SAÚDE

Cientistas espanhóis investigam nova estratégia para tratar a acne

Pesquisadores usam os próprios micróbios da pele para atacar as bactérias responsáveis pela formação da lesão. Elas são infectadas por vírus benéficos para o organismo humano, mas letais para os patógenos

Correio Braziliense
postado em 17/06/2022 06:00 / atualizado em 17/06/2022 06:09
 (crédito: UPS/Divulgação )
(crédito: UPS/Divulgação )

A bactéria Cutibacterium acnes (C.acnes) é a mais abundante da pele humana. Existem diferentes cepas desse micro-organismo; algumas predominam na derme saudável e outras estão associadas à temida acne, doença multifatorial comum em adolescentes, mas que pode acometer pessoas de qualquer idade. Em um estudo publicado na revista Plos Pathogens, cientistas da Universidade Pompeo Farma (UPF), em Barcelona, descrevem uma nova abordagem para eliminar cepas específicas de um patógeno associado a esse processo inflamatório, responsável pela obstrução das glândulas sebáceas.

O microbioma é composto pelos micro-organismos que vivem dentro e fora do corpo. Esta complexa comunidade habita principalmente a pele, a mucosa oral e o trato gastrointestinal. Cada pessoa tem uma composição única e vive em simbiose com ela. Especificamente, o microbioma da pele e da epiderme é composto por vários seres microscópicos, como bactérias, vírus e fungos. Quando o tecido está saudável, há um equilíbrio dessas espécies. Porém, no caso da acne, ocorre uma abundância de certas cepas, levando a um desequilíbrio conhecido como disbiose.

Segundo os pesquisadores espanhóis, o uso de medicamentos como antibióticos não é o ideal para lidar com a acne, pois acabam matando, além de diferentes cepas de C.acnes, outras bactérias da pele, levando à disbiose. Para resolver esse problema, a equipe tentou uma nova abordagem, que consiste em manipular o próprio microbioma para tratar a inflamação, sem provocar desequilíbrio.

A estratégia é baseada em um dos organismos encontrados no microbioma da pele: os bacteriófagos. Trata-se de vírus que infectam bactérias e podem ajudar a regulá-las. "Em nosso estudo, demonstramos que, por meio da chamada terapia bacteriófaga, é possível modular a composição de cepas de C.acnes ao longo do tempo. Podemos reduzir as cepas associadas à acne sem afetar as que têm características benéficas", explica Marc Güell, coordenador do estudo.

Estratégia

Para abordar essas cepas especificamente por meio de bacteriófagos, os cientistas focaram em um mecanismo que as bactérias têm para impedir que sejam infectadas. Porém, só as cepas benéficas apresentam esse sistema de defesa. "Usamos bacteriófagos específicos para atacar cepas patogênicas, que são as que não possuem essa estratégia. As cepas benéficas têm esse sistema defensivo contra os bacteriófagos, portanto, ficam protegidas contra a infecção", explica Nastassia Knödlseder , primeira autora do artigo.

Quanto a aplicações futuras, Nastassia Knödlseder explica: "Poderíamos, por exemplo, usar bacteriófagos para 'limpar' algumas das cepas existentes que habitam a pele. Isso nos permitiria ter mais espaço disponível para incorporar melhor as novas bactérias benéficas", diz. "Este trabalho pode nos ajudar a modular o microbioma de forma mais eficiente, tanto para eliminar cepas indesejadas quanto para facilitar a introdução de novas terapias", conclui.

 


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Microbiota influencia parto

 (crédito: JORGE DAN LOPEZ)
crédito: JORGE DAN LOPEZ

Globalmente, as complicações do parto prematuro são a principal causa de morte de crianças com menos de 5 anos. Pesquisas recentes sugerem que o microbioma vaginal, que desempenha um papel importante na saúde reprodutiva da mulher, pode influenciar esses desfechos. Agora, um artigo publicado na mSystems, revista da Sociedade Norte-Americana de Microbiologia, apoia essa ideia.

Depois de analisar dados de um grande estudo sobre gestantes no estado da Carolina do Norte, os pesquisadores descobriram que as participantes com abundância de Lactobacillus crispatus eram menos propensas a ter um parto prematuro. Os cientistas também estratificaram as descobertas por etnia e encontraram evidências do efeito protetor do micro-organismo em populações brancas e negras.

Proteção

A ordem Lactobacillus é comum no microbioma vaginal, mas as espécies específicas que dominam o órgão podem afetar a probabilidade de se ter um parto precoce, disse a microbiologista e principal autora, Shan Sun, da Universidade da Carolina do Norte Charlotte (UNCC). "Algumas espécies são mais ou menos protetoras. Mas, no estudo, quando o microbioma vaginal era dominado por espécies de L.crispatus, o nascimento prematuro era 40% menos provável". Sun e os colegas também detectaram menor abundância da espécie e maior quantidade de outro micro-organismo no bioma vaginal das mulheres negras: o L.iners.

Para os pesquisadores, essa pode ser uma das explicações para o fato de, nos Estados Unidos, partos prematuros representarem 10% dos nascimentos no caso das brancas, e 14% das negras. No Brasil, de acordo com o Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), a realidade é a mesma.

No microbioma intestinal, uma maior diversidade é frequentemente associada a uma melhor saúde. Mas o oposto ocorre no ambiente vaginal, diz o cientista de bioinformática Anthony Fodor, da UNCC. "Maior diversidade pode atenuar os efeitos protetores de L.crispatus em mulheres negras'', disse, mas são necessárias mais evidências para investigar a hipótese.

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