada com o impacto do peso na saúde futura. Muitos afirmaram que lutam para conversar até mesmo com os mais próximos sobre o assunto.

Os dados vêm do estudo global realizado na Austrália, Colômbia, Itália, México, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Espanha, Taiwan, Turquia e Reino Unido e baseiam-se em entrevistas com 5.275 pessoas com obesidade de 12 a 18 anos, 5.389 cuidadores e 2.323 profissionais de saúde.

A maioria dos participantes achava que a obesidade, era pelo menos, tão ou mais impactante do que doenças cardíacas, câncer ou diabetes, entre outras condições.

Confiança

Mais da metade (58%) dos adolescentes com obesidade tentou perder peso no ano passado, e 75% afirmaram que, possivelmente, tentarão emagrecer nos próximos seis meses. As motivações para a mudança foram querer estar mais em forma (40%), não estar feliz com seu peso (37%) e querer se sentir mais confiante (35%). As três principais barreiras para perder para tanto foram não conseguir controlar a fome (38%), falta de motivação (34%) e gostar de comer alimentos não saudáveis (32%).

O estudo também destaca os sentimentos de isolamento relatados pelos jovens. Um em cada três achava que não podia falar com nenhum dos pais sobre seu peso; cerca de um em cada três conseguia falar com o médico, um quarto sentia que podia conversar com namorado ou namorada, com proporção semelhante (22%) disposto a discutir o assunto com um irmão.